Bruno de Carvalho disse-o. Repetiu até várias vezes. O Sporting quer (e investiu para isso) títulos em várias modalidades e em vários escalões. A isto chama-se ambição e estrutura. Infelizmente ou felizmente o desporto não é só risonho aos que programam bem e investem na concordância.

Há factores não aleatórios, muitos, que têm muito peso nas decisões de quaisquer títulos. A inspiração do momento, a forma física individual e colectiva, a maturidade e mentalidade campeã. Há também alguns factores aleatórios: habituação ao piso/terreno de jogo, clima, incidências casuais da partida, arbitragem…toda uma série de elementos que ninguém controla e impossíveis de prever.

O Sporting e as suas várias equipas podem perder ou ganhar, mas não devem desistir. Mesmo que a aposta tenha sido avultada, mesmo que o discurso, tenha durante toda a época, sido focado na conquista de troféus e mesmo que as vitórias tenham parecido naturais e até expectáveis, o que não pode acontecer mesmo é acusar a desmotivação perante o insucesso.

Nem no futsal, nem no hóquei, no andebol ou futebol, em nenhum desporto devemos procurar bruxas e fantasmas, chorando raivas de autoflagelação, riscando nomes, decepando “perdedores” sem qualquer noção das consequências e proveitos futuros desses “tribunais” sumaríssimos. Isso não é evoluir. É apenas mandar o puzzle para o lixo quando não o conseguimos completar. A resistência e resiliência perante a frustração é o traço óbvio de ser um clube “grande”.

Se estivemos perto do sucesso, valerá muito mais a pena, construir em cima do “quase” tentando encontrar os danoninhos que faltaram. Soa bem, não é? Pois, mas quer acreditem ou não, identificar os erros e onde fomos menos eficazes que os adversários é muito mais difícil do que começar o puzzle de raiz. Principalmente porque é mais fácil a treinadores, directores e jogadores culpar todos os outros pelos seus deméritos. Principalmente porque os egos são o bloqueio mais ancestral à evolução desportiva de um atleta ou de uma equipa.

No Sporting, mais do que atribuir as culpas a estes ou aqueles jogadores, a estes ou aqueles treinadores, ao presidente ou aos chefes de secção, o que me deixaria mesmo orgulhoso e confiante era uma solidariedade total entre todos, mostrando uma firme vontade de melhorar, uma firme convicção no valor de todos em superar os obstáculos e na próxima oportunidade corrigir tudo o que pode ser corrigido.

“Não é como cais que define quem tu és, mas como te levantas”. Eu gostava que Nuno Dias e JJ se levantassem rápido e que procurassem o que faltou, o que pode ser melhorado, o que todos podem contribuir para não fazer de insucessos, hiatos e crateras de confiança, mas sim oportunidades de crescimento e superação.

A isto chama-se “estofo de campeão” e eu conheço muitos que o foram sem entender o que isto quer dizer. Mas esses são os que vencem ocasionalmente no desporto, mas não na vida e ao longo desta. Não são os que deixam marca e inspiração aos futuros campeões. São apenas nomes que passam e recebem, dando muito pouco de volta ao desporto e à sua própria memória.

Podemos cultivar dois tipos de comportamentos dentro do Sporting:
1) A obsessão pela vitória, ignorando os processos de crescimento de uma cultura saudável entre paixão e razão
2) Alimentar as equipas e os jogadores das ferramentas ideais para a superação – o orgulho individual, a auto-estima do atleta e uma identidade de grupo, sólida e alicerçada na capacidade de evoluir com os erros, aprender com os insucessos, somar valor e sobretudo honrar o emblema que estimula tudo isto.

Não tenho dúvidas que o desporto e todos os clubes caminham cada vez mais na esteira da primeira hipótese, mas entristece-me que tantas e tão inteligentes pessoas não descubram que a segunda traz mais sucessos, de forma muito mais consolidada, com uma capacidade de atracção de massas muito mais evidente.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca