Jorge Jesus parece ter gostado da experiência de colocar Daniel Podence a jogar no apoio a Bas Dost e o jovem craque português, de 21 anos, afigura-se como o grande candidato a fazer dupla e a municiar o “matador” holandês. Ele que já leva 12 anos de leão ao peito – meia vida… Em Alvalade sempre foi visto como um futuro jogador de nível A. Ao potencial e à “qualidade técnica” juntou “irreverência” e “vontade de ser o melhor”, diz quem o conhece. Algo que fez Jesus ver nele o “seu” novo Saviola.

Ainda antes de o emprestar ao Moreirense, no início da época passada, o técnico leonino já via nele um jogador com características e potencial para ser “moldado” à imagem do antigo avançado argentino do Benfica, que foi novamente potenciado por Jorge Jesus. Chegou a dar-lhe vídeos de Saviola como referência. Mas antes, quis que o jovem ganhasse rotinas e experiência na Primeira Liga. Primeiro com Pepa e depois com Augusto Inácio, Podence começou a despontar no Moreirense e em janeiro regressou à base. Fez ainda 13 jogos – os tais quatro a titular – e, agora, parece estar no “ponto” para se assumir definitivamente no clube que o formou.

Foi por Alcochete que o técnico Luís Gonçalves, atual adjunto de Abel Xavier na seleção de Moçambique, se cruzou com a nova coqueluche verde a branca. Podence tinha 14 anos e um potencial tremendo. “Ele estava identificado como potencial futuro jogador de nível A, e é importante frisar a palavra potencial”, começa por dizer ao Bancada o técnico de 45 anos. Mas, mesmo antes de se cruzarem nos iniciados, Luís Gonçalves já conhecia o talento do atacante de Caxias. “Antes disso já denotava potencial para chegar longe. Desde os 11 anos que revelou muita habilidade naquilo que é relação com a bola e também tinha velocidade e inteligência”, relembra.

Nessa altura, diz quem se cruzou com ele na equipa de infantis, que o pequeno craque já dava bastante nas vistas. “Tinha muito potencial”, começa por recordar-nos David Silva, avançado que atualmente representa o Coruchense, do CNS, e que foi colega de equipa de Podence nos primeiros anos da formação no Sporting. “Tecnicamente era rápido, tinha muita técnica e já demonstrava ser um dos melhores jogadores da equipa, senão o melhor”, frisa.

Podence foi, então, protagonista de um episódio que mudou a forma de estar em campo de David Silva. “A melhor recordação que tenho é da técnica e capacidade de drible no um para um que ele tinha. Uma vez estávamos no treino a brincar com as bolas e eu tentei tirar-lhe a bola, mas ele fez-me uma finta que até caí para o chão. Desde esse dia passou a ser a finta que mais uso nos jogos. Quis aprender a finta depois de ele me ter feito aquilo. Era o Ronaldo “Fenómeno” que a fazia”, lembra David Silva.

A irreverência própria da idade também fez parte do crescimento deste internacional sub-21 português. Mas não só. A vontade em evoluir foi sempre grande, segundo nos confidencia o seu treinador nos iniciados dos leões. “Via nele um empenho muito grande e uma vontade de ser o melhor, assim como também algumas situações de irreverência, que são naturais em jovens nessa idade”, explica Luís Gonçalves.

podence3

Durante quase todo o percurso nas camadas jovens leoninas, Podence teve Francisco Geraldes como companheiro de equipa – o primeiro chegou ao clube em 2005, proveniente do Belenenses, com nove anos, e o outro em 2003, com oito anos -, o que acabou por gerar uma amizade forte. Foram inclusive juntos para Moreira de Cónegos na época passada e juntos voltaram a Alvalade. E, apesar de agora o avançado estar a ganhar o lugar e de o médio ter sido novamente cedido, desta feita ao Rio Ave, a ligação não se desfez.

Tanto que recentemente Podence publicou uma foto nas redes sociais dos dois juntos nas camadas jovens, ainda bem pequenos, deixando uma mensagem de “Até já” ao companheiro de sempre. Ao que Geraldes replicou com um pedido especial: “Faz-me só o favor de partires isso tudo”. Algo que Jesus parece acreditar que o pequeno craque, de 1,62 metros, pode vir a fazer na presente época. Uma relação cimentada pelo tempo que passaram juntos, mas que já se fazia notar desde novos. “Na altura, como eram de Lisboa, vinham para o treino juntos. Estavam praticamente sempre juntos”, conta David Silva.

“Já se notava que havia amizade, cumplicidade e algumas brincadeiras. Era um relacionamento que vinha das próprias famílias. Naturalmente que essa amizade foi-se construindo ao longo de muito anos de convívio e de um percurso profissional em conjunto. O grupo era todo muito unido e eram todos amigos, o que é importante”, salienta o técnico Luís Gonçalves, que chegou a utilizar Podence no meio do terreno, embora visse nele “claramente um futuro extremo”. “Continua a também ser um extremo, mas está a desempenhar muito bem a função no meio”, assegura.

Portanto, jogar no corredor central não é algo estranho para o velocista e tecnicista do plantel do Sporting. Isto devido a uma filosofia típica das camadas jovens dos leões. “Ele era claramente um ala, um extremo. Mas em alguns jogos também chegou a jogar mais no meio, na posição 10. Tínhamos essa filosofia de fazer com que os jogadores, por vezes, experimentassem posições diferentes, até para haver mais cultura tática e futebolística. Comigo jogou algumas vezes nessa posição, não muitas. Embora o nosso modelo de formação nessa altura fosse o 4-3-3, diferente do atual dispositivo tático da equipa principal do Sporting”, sublinha Luís Gonçalves.

Também David Silva corrobora o facto de ter sido nas faixas laterais do campo que Podence cresceu e desenvolveu o seu talento, não se mostrando surpreendido com o que o ex-companheiro de equipa está a atingir. “Daquela geração, sem dúvida, que era um daqueles que tinha mais potencial para chegar à equipa sénior. Sempre acreditei que pudesse lá chegar”, confessa-nos o avançado ribatejano, de 22 anos.

Atualmente, para além de mostrar-se um verdadeiro quebra-cabeças para os adversários, também desenvolve uma espécie de “vício” pela preparação física. Algo que já trabalhava na adolescência, embora Luís Gonçalves garanta que não o fazia de forma obsessiva. “Tudo o que ele fazia e fez sempre ao longo deste percurso foi entregar-se com muito empenho em todos os treinos, quer fosse um treino normal, de campo, ou de força, no ginásio. Já nessa altura os jogadores dessa idade faziam ginásio. Naturalmente, era feito um trabalho adequado através de dados recolhidos por um especialista”, termina.

 

artigo publicado no site Bancada