Há muito pormenor por afinar, mas o Sporting venceu sem margem para dúvidas na visita a Aves. Dois golos de Gelson, a classe de William e a omnipresença de Acuña foram sinais mais num arranque de campeonato que promete um Leão com mais soluções e pronto a lutar pelos objectivos

gelson dost vila das aves

 

Há quem diga que Jorge Jesus tem parecenças com Rod Stewart, mas eu continuo a achar que aquele penteado tem muito mais de Mick Jagger, ali pelo início da década de 80, altura em que o mundo começava a escutar um hino chamado Start Me Up. Curiosamente, essa canção foi pensada para ter um ritmo reggae e só depois de quatro anos na gaveta ganharia a roupagem que a tornou num enorme sucesso.

Ora, ontem, na simpática vela de Aves, o estádio municipal encheu-se de Sportinguistas desejosos de verem a sua equipa aproveitar o final de tarde soalheiro para embalar no ritmo cool o sonho que se renova a cada início de época. Mas, tal como aconteceu com os Stones, o ritmo teve que adaptar-se às circunstâncias, ou, se se preferir, à troca de Podence por Adrien que colocou Bruno Fernandes mais próximo de Bas Dost. O Sporting perdia velocidade e imprevisibilidade, ganhando mais músculo e posse de bola a meio-campo.

E a verdade é que o Aves foi incapaz de sair em contra ataque, exceptuando aquele lance de Braga, pouco depois dos 20 minutos, a que Rui Patrício respondeu com uma belíssima defesa. Antes, já o redes adversário havia brilhado duas vezes, a remates de Bruno Fernandes e de Acuña. O argentino era um verdadeiro dínamo na ala esquerda e arrastava consigo toda a equipa. Diga-se, aliás, que um dos pormenores que mais saltou à vista foi o facto de Acuña surgir várias vezes em terrenos mais centrais, algo que, quando aconteceu, complicou ainda mais a vida aos adversários. William geria todo o meio campo e ainda tinha tempo para aberturas top class, Gelson acelerava pela direita e fazia gato sapato de quem lhe aparecia pela frente.

Foi, por isso, com naturalidade que o Sporting chegou ao golo. E que golo, não pela finalização, antes pela limpeza de processos com que a equipa transformou um canto do adversário numa rápida saída de bola: Gelson corta a bola, mete em Bruno Fernandes e acelera; o camisola 8 recebe com classe de calcanhar e puxa pelo verticalismo do futebol italiano para lançar Acuña; e o argentino mostra toda a sua visão de jogo e pragmatismo desmarcando de imediato Gelson que, entretanto, já estava a caminho a área deixando Tsubasa e companhia a pesar porque raio é que os obrigavam a estar um episódio a percorrer meio campo.

O mais complicado estava feito, agora era procurar o segundo. Que podia ter chegado se Lenho não tivesse roubado o pão a Dost, a fechar a primeira parte, ou se a bomba de Acuña, a abrir a segunda, não tivesse embatido na barra com tal estrondo que o jogo parece ter adormecido com toda a gente a ver quando o travessão parava de tremer.

Pesavam as pernas pela pré época, pesava a mente na vontade de preservar tão importante vantagem, Podence entrava para agitar as águas e Battaglia entrava para enxugar qualquer salpico. E foi o médio, qual carro de assalto, que iria por ali fora e meteria a bola na área. Ressalto daqui, ressalto dali e Diego Galo a armar-se em Higuita. O problema foi que o corte à escorpião resultou numa triste figura e permitiu a Gelson dar a ferroada mortal no Aves.

É, o ritmo não foi reggae, mas o puto cool resolvia um jogo ganho sem margem para discussão. E agora é esperar que este primeiro jogo seja como os Stones definem as suas canções: «o que os fãs escutam é apenas a ponta de um iceberg que, na base, tem um verdadeiro cofre de possibilidades. Mas tens que ter a paciência e o tempo para procurá-las».

My eyes dilate, my lips go green, I walk smooth, ride in a mean, mean machiiiiiiiiiiine. Start it up!