Hoje inaugura-se o Pavilhão João Rocha. É uma data importante que ficará na memória colectiva de um clube com mais de 100 de história e um património que vai bem mais longe do que os metros cúbicos de cimento e betão de qualquer edifício. Embora importante, não é a estrutura física que se celebra hoje. É a ligação entre os sócios e as equipas. É a comunidade de adeptos e aquilo que é capaz de empreender, para que se expanda ou aproxime. O Sporting tem cada vez mais razões para acreditar no seu crescimento.

Não devemos nada a qualquer emblema do mundo. Podemos não ter o glamour, a “imprensa”, os grandes impérios de imagem ou marketing. Podemos não ter constelações de vedetas, plantéis galácticos ou jogadores no top das redes sociais. Podemos não ter um estádio na rota das novas “catedrais europeias”. Podemos não ter um orçamento condizente com o PIB de uma ilha do Pacífico. Podemos não ter algo físico e circunstancial, mas temos aquilo que distingue mais facilmente um grande clube: temos muitos e grandes adeptos.

Portugal é um país pequeno, desorganizado, com uma cultura ainda muito neo-feudal onde um número restrito de famílias consegue estancar a abertura das oportunidades aos seus próprios interesses. Os nomes das mesmas “casas” eternizam-se no poder, seja ele qual for e as dinâmicas sociais estagnam o progresso e todos os saltos culturais necessários à expansão do próprio país. O desporto é apenas mais uma das áreas onde todo este establishment trava a organização, a estrutura, a concorrência, a evolução.

O que seria de todas as modalidades em Portugal, se tivéssemos a capacidade de realmente dotar as competições de regras justas e equilibradas, dando espaço e promovendo o atleta nacional? O que seria de clubes como o Sporting se a grande maioria da sua energia não estivesse ao serviço de encontrar formas de não ser amordaçado por interesses terceiros ou reduzido o seu espaço de ambição de conquista desportiva?

Hoje que adquirimos um novo espaço para as nossas modalidades, espero que seja o dia que a nossa Direcção comece a desenhar um novo projecto que vai muito para além de ser campeão ou acumular “glória” própria. Sei bem o quanto isso legitima o clube, quem o dirige e quem o apoia, mas há muito mais para além do que fazemos em nome do crescimento individual. Por todas as razões e mais alguma é o Sporting que deve assumir as despesas de iniciar uma profunda regulação no nosso complexo e arruinado sistema de governação desportiva.

Porque é o único que verdadeiramente o pode fazer, o Sporting “deve” reflectir junto dos seus sócios o que deve ser feito e o que é preciso ser feito para que de uma vez por todas se acabe com a pacóvia arte do compadrio, a mesquinha habilidade de manobrar contra terceiros, a complacência com a incompetência e a promoção verdadeira do mérito, da independência e o fim das agendas que visam sempre, mas sempre, sacar dinheiro e poder para causas profundamente egoístas e até criminosas.

Sem esta Revolução, sem esta limpeza ética, sem um movimento profundo e duradouro que vise a devolução de Verdade e Crescimento às competições, de pouco valerá a construção de Casas para a prática desportiva, de pouco valerá o investimento em boas equipas, de muito pouco valerá uma batalha permanente feita aos “caciques da lama”. Batemos cada vez mais no fundo do fundo, na descrença dos adeptos, numa evolução anémica, na crença como último de esperança. Tudo falhou no desporto em Portugal e perdoem-me os Leões mais “aclubizados”, mas melhorando o país, melhoramos o Sporting.
E já vamos tão tarde, não é senhores Governantes?

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca