Locais há muitos, mas escolha só poderia existir uma. Quando se começou a falar pela primeira vez de uma Academia do Sporting, tal como Benfica e FC Porto falariam pouco depois, as hipóteses iam-se multiplicando. Mais a norte, mais a sul. Até que ficaram apenas duas: Alcochete e Torres Vedras. Ganhou a primeira. E a 21 de junho de 2002, alguns meses depois das equipas da formação terem lá começado a treinar, foi inaugurada oficialmente, numa área com 250 mil metros quadrados com vários campos de futebol e demais infraestruturas.

Luís Figo e Paulo Futre, entre outros, tinham nascido para o futebol em pelados, com bolas pesadas e chuteiras gastas. Viviam na Margem Sul e demoravam bem mais de uma hora para se apresentarem em Alvalade depois da escola. E se fosse preciso, ainda davam uma perninha nos jogos entre amigos. Eram outros tempos, com mais carolice. Na era do futebol de rua, bastava qualquer coisa redonda, de pele ou de trapos, para se fazer a festa.

Com o nascimento da Academia, não só no caso do Sporting mas em termos genéricos e de forma transversal ao futebol nacional, entrou-se numa nova era. Mais profissional, mais organizada, com outros recursos para a evolução dos jovens atletas. Numa reflexão mais profunda, e como Aurélio Pereira, diretor do departamento de prospeção e recrutamento dos leões, faz questão de sublinhar (e combater), “foi-se perdendo a ginga de rua e os jovens começaram a jogar de forma mais robotizada”, também pelo nascimento massivo de escolas de futebol.

Houve uma coisa que não mudou, sobretudo no caso do conjunto verde e branco: com Academia, com mais campos relvados (ou sintéticos) e com mais condições de acompanhamento, o número de jogadores formados nas escolas do clube a atingir a equipa principal manteve-se alto. E com as devidas “compensações financeiras”.

Cristiano Ronaldo foi o primeiro jogador a sair para o estrangeiro nesta nova era. Até ao mítico jogo de inauguração do Estádio José Alvalade onde deixou os responsáveis do Manchester United apaixonados, treinou em Alvalade, na Cidade Universitária, na Academia e em muitos outros campos. O talento, esse, esteve sempre lá. E os 15 milhões pagos pelos ingleses acabaram por ser diminutos face ao rendimento que viria a obter nos anos seguintes. Mas o avançado foi também o primeiro dos 43 jogadores que, de 2002 para cá, fizeram pelo menos um encontro oficial pela equipa principal dos leões. A lista total (assumindo a época do primeiro jogo oficial) é a seguinte:

2002/03: Cristiano Ronaldo
2003/04: Miguel Garcia e Paulo Sérgio
2004/05: João Moutinho
2005/06: André Marques, Nani, Varela, Tomané e David Caiado
2006/07: Rui Patrício, Miguel Veloso, Pereirinha e Yannick Djaló
2007/08: Adrien e Luís Paez
2008/09: Daniel Carriço e Renato Neto
2009/10: Carlos Saleiro
2010/11: Cédric Soares, André Santos, William Carvalho e Salomão
2011/12: Tiago Ilori, André Martins e João Mário
2012/13: Eric Dier, Fokobo, Zezinho, Ricardo Esgaio, Bruma, Betinho e Nii Plange
2013/14: Rúben Semedo, Wilson Eduardo e Carlos Mané
2014/15: Tobias Figueiredo, Wallyson, Podence, Gelson Martins e Ponde
2015/16: Matheus Pereira
2016/17: João Palhinha e Francisco Geraldes

Destes, o top-10 das vendas redundaram num total de quase 150 milhões de euros:

2016. João Mário, Inter: 40 milhões de euros
2007. Nani, Manchester United: 25,5 milhões
2003. Cristiano Ronaldo, Manchester United: 15 milhões
2017. Rúben Semedo, Villarreal: 14 milhões
2010. João Moutinho, FC Porto: 13,3 milhões
2013. Bruma, Galatasaray: 12 milhões
2010. Miguel Veloso, Genoa: 9 milhões
2013. Tiago Ilori, Liverpool: 7,5 milhões
2015. Cédric Soares, Southampton: 6,5 milhões
2014. Eric Dier, Tottenham: 5 milhões

mariogelson

Também a nível de títulos, 36 (19 nacionais e 17 distritais), o Sporting conseguiu uma média superior a dois Campeonatos por época, entre nacionais (Sub-19, Sub-17 e Sub-15) e distritais (Sub-16 e Sub-14), entre as equipas que jogam na Academia (as restantes estão no Pólo do Estádio Universitário):

2002/03: Sub-16 e Sub-15
2003/04: Sub-17, Sub-16 e Sub-15
2004/05: Sub-19, Sub-17, Sub-16 e Sub-14
2005/06: Sub-19, Sub-17, Sub-16, Sub-15 e Sub-14
2006/07: Sub-17 e Sub-14
2007/08: Sub-19 e Sub-15
2008/09: Sub-19, Sub-16 e Sub-14
2009/10: Sub-19, Sub-16 e Sub-14
2010/11: Sub-14
2011/12: Sub-19 e Sub-14
2012/13: Sub-15
2013/14: Sub-16 e Sub-14
2014/15: Sub-16 e Sub-15
2015/16: Sub-17 e Sub-14
2016/17: Sub-19 e Sub-17

 

Artigo publicado no jornal Observador