Diz o conto do escritor francês Charles Perrault, de 1697, e mais tarde popularizado pelos Irmãos Grimm, e já no séc. XX pelos filmes e livros de Walt Disney, que era uma vez…

… Uma menina a quem morreu o pai, em idade muito precoce.
Essa menina, Cinderela de seu nome, foi forçada a viver com a madrasta, e com as meias-irmãs, que a odiavam, e a quem invejavam a beleza. A madrasta e as suas filhas vexavam e carregavam a Cinderela, de todos os trabalhos e mais alguns. Limpava e esfregava o chão, fazia a comida, trabalhava como uma escrava, só por ser bondosa e bonita. Até que houve um baile, onde o Príncipe ia escolher a sua noiva… etc. etc.

Bom, esta história tem a ver, como já deram conta, da nossa equipa sénior feminina de rugby. No sábado passado, no Campo nº 1 do C.A.R do Jamor, vi as nossas meninas, tal como a Cinderela, a limpar rucks, a varrer adversárias, a organizar o seu campo de jogo, a nossa Casa, com um tal esmero e brio no trabalho bem feito, que não regateavam esforço a acudir onde havia mais perigo de ensaios contrários.

Estas nossas Cinderelas labutaram de Sol a Sol, pelo benfazer, pelo jogo, por elas como uma equipa. E lutaram bravamente.
Contra as enteadas das equipas adversárias, contra o calor, e o cansaço, contra tudo. Todas as outras enteadas lhes queriam ganhar, e todas elas se esforçavam por isso, mas o brio das Cinderelas, não deixava créditos por mãos alheias. Nestas alturas, eram de conforto único para as nossas meninas os poucos animaizinhos do bosque do Jamor, que lhes faziam companhia e as incentivavam a fazer sempre melhor, a limpar melhor os rucks, a montar melhores mellés, enfim, a labutar mais e melhor. Foram de muito conforto estes pequenos animaizinhos.

Até que somos chegados à hora marcada para o Baile, as nossas Cinderelas, em traje de gala e tudo, e nada do Príncipe aparecer. Pensaram as nossas Cinderelas para com as suas lantejoulas… Ele deve ter apanhado trânsito, a A5 não tem propriamente dos melhores pisos para os cascos do cavalo. E ficaram um pouco tristes, e tão abaladas ficaram com a ausência do príncipe, que as enteadas do Porto tiveram muito perto de ganhar vantagem considerável…

Mais eis que as nossas Cinderelas, incentivadas pelos poucos mas valorosos pequenos animais, souberam despir o vestido de gala, vestir o avental de trabalho, e foram então começar a limpar, por em ordem, arrumar o campo, essa nossa Casa que tantos de nós prezamos e amamos. No fim do baile, ganharam a Taça, mesmo sem o príncipe, fizeram a festa, connosco, com os animaizinhos.

Cantaram e choraram, abraçaram-se e tiraram fotos. Deram autógrafos, beijinhos e agradeceram muito a quem as apoiou. Não houve príncipe, mas houve Baile de Gala. As nossas Cinderelas souberam, pelo trabalho e empenho, mostrarem-se dignas de ser Rainhas. Estou tão orgulhoso delas, tão vaidoso.

P.S. – No caminho de casa, e já com umas ovais assinadas debaixo do braço, achei uma chuteira de cristal. Sei a quem pertence, é do tamanho do meu coração.

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*às quintas, o Escondidinho do Leão aparece com uma bola diferente debaixo do braço, pronto a contar histórias que terminam num ensaio