Dois clubes da Liga estavam interessados em que eu fosse treinadores deles na próxima época. Falaram com o Sporting. Fiquei muito honrado. Também houve um convite de Inglaterra, da Divison Two. Já treinei em meios muito fervorosos, mexeu muito comigo. Falei com o Virgílio e concluímos que o melhor era continuar. Se hoje sou reconhecido devo-o ao Sporting. Entrei para adjunto dos Iniciados C, a ganhar 300 euros por mês. Era aqui que queria estar e é aqui que vou vingar. O Sporting é a minha casa. Foi fácil chegar a acordo.

Quando João de Deus saiu, podia ter sido uma das soluções. Mas após conversa com a direcção entendemos que era previsível ficar nos juniores para ganhar o campeonato. E eu queria muito ser campeão.

O Sporting tem vindo a melhorar desde a entrada de Bruno de Carvalho. Ele investiu muito na formação, porque sabe que dali podemos trazer grande rendimento para o clube. Fez novos campos, iluminação. Estou grato ao presidente. Temos uma ligação muito directa e próxima. Dá-me excelentes condições.

O Sporting mantém a liderança na formação? Isso nem tem discussão. Há um equilíbrio notório entre Sp Braga, Benfica, Vitória Guimarães, Fc Porto, Rio Ave, agora o Aves, que fez um hotel. O equilíbrio é muito grande. Agora, para quê ter grandes condições e muitos jogadores se depois eles não sobem à equipa principal? E aí  Sporting é número um! Basta olhar: Gelson, Matheus Pereira, Iuri, Jovane, Demiral, Podence, Domingos Duarte, Tobias, Patrício, William, Adrien… Não há nenhum clube que meta tantos jogadores na primeira equipa. Vamos comparar isto com o quê? Os outros têm um ou dois na formação e vêm e há dois anos. Nós temos jogadores com 10 anos de Sporting a chegar à equipa principal. Se é esse o objectivo, tem que ser por aí que se mede a aposta. Ainda para mais agora, quando o Sporting tem o melhor treinador para potenciar jovens. Um jogador da formação aprende mais a treinar com Jesus do que a jogar em qualquer clube em Portugal. Volta com uma diferença muito grande.

Eu prefiro estar uma tarde inteira a falar com Jorge Jesus do que ir tirar o mestrado na faculdade (mas vou tirá-lo). É das melhores pessoas que conheci no futebol. Foi o melhor colega treinador que tive. Apaixonado. Defende como ninguém a profissão dos treinadores em Portugal.

José Mourinho é muito meu amigo. Praticamente obrigou-me a ser treinador logo aos 25 anos. Deu-me os cadernos de treino dele todos, do fcporto, do Chelsea, do Real Madrid, a preparação dos jogos, tenho a pré-época do primeiro ao último exercício. Ele ia para o gabinete e eu ficava ali horas e horas.

Adoro a forma de trabalhar de Demiral.

Quando chegou, Jovane Cabral era um selvagem. Estava habituado a jogar sem regras em Cabo Verde. Nos primeiros quatro ou cinco meses tivemos muitas guerras. Lembro-me de vê-lo a falar com um apanha bolas e a beber água no decorrer de um jogo oficial, mas é como um filho para mim, pois está cá sozinho. […] O local onde ele rende mais é a extremo esquerdo.

O Rafael Leão foi o jogador que mais trabalho me deu em termos tácticos, porque não queria fazer nada do que lhe mandava.

Só tínhamos dois jogadores com experiência de Youth League. Jogámos com um juvenil e sete ou oito juniores de primeiro ano. É um trabalho que tem que se fazer de base. Já semeámos, agora vamos colher.

Quem faz os meus sistemas tácticos são os meus jogadores. Não me agarro muito ao modelo. O mais importante é transferir para o jogo o que se faz no treino. Para o crescimento dos jogadores é importante passarem por dois ou três sistemas ao longo da época.