ronaldopeyroteoNo dia 26 de Junho de 1937 chegou a Lisboa um então jovem de 19 anos chamado Fernando Peyroteo. Era jogador do Sporting de Luanda mas, na altura, viajou de Angola devido aos problemas de saúde da mãe. Já em solo português, e por interposto de Aníbal Paciência, um amigo angolano que jogava no Sporting, o Clube leonino convidou o já conhecido goleador a juntar-se à equipa de Alvalade. Ainda que sem discutir termos nem condições, o avançado deu a sua palavra aos leões e, apesar de o FC Porto lhe ter oferecido bem mais dinheiro alguns dias depois, Peyroteo assinou mesmo pela equipa verde e branca.

Cristiano Ronaldo, por sua vez, teve um percurso diferente: proveniente da Madeira, veio para Lisboa ainda com 12 anos e já com o intuito de prestar provas na escola leonina. Chegado à Academia, deslumbrou todos os presentes, desde os colegas aos treinadores. “Ao fim de cinco minutos, Ronaldo já tratava todos os colegas por tu, por “miúdo”, dizia “ó miúdo, passa a bola”, “ó miúdo, tem calma”, e isso não é normal. Sabia que tínhamos que avançar para a contratação dele logo naquela altura. Ele tinha que vir para o Sporting”, contou Aurélio Pereira recentemente em declarações ao Observador, deixando bem claro o impacto que Cristiano havia marcado.

Daí em diante, tanto num caso como noutro, as histórias são bem conhecidas. Em comum, ambos têm a aptidão pelo golo e as cores que vestiram. Peyroteo, o melhor goleador da história, com média de 1,62 golos por jogo, fez 541 golos ao longo dos 12 anos em que vestiu de verde e branco, o suficiente para se tornar, entre outros marcos dignos de registo, o melhor marcador de sempre do Campeonato Nacional. Cristiano Ronaldo, pela força que o mercado internacional ganhou, fez apenas 31 jogos de leão ao peito, mas encantou o Mundo pelos desempenhos no Manchester United e no Real Madrid onde, no total, se sagrou por quatro vezes o melhor marcador da Europa.

Com tantos anos a separá-los e em fases tão distintas da história do futebol, Ronaldo e Peyroteo não podem ver os seus percursos comparados por mais do que o enorme impacto que alcançaram cada um na sua altura: no tempo de Peyroteo, que actuou sobretudo no final da década de 30 e na de 40, as competições europeias ainda não existiam e portanto a qualidade e veia goleadora do avançado leonino cingiu-se ao território nacional. Por outro lado, Cristiano Ronaldo ganhou uma dimensão internacional diferente exactamente pela globalização de que o futebol também foi alvo, tornando-se no maior ícone do futebol português além-fronteiras. Certo é que qualquer um dos dois exerceu um domínio avassalador entre os seus, tornando-se idolatrados por todos… menos pelos guarda-redes adversários.