ruiiiRui era avançado e canhoto no Sport Clube Leiria e Marrazes, o clube da terra, onde o pai e os seis tios Patrícios foram futebolistas. Certo dia o guarda-redes titular do Marrazes amuou e o treinador olhou para o “matulão” e disse: “Vais tu à baliza.” Meses depois, após jogar um torneiro em Pataias, Carvalho, uma das maiores referências das redes leoninas e homem da terra, fez chegar um relatório ao Sporting com a seguinte mensagem: “O Rui é para contratar.”

Mas a família Patrício era benfiquista e ao início torceu o nariz. Até que Paulo Silva, o treinador dele no Marrazes, convenceu a família a deixá-lo pelo menos treinar com os leões. E assim foi. Andou um ano inteiro a ir e vir entre Leiria e Lisboa. Treinava duas vezes no Sporting, três no Marrazes e ao fim de semana defendia a baliza leonina. Depois, no ano 2000, mudou-se para a Academia de papel passado. O passe custou 1500 euros!

Chegou aos iniciados do Sporting com 13 anos e uns respeitáveis 1,80 metros. Pereirinha conheceu Patrício como adversário. “Ele estava no Sporting e eu no Belenenses e meses depois acabámos por ser companheiros pela seleção de Lisboa. Era já um gigante na baliza”, recorda o atual jogador do Paranaense, que viria a ser contratado pelos leões e partilhar o balneário com ele de 2003 até 2013. Ficaram amigos: “Nas seleções jovens fomos sempre colegas, e em grande parte delas colegas de quarto nos estágios.” Por isso as partidas eram frequentes, “nada de especial, só coisas para chatear e atrapalhar a vida um ao outros [risos]. Ele era (e é) muito introvertido”.

Em campo, Rui Patrício foi-se agigantando cada vez mais. “Pela sua maneira de ser, e até pela sua posição em campo, sempre foi uma pessoa quase imperturbável”, contou Pereirinha, dando o jogo de estreia dele, na Madeira, como exemplo: “Defendeu um penálti, foi um grande momento e um prenúncio da grande carreira que construiu.”

Foi a 19 de novembro de 2006, no Estádio dos Barreiros, diante do Marítimo. Patrício jamais se esquecerá do penálti que defendeu aos 74″, quando adivinhou o lado para onde Kanú ia bater. E Ricardo Peres, treinador dos guarda-redes leoninos na equipa técnica de Paulo Bento, lembra-se bem disso: “Quando o árbitro apitou e marcou penálti, eu estava por trás da baliza e, quando ia a começar a dar indicações, o Rui de forma rápida virou-se para trás e disse “mister vou defender”.” E defendeu. O Sporting ganhou 1-0 e a lenda na baliza foi crescendo.

Mas, apesar de a estreia ter sido auspiciosa, regressaria aos juniores e só na época seguinte (2007/08), quando Ricardo saiu para o Bétis e o substituto Stojkovic não convenceu Paulo Bento, o miúdo de 19 anos assumiu a baliza para não mais sair. Foi a 24 de novembro de 2007, na 11.ª jornada, frente ao Leixões. “Não tínhamos dúvidas quanto à sua integração no plantel ainda na idade júnior. A decisão de o colocar e manter a jogar foi consequência da sua performance, da sua capacidade de reagir aos momentos adversos e à sua vontade de aprender sempre mais, ainda hoje verificamos isso”, explicou Peres, que esteve nas maiores decisões da carreira do guardião que conheceu aos 17 anos, altura em que já dava para ver que “havia ali um guarda-redes de grande futuro”.

E hoje, além de ser número 1 da baliza do Sporting, é dono da baliza nacional e campeão da Europa de seleções. “A paixão pelo treino, a humildade e ritmo de aprendizagem, aliados à estabilidade familiar e à prática regular de Atma Kriya Yoga, com os ensinamentos do mestre Vishwananda, fazem do Rui um ser humano grandioso e um atleta exemplar no contexto futebolístico internacional”, elogia Peres, revelando a prática do yoga como o mais recente “segredo” do imperturbável Rui Patrício.

artigo publicado in Diário de Notícias