A recente enxurrada de rumores que davam conta do interesse do PSG pela contratação de JJ, teve vários ângulos de debate para o universo leonino. Como nascem estes rumores? A saída seria positiva? Quem ficaria mais feliz com este desenlace? Quem poderia substituir o técnico português? Estas foram as principais e são de facto questões interessantes.

Confesso que sempre achei JJ um óptimo treinador, quase tão bom como é péssimo a escolher as ideias para vocalizar nas CI ou nas flashes. O ego atrapalha-se na paixão que tem pelo jogo e pelo que faz e tropeçam ambos, caindo precisamente em cima de quem está à espera que mostre mais afinidade pela autoestima dos adeptos leoninos.

Não tenho por certo que tudo obedeça a um registo arquitectado para se auto-promover, mas nem eu, nem ninguém, consegue deixar de ver a soberba que se apossa do homem quando está lá em cima, que só é igualável pela confusa armada de sacudidelas de capote que invade as suas declarações se está lá mais em baixo. Sempre foi assim na verdade e deve ter sido fruto de grande contrição finalmente admitir que também errou esta época. Pode ser um sinal, pode ser apenas uma nuance na narrativa, pode até ser absolutamente nada.

Não será preciso nenhum mestrado para tirar de letra de que JJ não é um bom comunicador e que mais vezes do que seria ideal, cria problemas à sua própria imagem, à sua própria valorização como agente altamente especializado neste desporto absurdamente poliédrico, que depende muito das ligações, carisma e persuasão que consegue criar entre um vasto grupo de pessoas que organiza, treina e lidera.

Aliás, creio mesmo que se o nível de argumentação e estrutura de mensagem acompanhasse o que sabe daquilo que se passa num relvado, estaríamos longe de o poder ter como treinador, pois teria um nível senão acima de Mourinho ou Leonardo, pelo menos semelhante.

Mas voltando às perguntas interessantes, comecemos pela origem dos rumores. As novelas das saídas de JJ são um “must” do inicio de cada Verão. Normalmente o cenário aponta para o Porto, mas amiúde acaba por se espalhar um pouco por toda a Europa. Onde quer que exista uma vaga por ocupar, onde quer que Jorge Mendes tenha espalhado o seu charme. Este não é pois um ano de excepção, mas desconfio que possa ser um dos mais desinteressantes, pois o cliente do costume (Porto) não parece sequer com energia para fazer o baile do costume, alimentando a dança com declarações dúbias. Os erros de casting recentes e a pouca margem na escolha do próximo treinador, retiraram sal a este “prato do dia”. Sobraram ainda assim as estações e os apeadeiros de Mendes. Mónaco, Atl.Madrid, Zenit, são alguns dos emblemas que normalmente figuram do mapa “Para onde vai o Jorge” e apesar de poderem existir algumas das célebres listas de compras (a que os jornalistas têm sempre acesso) onde o nome de JJ conste, a verdade é que depois da confirmação de Simeone mais um ano nos colchoneros, nas colmeias de Mendes só sobrou o Mónaco.

No fim de uma época de sonho, Leonardo Jardim tornou-se numa espécie de príncipe desportivo do Principado. E todos sabemos que o Leo é gajo de gostar de passeio e pouco amigo de estadias longas. Será perfeitamente normal querer capitalizar o sucesso e o reconhecimento (além do título fez um figurão na Taça e na Champions) dando já um salto que muitos e bons clubes europeus gostariam de acolher. Perante este cenário, a sopa só melhoraria com os rumores que Emery estaria de saída do PSG. Se uma slot já daria para colocar Jesus a caminho, duas slots colocam-no já em viagem. Desenhando um pentágono e colocando Mendes, Leo, JJ, PSG e Monaco nos vértices poderíamos passar vários minutos a traçar ligações e…todas pareceriam legítimas. Mas como nem tudo é o que parece, e parece que nem Antero Henriques o é ainda, faltou gás para aquecer a panela até ao fim e os ingredientes ficaram curtos na cozedura. Nem Emery caiu do alto dos seus 200%, nem Jardim subiu ao trono da primeira linha de clubes. Ponto final, não parágrafo.

Segunda e terceira pergunta: a saída de JJ seria positiva? Quem ficaria mais feliz? Bom…vou tentar ser curto e…grosso. Uma fatia interessante dos jogadores do Sporting, ao saber da saída de JJ, acamparia vários dias no Santuário de Fátima. Apesar disso poder parecer um resultado positivo, não é. Tal como nunca é um sinal de muita maturidade celebrar a falta de um professor, ou desejar que uma consulta médica seja adiada. A vida não é só feita de coisas “redondas”, confortáveis e amigáveis. Muito do que mais nos faz evoluir e ascender a patamares superiores é duro, complexo e desconfortável e demasiadas vezes nos apercebemos que os jogadores tendem a valorizar as selfies, as praias ou as casas de divertimento noturno vários pontos acima do que a entrega aos treinos ou o empenho em dar a quem lhes paga tudo o que sabem, a toda a hora. A saída de JJ alisaria a “cama” de alguns faquirizados no Sporting, mas o que ganharíamos realmente com isso?

Quem não parece mesmo apostada para espetar facas no treinador é a Direcção. BdC já disse e tem repetido que JJ continua válido no projecto. Não rejeitando erros na preparação da última época e porventura crente na melhoria que será produzida evitando a repetição dos mesmos, o Presidente confia na capacidade do atual treinador e em todo o trabalho que pode ser feito à volta do mesmo para arriscar em mais um tiro na barraca. Dito, mais ou menos, pelo próprio…ou sai prémio, ou…sai prémio.

O único grupo que não tenho duvida alguma ansiar sem reservas pela confirmação das capas de jornais são os adeptos dos nossos rivais. Atravesso de tempos a tempos a “trincheira” e converso com o inimigo. Dizem o contrário do que pensam, num jogo vendas (que também faço) e é lhes tão deliciosa a ideia do abandono do nosso treinador, que lhes escorre baba pelos cantos da boca enquanto nos elogiam as possíveis entradas de outras soluções (que curiosamente não desejariam nem pintados no seu emblema). Isto é sempre um dado interessante a considerar.

Muitos adeptos do nosso clube fariam também algum tipo de pagamento de promessa ao ver Jesus a caminho da Portela. Especialmente se a cadeira deixada vazia ficasse ocupada por 16 milhões de euros. É muito dinheiro e também eu fico agarrado “à balança” a pesar os prós e os contras, mas porque também sou gajo de tentar ver para além dos arco-íris, esbarro na quarta e última pergunta: se não é JJ, quem será?

O primeiro dado que podemos lançar no devaneio é a verba. Acima de tudo, um clube tem o treinador que pode pagar e a verdade é que o que o Sporting investe na capacidade e experiência de JJ garantiria o acesso quase todos os treinadores elegíveis. Apenas um lote de super-nomes rejeitaria o atual vencimento do nosso técnico por estar abaixo do que considera ideal. Na segunda rodada do dado, lançamos a posição do Sporting no estatuto do futebol europeu e o prestígio da Liga Portuguesa. Aqui os resultados podem não ser tão satisfatórios. O nome do Sporting diz pouco a nível competitivo e na Europa das grandes montras estamos lá bem atrás, escondidos por detrás de sucessivas épocas de eliminações prematuras e de escassos acessos à Liga dos Campeões. Aliando este facto à periférica importância da nossa competição interna, o que sobra é uma noção relativamente feliz de termos uma grande tradição de Formação e uma massa adepta fiel e numerosa. O que resulta numa dificuldade crónica em atrair treinadores estrangeiros dentro do “prazo de validade” ou com carreiras em ascensão.

E digo estrangeiros porque me salta à vista que no mercado tuga as soluções não são nada óbvias e todas acarretam um risco tremendo. Pedro Martins, Daniel Ramos, Sérgio Conceição, Paulo Fonseca, Paulo Sousa, Vitor Pereira, Luis Castro, Nuno Manta, Lito Vidigal, são todos treinadores que precisariam de um enorme esforço para não tremer a mão na assinatura. Todos parecem ter ainda algum caminho a percorrer e um estatuto que ainda não os recomenda como seguros. Paulo Fonseca e Vitor Pereira já têm passado de responsabilidade ao comando de um grande, mas ambos revelaram dificuldade extrema em lidar com climas tensos e de enorme responsabilidade, e sendo certo que Vitor Pereira sabe o que é vencer a Liga Portuguesa, não deixa de ser evidente que amealhou tanto prestígio com isso como tem feito Rui Vitória nos encarnados, ou seja, pouco. Injusto? Talvez. Mas não acontece por acaso.

Com estas reflexões todas, sei que chego ao final no mesmo sítio onde comecei. Tal como as notícias dos convites de Antero a JJ, rodamos, rodamos e permanecemos no mesmo sítio. Há quem lhe chame silly season, mas de “tonta” não tem nada. É nesta altura que se decidem muitos títulos e nem sempre estes estão à mostra nos outros títulos que abrem capas ou noticiários. A permanência de JJ no Sporting é um dado relevante, mas não será só isso que decidirá a nossa futura época, não havendo pessoas insubstituíveis há pelo menos “coisas” que o são e essas terão mesmo de ser bem alinhadas se quisermos atingir o sucesso. Começou bem com a introdução do vídeo-árbitro, esperemos que seja um bom prenúncio.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca