Tendemos a olhar para a pré-temporada como quem olha para as peças desmontadas de um motor, imaginando na amalgama o carro a andar. É como se a qualidade de cada componente se somasse aritemeticamente resultando num funcionamento algo platónico.

Infelizmente para nós e felizmente para o efeito random do futebol, as unidades do motor sozinhas não fazem tudo o que vale um automóvel e muito menos a sua articulação é linear. O conjunto, a combinação de características, as ligações ainda decidem mais do que esperaríamos.

Enquanto escrevo este post, estamos já a perder com o Marselha e a repetir mais uma exibição sem ideias, rasgo ou mecanismos. Normal, mas ainda assim convém reflectir sobre a tal “soma das partes” e corrigir o que for possível corrigir.

Confesso que não esperava que a ausência de Patrício, William, Adrien e Gelson se fizessem sentir tanto e cada vez mais me assusta a ideia de perder um ou mais destes activos. Pelo menos agarro-me à esperança que este factor é um dos que mais contribui para esta imaturidade táctica tão gritante. E não estou a falar dos resultados. É aceitável perder por 3 golos com o Valencia e também é compreensível perder pela margem mínima com o Basileia. O que já não acho tão fácil de justificar é a forma como concedemos as derrotas.

É que vamos lá ver se nos entendemos, cansados todos estão e se perderem num sprint ou numa elevação isso é aceite como uma desculpa razoável. Mas maus atrasos, ausências de marcação e falta de tempo na disputa de bolas divididas… isso não é fadiga nem sobrecarga meus caros, é foco (ou a ausência dele) e sobretudo um colectivo que não tem existido para que se disfarcem esses erros individuais e…( Marselha marca o segundo).

Acima de tudo e depois de ter ouvido ad nauseum que o problema da época passada foi a ineficácia defensiva, olho para o que decorreu desta preparação e não só me parece que estamos longe de prometer melhorias evidentes, como também passei a desesperar com um ataque assente em incontáveis manobras de mudança de flanco, onde à vez um corajoso qualquer tentar combinar para evoluir mais uns metros. O pior nem sequer é a manobra previsível e enfadonha, mas sim a convicção com que tudo é feito.

E eis que chego à razão do post. Precisamos de soltar aqueles jogadores, puxar pela sua criatividade, a espontaneidade. Para já só se limitam a repetir laboratórios de jogadas e movimentações. Acredito que na cabeça de JJ isso seja fundamental, há que rotinar jogadores oriundos de outras paragens futebolísticas, dar-lhes tempo para assimilar os “esquemas” e até adequarem-se às subtilezas que fazem as delícias do nosso treinador. Tudo leva o seu tempo e sobretudo tempo de jogo e seria estranho que jogadores como Doumbia, Mathieu, Coentrão, Bruno Fernandes ou Piccini fossem “só” isto que temos visto em campo.

Nada está perdido e tudo pode ser melhorado. Espero que o seja, a bem do Sporting e de milhões de adeptos a quem é repetida a promessa da aprendizagem com os erros do passado. E sobre este tema o que dizer (ou o que fazer) quando Matheus Pereira, Gelson Dala e Podence assumem a irreverência da equipa e são claramente os que conseguem (pelo menos tentam que se fartam) escapar à mediania?

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca