Bom dia, Mister. Antes de mais, não sei se posso trata-lo por tu. Odeio formalidades e por mim, a nossa relação seria sempre “eu cá, tu lá”. Ou vice-versa. Ainda assim, manterei as distâncias. Mais ou menos aquela que mantém com qualquer miúdo talentoso que nasce na Academia.

Pode não parecer mas a intenção desta missiva é a melhor possível. Quero virar a página e começar uma nova história consigo. Infelizmente, não poderei fazê-lo sem deitar cá para fora tudo o que vai cá dentro. Dificilmente encontrará algum adepto de futebol que aprecie a sua metodologia de treino tanto como eu. Mesmo sem a conhecer em profundidade, acompanhei as equipas por onde passou e verifiquei o impacto que a sua “magia” (Não confundir com a do Nhaga, que é bem mais eficaz) teve nas mesmas. Por isso, para mim não há dúvidas:  na opinião deste mero sócio do Sporting e adepto de futebol bem jogado, o Jorge está no top3 em matéria de treino. E só não digo que é o melhor porque se há ego que dispensa afago é mesmo o seu.

Toda a vida ouvi a célebre frase “o treinador é que trabalha com eles, ele é que sabe”. E, na minha ingenuidade, fui acreditando nela. Até levar com um Forcado. E a seguir um Paciência. E, praticamente, todos os 573 treinadores que passaram pelo clube até chegarmos ao Jorge, com todas as consequências que isso teve na minha sanidade mental. O tal treinador que eu achava que caía que nem uma luva no Sporting pelas ideias ofensivas que traz ao jogo, pela forma como as treina, por ser um Sportinguista, por cumprir o sonho do seu falecido pai, por ter saído do rival da forma que saiu…e podia continuar. Este era um casamento que tinha tudo para correr bem. Só que naquele primeiro ano estava escrito (por e-mail) que o Jorge não podia sair dos corruptos de Carnide directamente para o Sporting e ser campeão.

Bom, já vamos no seu 3º ano e a a verdade é não ganhámos porra nenhuma. Mas é só para ver como eu estava disposto a acompanhá-lo até ao fim, aguentei estoicamente até o final do ano passado até começar a…pensar. Naquilo que ganha, naquilo que produz, nos jogadores que desenvolve, naquilo que quis comprar, etc. E que belo serviço que fez. Acho que já deve ter percebido, esta é a tal parte em que eu mando tudo cá para fora. Um pouco como na 3ª ou 4ª consulta do psiquiatra em que finalmente nos sentimos à vontade para desbobinar tudo. A rir, a chorar, a gritar, a murmurar…o descontrolo emocional na sua forma mais pura. Sei que não tem o curso de psiquiatria, mas não duvido por um momento que foi o Jorge a inventar todos os estádios da depressão. (Daí chamarem-se estádios em vez de estados).

Voltando ao desabafo, há um ponto chave onde eu e o Jorge colidimos. Chama-se Lógica. Aquela coisa chata que o comum mortal desespera por encontrar em quem confia e, ao mesmo tempo, aquele parente pobre e esfarrapado que raramente é considerado por quem lidera. Claro que eu podia mentir e dizer-lhe que nunca acreditei no camião de jogadores que trouxe no ano passado, mas acreditei. Como não acreditar, se quem os queria e os pediu era só o Mestre da Táctica? Acontece que, a modos que, errr…..deu merda. Da grossa. Não só falhámos em todas as competições como ainda demos um gostinho especial ao seu futuro clube de ficar à nossa frente com um treinador como…Nuno Espírito Santo. E quando tudo estava perdido e os Sportinguistas apenas precisavam de um “osso” (leia-se, ver os nossos meninos a jogar na equipa para curar as mágoas) para se entreterem até às eleições e até ao fim desse penoso campeonato…eis que o Jorge mostra toda a sua raça ao esgotar por completo os desgastados que jogaram praticamente todos os jogos na primeira volta.

O resultado? Aquele jogador que tanto gostava, o Bryan Ruiz, o tal que sabia tudo (e lhe arranjava uns shampoos à borla)…já ninguém o pode ver. E o próprio Bruno César, que até tinha boa imagem em Alvalade começa a estar a mais. Nada disto teria acontecido se o Jorge tivesse, tipo, apostado no Chico ou no Ryan nem que fosse apenas para fazer descansar os 2 anteriores. E é curioso que na primeira oportunidade que, por alinhamento dos astros (e, claro, ligeira distracção do Jorge), os putos jogaram em simultâneo, se não me engano, em Tondela demonstraram todo o seu valor. Mas a lógica (ou a falta dela) não esteve só aí. A renovação do Schelloto para, em menos de 1 ano, nem sequer fazer a pré-época, a falta de 1 min do Meli (numa altura em que chorávamos por um substituto do Adrien), a insistência no Alan Ruiz quando era visível que ainda não estava fisicamente bem, as contratações do Douglas e do Ciani para depois, em Janeiro, trazer de volta o Semedo…enfim, um chorrilho de situações onde a lógica simplesmente não entrava. Mas, como disse, para mim tudo isto foi para trás das costas. Custou muito, mas lá consegui. E eis que estou a entrar no seu 3º ano como treinador do Sporting, com o saldo de uma Supertaça mas com a esperança nos píncaros!

