Há menos de dez anos, em 2008, Acuña estava cansado de desilusões. Tinha passado muitas horas a viajar desde Zapala, cidade do interior do país situada junto à fronteira com o Chile, rumo a Buenos Aires para alimentar o sonho de trilhar uma carreira no futebol. Porém, só acumulava frustrações e a lista de clubes que lhe fecharam as portas parecia interminável: River, Boca, San Lorenzo, Tigre, Quilmes e Argentinos Juniors. Contudo, a sua mãe não o deixou baixar os braços e insistiu: “Vai a mais um teste e pode ser que tenhas sorte. Não desistas daquilo que mais gostas de fazer.” O conselho foi sábio. Aos 17 anos, “Marquitos” convenceu os técnicos do Ferro a contratá-lo, mas a vontade de arrumar as botas não desapareceu por completo.

Tímido e pouco falador, Acuña passou por dificuldades para se adaptar à nova realidade. Tinha passado de uma cidade tranquila, com cerca de 30 mil habitantes, para a superpovoada Buenos Aires, sem amigos ou familiares que lhe pudessem dar apoio. Na altura, o jogador morava num quarto no bairro de Floresta, perto do estádio do Ferro, mas longe de Pontevedra, local onde treinavam as camadas jovens do clube. Nessa viagem, foi assaltado uma, duas, três vezes. À terceira roubaram-lhe todo o dinheiro que tinha e quis deixar tudo para regressar a Zapala.

Contudo, foi novamente a sua mãe a transmitir-lhe a força necessária para não abdicar do sonho de se tornar futebolista, que conseguiu alcançar. Profissional e perseverante desde o primeira dia, o “Huevo” foi, aos poucos, ganhando lugar no Ferro. Fruto desse progresso, o técnico José María Bianco estreou-o na equipa principal em 2009/10, numa altura em que já vivia, com mais segurança, na pensão do clube.

“Sempre joguei pela esquerda. Diziam-me que era bom, mas eu não acreditava. Só corria e chutava a bola; mais que isso não fazia”, revelou Acuña na sua primeira entrevista, algo que o continua a incomodar, já que não gosta muito de falar. A sua raça e potência física fizeram-no sobressair na II divisão e, três anos atrás, o Racing ganhou a corrida pela sua contratação ao comprar 50% do passe de Acuña ao Ferro.

Nos primeiros seis meses alternou entre o banco e a equipa titular, mas participou em quase todos os jogos do campeonato que o clube de Avellaneda acabou por vencer, encerrando um jejum de 13 anos sem o título, e virou um amuleto da formação conhecida como La Academia. A partir daí, o Huevo iniciou um trajeto ascendente que o levou ate à seleção, primeiro com Bauza e agora com Sampaoli, que o considera um dos rostos da renovação da equipa.

Tendo em conta os números registados no último campeonato argentino, Acuña vai conferir um maior poder de fogo ao universo de extremos, em comparação com a época transata. Com a camisola do Racing, o reforço dos leões marcou dez golos em 2388″ e supera o registo de Gelson Martins, o extremo mais concretizador dos leões, graças aos sete remates certeiros apontados em 3643″. Já Bruno César (seis em 2783″), Bryan Ruiz (três em 2700″) e Podence (nenhum em 479″) ficaram bem longe dos números de Acuña. A nível de assistências, a comparação fica mais equilibrada, pois o internacional argentino empatou a oito com Gelson, que se sagrou o rei dos passes para golo do campeonato português.

E não podia terminar sem vos deixar o que Freitas Lobo escreveu no seu “Observando as estrelas”: Acuña é um médio-ala que faz toda a faixa esquerda, sem parar durante 90 minutos. Defende, recupera, sobe, entra no ataque e cria jogadas de perigo. Com um excelente pé esquerdo, musculado, peitudo (1,73 m e 75 kg), encara os defesas com técnica e choque, passando em força ou habilidade, não dá uma jogada por perdida. Acuna, 25 anos, já com maturidade, destacou-se no Ferro Carril Oeste e tornou-se símbolo do Racing (campeão em 2014), é “futebol de rua” puro. Garante intensidade permanente à equipa (com ou sem bola), é daqueles a que o treinador dá as “chaves do onze” e fica descansado.