“O futebol não é para meninas, é demasiado duro”. Assim começa o mais recente vídeo da Federação Portuguesa de Futebol, de apoio à selecção feminina, e assim começam também milhares de conversas pelo país fora.

São demasiado lentas, demasiado baixinhas, têm demasiado peito ou até as fantásticas afirmações “se jogam futebol devem ser lésbicas”. Não é raro ouvir estas frases, ainda que em tom de brincadeira, não é raro que se assuma a sexualidade, beleza ou personalidade de alguém que pratique um desporto colectivo. E é pelo fim desse tipo de comentários que todos temos de lutar.
Não é fácil, para a grande maioria das raparigas, o acesso a qualquer desporto colectivo em Portugal. Existem cada vez mais clubes e organizações que os promovem, mas durante muitos anos não foi assim. Para as meninas estava destinado o Voleibol, tudo o resto para os rapazes.

A presença da nossa selecção feminina no Europeu, com todo o mediatismo que trouxe a competição, pode ser um dos muitos passos que têm sido tomados no sentido de democratizar o desporto mais amado pelo mundo, que aqui neste cantinho europeu esqueceu pelo menos metade da população.

A ideia é que se quebrem muitos dos preconceitos já referidos, que estão encrostados e bem presentes na nossa sociedade. O desporto, ainda mais o desporto colectivo, ensina a qualquer jovem o sentido de responsabilidade, valores humanos, o sentimento de pertença e de grupo, para além da constante superação das adversidades. Porque motivo continuará a ser mais incentivado junto dos meninos?

Os dois vídeos que vos deixo são dois perfeitos exemplos de alguns dos dogmas que se foram criando em torno do futebol feminino, que começa no comportamento dos pais, da escola, dos irmãos e mais tarde das entidades desportivas. Começando em casa a quebrar essas ideias preconcebidas é o primeiro passo para que todos os outros aceitem com naturalidade que as nossas meninas também podem fazer fintas, cortes, defesas e golos impossíveis.

E mesmo sabendo que Portugal não vai vencer o Europeu que já começou na Holanda, a sua presença deve ser catapultada para começar, pelo menos, a oferecer umas chuteiras à nossa filha quando ela nos pede.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa