Vamos já ao que interessa e que é a resposta à pergunta do título: o que estamos a assistir é uma situação conjuntural ou sintoma de um problema de fundo? Honestamente, não sei. Não sei mesmo e daí peço-vos ajuda para perceber o que não consigo, neste momento, alcançar.

Depois de 2 anos de recuperação desportiva e financeira, chegámos ao primeiro ano de JJ com a ideia que  coisa andava sobre rodas e que este seria o upgrade ideal para a conquista de títulos. O ano acabou com essa ideia reforçada, mesmo não tendo ganho o campeonato, o que originou um reforço de poderes e renovação do treinador que mais nos fez sonhar desde há muitos anos. Concordando ou não com esse reforço, para mim sempre foi entendível essa consequência. Se o tipo que fez 86 pontos e implementou um futebol muito superior ao dos rivais entendeu que precisava de mais, tinha de ser dado. O resultado está à vista de todos. Em vez de estar aqui a enumerar o que correu mal, prefiro olhar para o futuro e, basicamente, tentar responder à pergunta do post. O próximo defeso vai desfazer uma dúvida: se JJ veio para elevar o projecto para o futebol definido pelo Presidente ou se simplesmente veio para o substituir. O projecto, leia-se.

Mesmo com as constantes piruetas, continuo a achar que o projecto de futebol do Sporting é assente na sua formação e continuo a achar que é isso que se quer fazer, senão não se tinha feito regressar a rapaziada que estava emprestada. No ano passado, Jesus tinha no seu melhor 11 os campeões europeus com Gelson e Semedo como primeiras alternativas. E Matheus estava a cumprir o seu processo de integração, com sucesso, como as suas performances na Liga Europa e contra os fruteiros assim o demonstraram. Pelo meio adicionou-se a experiência de um Bryan, um Aquilani ou um Bruno César. Também existiram flops e erros de análise, perfeitamente normais para quem anda nestas lides. Na minha cabeça tudo isto fez sentido e, se calhar, também é por isso que estivemos tão perto. Não tendo conseguido, pelo menos, todos nós percebemos e nos revimos no caminho escolhido com e por…Jorge Jesus.

No ano seguinte, previam-se 2 coisas: primeiro, que quem estava a crescer se ia cimentar e, segundo, que quem estava cimentado, a não ser vendido, estaria ainda mais motivado para recuperar o que lhes tinham roubado no ano anterior. Ou, se não estivessem, o treinador trataria do assunto. No primeiro caso, Gelson cresceu enormidades e é hoje titular indiscutível. E ficamos por aqui. Matheus, que devia ser primeira opção para entrar, à semelhança do que aconteceu com Gelson na época anterior, foi relegado à B ou à bancada. Semedo, que vi fazer 6 meses à Varane, também regrediu e exibe hoje os mesmos problemas que tinha à 2 anos. Por outro lado, fomos buscar Chico, Podence e Gauld dos quais, apenas Podence se aproxima daquilo que vimos JJ fazer com Gelson. Mas não meto as mãos no fogo porque não sabemos se na próxima época Podence vai ser um Gelson ou um Matheus (no que diz respeito ao plano ou falta dele por parte do treinador). Como tal, este defeso vai definir, sobretudo, se há um plano sustentado para os jovens que referi ou se eles estão simplesmente à mercê dos treinadores que chegam e saem. Sobretudo isto.

Claro que o entendimento da qualidade destes jovens é diferente para cada um de nós e, naturalmente, para o treinador. Os “formação lovers” verão qualidade em todos, chame-se ele Guima ou Podence. Os que só querem é ganhar tendem a dizer que “com putos não vamos lá”. Há uma coisa que é preciso ser dita: Estamos a ser vítimas de 2 coisas: de 2 gerações ímpares em diversidade e talento e de uma política de contratações indefinida e errática. E há que separar.

Não é porque Campbell e Markovic foram flops que Iuri e Matheus já deviam estar a jogar. É porque Iuri foi só o melhor jogador do campeonato, fora dos Grandes, e já tinha sido um dos melhores na época anterior e porque Matheus, naquilo que jogou no ano passado, como por exemplo contra os fruteiros e na Liga Europa, demonstrou que fazia todo o sentido continuar a aposta nele. E é isso que desvirtua a discussão. Porquê? Leiam o título. Uma significa que estamos à mercê de um treinador e a outra significa que há um projecto. Se houvesse projecto, nem Campbell nem Markovic tinham vindo porque haveria o entendimento de todos que não havia essa necessidade (sobretudo nessas posições) e, se calhar, tínhamos gasto o dinheiro num substituto para Adrien (que, efectivamente, não havia) e que tanta falta nos fez. Mas isto já é dissecar o que correu mal e esse exercício já foi feito.

