Planeta terra. Ano 2017.
O futebol, transformado numa máquina financeira, põe à prova a paixão dos adeptos, cada vez mais carentes de reais provas de amor ao jogo e à camisola, cada vez menos crentes na verdade do jogo jogado, cada vez mais envoltos num universo digital onde o acessório se sobrepõe demasiadas vezes ao essencial.

Esta sociedade em que a violência do futebol moderno atinge proporções gigantescas, tem por parte das instâncias oficiais e governamentais um constante limpar de mãos e um favorecimento, tantas e tantas vezes descarado, aos clubes que movem mais interesses e mais afincadamente promovem as trocas de favores e de influências. Isso redunda numa desresponsabilização de tudo e todos, incluindo os atletas, obrigando os adeptos a questionarem-se, diariamente, se vale a pena?

Neste cenário, uma franja de adeptos colocou em marcha um plano para salvar o futebol. É um tratamento de choque, inspirado no célebre livro Laranja Mecânica, adaptado ao cinema com exemplar mestria Stanley Kubrick. Chamaram-lhe Técnica Bas Dost e, durante a terapia, os indivíduos são submetidos a sessões diárias de uma entrevista chocante para uma sociedade com tão periclitantes valores e recebem injecções de uma substância que garante terríveis sensações de bem estar e felicidade.

«Dizerem que sou um grande profissional e um grande ser humano é o mais importante. Na vida não é apenas como se faz o seu trabalho. Como se é como pessoa é o mais importante. Estive no ano passado com muitos jogadores que não jogaram um jogo, mas estavam sempre positivos a partir do momento em que entravam no balneário. Isso é o mais importante, não é apenas futebol»

«Exigência e responsabilidade?!? Claro que tem que ser normal! É o meu trabalho! É normal que as pessoas esperem que marque golos e se no ano passado marquei 36, seria muito estranho se nesta época marcasse apenas 10. Para mim não é um problema que as pessoas digam insistentemente que tenho de marcar golos. Gosto disso!»

Ao logo de cada sessão, existe, ainda, um subliminar abraçar da mente por uma canção, Thunderstruck, verdadeiro hino à ligação entre os fãs e uma banda, os AC/DC, entretanto adaptado a um hino que liga fãs a um jogador e os aproxima do clube com aquela loucura saudável de Angus Young.

«Aquilo que eu mais gosto é, onde quer a equipa jogue, só ver adeptos do Sporting! Sempre! É certo que ficam tristes quando perdemos. É normal. Mas apoiam do princípio ao fim, não importa o que aconteça. Jogámos, por exemplo, nas Aves, e só vimos adeptos do Sporting. Adoro isso. Chego ao campo, olho em volta, só vejo verde. E isso faz-me sentir óptimo»

«Vou confessar uma coisa. Nunca tive umas férias em que falasse tão pouco com o meu agente. No final da época liguei-lhe e disse-lhe que não importa qual o clube que possa estar interessado em mim, seja um grande clube ou um clube pequeno, não interessa porque não quero sair do Sporting, porque não acabei o meu trajecto aqui!»

«Gosto do clube, comprei casa nos arredores de Lisboa, Não aluguei. Comprei! Gosto do local, a minha namorada gosta muito de estar aqui, isso é muito importante. Não se trata de estar sempre a mudar e a ganhar mais dinheiro, não. Tem a ver com a qualidade de vida. Sou um sortudo! Ganho muito dinheiro como jogador profissional, vivo numa casa linda, vivo num país lindo, jogo num clube fantástico. Porque haveria de pensar em sair?»

Na, na, na, na, na, na, na, na…