O Troféu Cinco Violinos voltou a ficar em casa, num jogo onde apareceu um sósia de Marco Aurélio, Gelson teve a certeza de ter um parceiro para as arrancadas, os argentinos titulares correram tanto ou mais que os restantes e Bas Dost acreditou que, com a tecnologia do seu lado, não há Messi que lhe resista

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Em 1977, o que significa que quem vos escreve tem mesmo 40 anos, Trevor Horn e Geoff Downes formavam uma banda britânica chamada The Buggles e, três anos volvidos, o mundo começa a escutar uma daquelas canções tão anos 80, que se cola ao ouvido e nos fica na jukebox cerebral para sempre. Video killed the radio star, assim se intitula essa música, encaixava na perfeição num mundo onde os primeiros leitores de vídeo cativavam o consumidor e convidavam à abertura daquelas lojas onde pagavas a alguém mais velho para te levantar filmes porno e acabavas a pagar multa por teres ficado com a cassete em casa além do tempo previsto no aluguer.

Put down the blame on VCR, cantavam os The Buggles, e a sonoridade valia-lhes horas de estrearem o mundo dos videoclipes na MTV americana numa altura em que Marco Aurélio Cunha dos Santos, um rapazinho carioca de perna longa e então com 13 anos, ia crescendo para se tornar num central de referência que haveria de deixar marca no eixo da defesa do Sporting Clube de Portugal. E, ontem, quem foi a Alvalade deve ter perguntado a si mesmo se aquele gajo que estava a limpar tudo, com classe, no centro da defesa, era uma réplica do “Imperador”.

Não era o Imperador, mas era um Sir. Sir William Carvalho, aquele que faz parar o tempo à sua volta quando joga no meio-campo e que ajeita o bigode enquanto gira sobre si mesmo e afasta uma mão cheia de adversários e que, frente à Fiorentina, emprestou ao centro da defesa a sua natural tranquilidade e uma capacidade de sair a jogar ainda maior do que a demonstrada por Marco Aurélio ou por André Cruz. E se William aproveitou as ausências de Coates, Mathieu e André Pinto para mostrar que é top jogue onde jogar, um argentino chamado Battaglia aproveitou para mostrar que consegue varrer todo o meio-campo defensivo se o puseram a jogar a seis, dando aos adeptos o alívio de saberem que, nesse lugar, existem opções com menos brilhantismo do que Will he Is, mas com uma simplicidade de processos e um pulmão que garantem descanso à defesa. Ah, já que falamos em defesa, evoco o poder da morsa para desafiar-vos: digam-me um, um redes que seja superior a Rui Patrício na arte de usar a mancha para fazer crescer a taxa de tendências suicidas entre os avançados! Digam-me um!

Com tanta conversa, o Gelson e o Podence já passaram por nós uma meia dúzia de vezes. Putos do car…. Valha-nos Deus que Jesus percebeu que aquele lugar que estava a ser ocupado por uma camisola 10 estática, deveria ser entregue a quem consegue acompanhar o puto Martins e, assim, evitar obrigá-lo a mais uma época de pega monstro sem ter quem o acompanhasse na acelerações. Agora está lá o Daniel, e se um craque supersónico incomoda muita gente, dois craques supersónicos incomodam muito mais, ainda por cima quando esse tal de Daniel tem uma cultura táctica acima da média.

Oh Cherba, mas isso não fica desequilibrado? Calma, que a esquerda está cada vez mais calibrada. O Coentrão ameaça não ter que andar de scooter para ter lugar na selecção e aquele rapazinho com ar de pugilista vintage (imaginem-no em tronco nu, com os calções pretos cinturados acima do umbigo) é um regalo de equilíbrio táctico e de inteligência nos processos. Não estou a falar do Bruno Fernandes, até porque o Acuña o deixava KO ao primero assalto. É mesmo do argentino, que ainda tem o extra de bater cantos e livres que ou resultam em jogadas de perigo ou em jogadas de golo.

O Bas Dost que o diga. Grande meia volta do holandês, anulada por uma daquelas decisões da equipa de arbitragem que nos têm tirados anos de vida época após época. Mas este é um campeonato diferente, o campeonato da estreia do vídeo-árbitro, e o que os emails tiram, o vídeo repõe. Os arautos da verdade desportiva inquinada berram que se está a retirar a beleza ao futebol. Nós sorrimos ao ver essa gente espernear e conseguimos ouvir, ao longe, os The Buggles a adaptarem-se a esta nova época e a cantarem They took the credit for your second symphony, Rewritten by machine on new technology, And now I understand the problems you can see, Oh a oh […] Video killed the radio star, Video killed the radio star, In my mind and in my car, we can’t rewind we’ve gone too far, Pictures came and broke your heart, Put down the blame on VAR!