A mim, neste momento, interessa-me saber se passados 2 meses da reeleição de Bruno de Carvalho, se o projecto em que votei continua válido. Porque, no fundo, é disso que se trata. O primeiro presidente que me pôs a ler projectos e a pensar na “big picture” foi precisamente o actual. Não faz sentido nenhum que passados 4 anos do “arrumar a casa”, simplesmente acredite (ou acardite) naquilo que me vão dizendo só porque sim ou porque me foi provado que várias coisas boas foram feitas no mandato anterior. Eu e todos vocês somos muito melhores do que isso. E nem sequer tem nada a ver com a confiança que temos nele, tem a ver com as constantes piruetas que já o vimos fazer em praticamente todos os assuntos relacionados com o futebol. Já vi treinadores sem poder algum e outros com poder ilimitado. Já vi um presidente, em conferência de imprensa, a mandar um treinador utilizar o que há na B e a mesma pessoa a assistir impávida e serena a um treinador a por e dispor de tudo. Já vi treinadores com contratos armadilhados e outros que nem uma cláusula de responsabilização têm. Já vi entrar um homem-forte para o futebol, Inácio, e já vi um treinador (???) a despedi-lo. E a seguir entra um Octávio que vem para o mesmo cargo e, dizia-se, por conhecer os meandros, mas que se limita a ir aos sorteios. Até o gajo da motivação, o brasileiro, visto como importantíssimo na estrutura do Jesus já saiu. E acabo de ver o meu presidente a fazer uma aliança com os tipos que andaram a gamar isto durante 30 anos para tirar do poleiro os que vão gamar os próximos 30.

Se acham que isto não confunde o adepto, não o faz questionar ou não o deixa preocupado então, de uma vez por todas, que se assuma que queremos um Sporting à lampião, com os seus adeptos a comer gelados com a testa à sombra de um domínio totalmente forjado nas instâncias que regem o futebol em Portugal. Ou isso, ou então o presidente simplesmente esqueceu-se da massa de que é feita um adepto do Sporting, um tipo chatinho, que vai às AG´s, que estuda e analisa qualquer pormenor relacionado com o seu clube mas que também enche estádios e pavilhões, independentemente do lugar em que está. BdC não pode querer apenas o melhor mundo, onde se pede ao adepto para acreditar, apoiar e confiar para depois se cagar nele quando este tem questões, dúvidas e as exprime de forma mais ou menos pública. A grande prova foi dada contra o Belenenses, onde uma equipa destroçada e com o campeonato feito desde Fevereiro teve 45000 adeptos a assistir ao jogo, com famílias e crianças entre eles. Quem nos dirige parece ter esquecido que o “adepto fiel” que acordou às 9 da manhã de um Domingo para encher Alvalade é o mesmo “otário” que se pergunta como é que chegámos aqui e quer justificações desta miserável época.

Voltando ao projecto para o futebol, das duas uma: ou o projecto existe e não está a ser seguido ou a necessidade de ganhar está a fazê-lo ruir, maquilhando-o com uns adereços porreiros (Podence, Chico…) para ser melhor entendido e aceite pelos adeptos. Ambas são graves, mas a primeira pode ser corrigida com novas pessoas e novos métodos. Já a segunda, é a prova do desnorte total que apenas poderá ser justificada quando ganharmos. Demore  1, 5 ou 10 anos a acontecer. E no final de cada ano, mete-se mais dinheiro em cima, repetidamente, até conseguir. E quem sustenta isto? Pensam que somos nós? Não, não somos! São precisamente os miúdos em quem se acreditou um dia e que hoje já são um bocadinho menos miúdos. Como João Mário (45M), como Patrício, como William ou como Adrien, que são os próximos na calha para protagonizar mais uma transferência milionária. À excepção de Slimani, é daqui que vêm os sempre apregoados fantásticos resultados da SAD. Que se pense um pouco nisso, é só o que eu peço tanto a presidente como treinador.

Neste momento estamos numa encruzilhada entre a visão de uma pessoa e a visão de um clube, votada à 2 meses e que reforçou a legitimidade do presidente. União e compromisso é ambos cederem e chegar-se a meio caminho, assumindo o falhanço total que foi esta época. Mas aquilo que vamos vendo é a tal pessoa a pressionar e a ameaçar junto dos caracolinhos da vida, para saltar fora do barco. Para quê? Para no fim dizer que o Sporting não tem “estofo”, “cultura” ou “mentalidade” de campeão e para justificar toda a merda que fez durante este ano, seja nas compras ou no treino. E isso, meus amigos, não admito. Nem de Jesus, nem de Guardiola nem de ninguém.

* às sextas, quando tem tempo de ir às compras, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!