jjgomes

Para terminar este ponto e avançar para o presente e futuro, tenho de ser duro consigo. Como já sabe aquilo que penso de si como treinador, está na hora de lhe dizer aquilo que eu penso da sua carreira e da forma como subiu ao Olimpo cá no burgo. Até chegar ao rival, só quem andou atento ao pormenor dos princípios de jogo das equipas que treinou é que saberia, verdadeiramente, o calibre de Jorge Jesus como treinador de futebol. O rival ofereceu-lhe (e a palavra é mesmo essa) toda a prata que tem em casa. O seu mérito? Não faço ideia. Mas, provavelmente, até será menor do que julga já que um azeiteiro como o Rui Vitória já leva dois títulos na sua conta e isto tudo nos seus primeiros dois anos. Aqui, o grande elogio vai direitinho para a capacidade do servidor que o rival arranjou e que, durante esse longo período, permitiu que todos os e-mails enviados chegassem ao seu destino e, como estas coisas funcionam melhor que a matemática (outra ciência que o Jorge inventou) o rival lá pôde ir implementando a sua vigarice porque tinha alguém que lhe garantia qualidade de jogo e de treino. Imagino o que isto não terá feito pelo seu ego e acaba por chegar a Alvalade “inchado” com 11 troféus “conquistados”.

Ora, acontece que este não é o seu último ano de rival mas antes o seu terceiro de Sporting. Sem prata nenhuma. E mesmo assim, o Jorge continua a agir (seja nas declarações ou nos actos de gestão) como se fosse o campeão em título. Aproveito para lhe relembrar que não é. E aproveito também para lhe relembrar que todos os seus caprichos foram satisfeitos (eu ainda sou do tempo em que para contratar alguém por 3M, tinha de ser um craque). Nunca ninguém teve o que o Jorge teve, tanto a nível de jogadores como salarial, e com tão fracos resultados. E foi aí que, uma vez mais, a lógica atraiçoou-me. Porquê? Porque pensei que este percurso errático iria moldá-lo e transformá-lo num ser menos vaidoso e mais disponível a ouvir os outros. Pura ilusão. Não há mesmo nada a fazer. O Jorge é mesmo assim. Culpa minha por pensar que os resultados moldam as pessoas.

Mas isso tudo já lá vai. Agora, vamos começar mais um ano com o Jorge ao nosso leme. Novo camião contratado (embora desta vez a escolha parece ter sido mais criteriosa) e, uma vez mais, os putos emprestados, ficando no plantel Podence, Iuri e Palhinha, até ver. Como sempre faço, vou-lhe dar todo o tempo que precisar para implementar as suas ideias. E, como é óbvio, quero que em Maio esteja a mandar os rivais para o real cralhes que lhes fodam. Porque quando ganhar aqui a primeira vez, valerá por todos os troféus que lhe foram oferecidos no rival. E a justiça poética de poder desmantelar o Sistema que fez de si o que é hoje? Não tem preço!

Ainda estou a pensar em como hei-de terminar isto e acabamos de levar mais 3, desta vez do Guimarães. Sim, eu sei que é pré-época. E também sei que na flash repetiu 358 vezes a palavra “treino”. E que jogámos com suplentes, num sistema novo e tudo mais. Isto para mim vale pouco, até posso apostar consigo quantos jogos fará com 3 centrais ou quantas vezes é que teremos esta defesa em campo. Arrisco uma: no último jogo do campeonato quando já formos campeões e o cabelo estiver pintado de verde (o seu inclusive! Não pense que as suas mandeixas terão free-pass). Espero bem é que tenha recolhido aquilo que o comum Sportinguista, mortal e falível recolheu: Já há muita merda a corrigir no futebol do Sporting para inventarmos mais algumas. No Sporting, toda a gente sabe que a altura para inventar é quando tudo está bem.

Termino o texto dizendo-lhe estou consigo. Sempre estive e, enquanto treinar o Sporting, sempre estarei. Seja quando contratou o Bas Dost ou quando emprestou o Chico. Seja quando ficou maluco com o Gelson ou quando trouxe o André Balada . Seja quando criticou o Palhinha ou os adeptos. Ou mesmo quando cagou para a Liga Europa que hoje nos coloca fora do grupo dos  cabeça de série. Porra, até quando renovou com o Schelloto!!! Não concordo com tudo o que faz mas sei que quer o melhor para o Sporting simplesmente porque é o seu actual empregador. E se há pessoa que melhor veste a camisola do clube onde está, essa pessoa é mesmo o Jorge. A mesma pessoa que disse um dia que “ganhar na Luz só na playstation” e, anos mais tarde, “limpinho, limpinho” quando precisou de justificar aquilo de que se queixou quando estava em Braga. Essa, para mim, é a maior prova da sua paixão e dedicação à profissão que escolheu. Faço votos que seja feliz. A sua felicidade será a minha e a de milhões de Sportinguistas. Desculpe lá qualquer coisinha, isto saiu sem filtro mas genuíno (isto diz-lhe algo?). Ah! E se possível, não descure nas calinadas. O Mundo fica um sítio bem melhor para se viver quando o Jorge dribla a língua portuguesa. Sem ironia.

 

* às sextas, quando tem tempo de ir às compras, abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!