Cinco dias volvidos sobre a vitória frente ao Setúbal, o Sporting voltou a cometer os mesmos equívocos tácticos que quase o fizeram perder pontos na Liga. Desta feita, a entrada de Doumbia e de Bruno Fernandes não agitaram o jogo e levaram a eliminatória para uma perigosa viagem à Roménia na ressaca de uma visita a Guimarães onde não haverá margem para “poupar”

acunasteaua

 

Que decepção. Assim, sem tirar nem por. Obviamente que eu não esperava que déssemos 7 como demos ao Timisoara do Timofte, mas esperava ganhar e ganhar bem, colocando um pé bem firme na fase de grupos da Champions. Por muitas voltas que se dê, este Steaua é mediano, como ficou provado em tantos e tantos momentos do jogo, como ficou provado pelas patéticas correrias do Teixeira ou pela ausência de qualidade de, por exemplo, um tal de Enache que jogou a defesa direito. Que decepção.

Uma decepção quase tão grande como quando pensas que, hoje em dia, as novas gerações não sabem, na sua maioria, o que é o prazer de comprar o novo CD de uma banda. Descarregas as músicas e siga, que não há cá tempo para andar a transportar caixas e discos de um lado para o outro. E, ontem, caminhava a partida para o final com os adeptos a tentarem transmitir uma réstia de alento aos jogadores (depois de uma primeira parte onde as claques tentaram medir quem cantava mais alto), veio-me à memória o dia em que comprei o terceiro álbum dos Smashing Pumpkins, Mellon Collie and the Infinite Sadness. Um álbum duplo, com imagem cuidada e som a pedir para ser ouvido a preceito depois dos belíssimos discos que tinham sido Gish e Siamese Dream.

Nesse álbum anunciava-se uma mudança, tal como se anunciou no início desta época em relação ao trabalho desenvolvido no ano anterior. E mudança era o que se esperava face a um adversário que chegava a Alvalade para fazer o que o Setúbal havia feito: baixar linhas, defender, cortar espaços e, caso fosse possível, lançar transições rápidas. Mas a equipa foi exactamente a mesma, os equívocos foram exactamente os mesmos, com a agravante da intensidade inicial ter sido bem menor do que na sexta-feira passada.

A colocação de Battaglia e de Adrien no meio-campo confere solidez e capacidade de pressão, mas retira capacidade criativa e praticamente anula o jogo interior. Face à ausência de William, faria ainda mais sentido a titularidade de Bruno Fernandes, permitindo, exactamente, esse jogo interior (e Adrien poderia ocupar a posição 6, até por ter melhor saída de bola do que Battaglia). Isso não aconteceu e a equipa voltou a perder-se em cruzamentos, uns atrás dos outros, à espera que um deles encontrasse Bas Dost. Isso não aconteceu e Podence voltou a ser emparedado e a ter que jogar quase sempre de costas para a baliza (na única vez em que teve espaço, serviu Acuña para o argentino rematar cruzado, ao poste, na nossa melhor oportunidade de golo, ainda na primeira parte). Isso não aconteceu e quando foi preciso mexer o que se fez foi repetir a fórmula de há cinco dias e esperar demasiado para carregar assim que o adversário ficou reduzido a dez. E sem ideias de bola corrida, leva-nos ao desespero a incapacidade para conseguir chegar ao golo de bola parada. Cantos e livres laterais em barda, zero oportunidades de golo mesmo tendo em conta o tamanho de homens como Dost, Coates ou Mathieu (o central vai subindo de produção de jogo para jogo e, ontem, do melhor que se viu foi a velocidade que um monstro daqueles consegue atingir).

E, face a tudo isto, ouvir o meu treinador dizer que, exceptuando a incapacidade de chegar ao golo, tudo o resto foi muito bom, é de deixar um gajo no limite do desespero. Aliás, tanto a flash como a conferência de imprensa que se seguiram são uma espécie de cereja no topo da decepção. Não é um sentimento bom para o início de uma época, mas é respirar fundo e acreditar que este Mellon Collie and the Infinite Sadness é apenas a canção de abertura de um álbum duplo que vamos querer ouvir muitas e muitas vezes.