Como tem sido hábito em Fernando Santos, as convocatórias da Selecção Nacional deixaram de ser sinónimo de gritaria em redes sociais, contestação nos jornais e lenha para queimar nos habituais programas desportivos. O Engenheiro do Euro é um homem inteligente e rapidamente percebeu que mais que as suas qualidade como técnico, o importante era criar um grupo coeso, fazer a renovação em algumas posições e alterar o esquema para algo que nos desse mais garantias (o chamado esquema Rui Jorge). E também parou com a parvoíce de jogar olhos nos olhos “contra quem seja” tendo como referência ofensiva o Hélder Postiga.
E portanto, dentro de algumas interrogações que colocamos de vez em quando, tudo é mais ou menos consensual e o clima positivo gerado pela grande conquista vai-se perpetuando.

Uma das chamadas mais recentes, e que mais aplaudo, é a inclusão definitiva de Gelson Martins nos 23 eleitos, fruto de uma excelente temporada de afirmação que tem vindo a fazer. Isto em ano de Euro sub21, e sabendo Gelson poderia ser peça importante nos mais jovens, mas existe a coragem de o colocar onde merece: entre os melhores.

Foi incrível ao serviço dos sub20, importante no apuramento dos sub21 e, agora, será uma verdadeira arma no que nos falta até ter carimbado o passaporte para a Rússia em 2018. Um apuramento complicado, uma vez que o primeiro lugar é obrigatório, e em que precisamos dos fantasistas como Gelson.

Portugal é um país de extremos. Melhores ou piores, passou muito por estas posições o sucesso que fomos conseguindo, mesmo representando um país de apenas 10 milhões de pessoas. Ultimamente, fruto das adaptações em clubes e equipas nacionais, falta de afirmação ou simples má sorte, tem faltado esse ingrediente nas convocatórias, até porque Portugal abandonou esse jogador e passou a jogar com dois interiores nas alas. Não será de estranhar ver um meio-campo composto por William, Adrien, João Mário (Pizzi) e Bernardo Silva (André Gomes) durante praticamente todos os jogos, servindo Cristiano Ronaldo, Nani ou André Silva. Foi assim que vencemos o primeiro título e é este o método que nos permitiu sofrer poucos golos na última qualificação.

Mas o futebol é espectáculo e existem artistas que nasceram para o fazer. As gazelas da bola, que encantam no um para um, que deixam as amarras tácticas para inventar e que nos fazem levantar da cadeira para aplaudir uma finta. Os homens que nos fazem pagar um bilhete para entrar no estádio. E deixem lá a conversa de decisão, enquadramento defensivo, finalização ou o que quiserem. Ver Gelson jogar à bola é um hino ao futebol e terá todo o tempo do mundo para deixar de ser CR28 e se transformar em CR7.

Gelson é a pérola mais especial desta nova fase de Portugal. Porque oferece algo que Ronaldo, Nani e Quaresma já não conseguem, porque tem recursos que Bernardo Silva e João Mário, os dois craques que elevarão Portugal, nem sonham conseguir ter. Porque é sinónimo de velocidade, raça e fantasia, algo arredado da camisola das Quinas desde há um tempo para cá. E nada disto significa que seja melhor que os jogadores com que já contávamos, apenas muito diferente. Só um louco não contaria com um jogador que faz isto ao melhor central francês da actualidade. Que enfrenta sem medos qualquer rival, com todas as consequências que disso podem chegar.

Gelson Martins é, como um dia disse uma publicação espanhola, o Garrincha português que marca a entrada de uma nova geração na selecção principal. Que tenha toda a concorrência do mundo muito em breve.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa