Numa noite gelada, propícia para aparições fantasmagóricas, o Sporting resolveu a partida com dois golaços, mas, mais importante, mostrou uma união e um compromisso fundamentais para se atingirem quaisquer objectivos

mathieugolo

 

Diz que nesta coisa das ressacadas de noites europeias o Sporting não tem sido propriamente feliz ou competente. Diz, também, que o constantemente aflito Tondela costuma complicar a vida em Alvalade e que nunca perdeu em casa do Leão. Mais? Diz que o Sporting tem uma tendência de décadas para não aproveitar deslizes dos adversários e que o benfic@ tinha acabado de perder no Bessa. Não chega? ok. Toma lá um árbitro chamado Manuel Oliveira, rapaz que já realizou um verdadeiro porno do apito no nosso Estádio, numa partida frente ao Paços de Ferreira.

E começo precisamente por aqui. Este rapaz, o Manuel, é dos que não engana. O que se viu no relvado de Alvalade é de fazer o Jorge Sousa esganiçar-se contra a própria arbitragem, tal a dualidade de critérios que foi enervando tudo e todos e permitindo ao Tondela fazer a única coisa que conseguiu fazer ao longo dos 90 minutos: dar porrada, numa missão exemplarmente liderada por aquele frustrado chamado Ricardo Costa a quem, felizmente, o destino trocou as voltas e o afastou da possibilidade de vestir a nossa camisola.

Quem teve oportunidade de vesti-la de início foi Iuri Medeiros, na tão desejada estreia a titular. E não há como não sorrir quando percebes que um miúdo que já foi acusado de tanta coisa te mostra que está a sentir aquele momento e que as pernas, que raramente tremem para marcar um livre, acusam a emoção da estreia. E já que falamos em livres… que golo, monsieur Mathieu! Que bomba, que arco, que flash de André Cruz, que saudades de ver bolas destas em Alvalade (e este ano já lá vão duas, com a do Bruno Fernandes ao Estoril).

Aos 13 minutos o Sporting desbloqueava o jogo, mas não o acelerava. Alan Ruiz voltava a ser um corpo estranho e dessa ausência de pivot ofensivo se ressentia a equipa, que só voltou a dar sinal da sua graça aos 25 minutos. E que graça! Bas Dost solta-se (e tanto que se soltou, tanto que lutou, tantas bolas divididas que ganhou e espaços que tentou abrir), mete em Iuri e este puxa para dentro e ensaia um arco ao poste mais distante. A bola sai um palmo para lá do alvo e volta a sair desviada quando, já em cima do intervalo, Mathieu volta a ensaiar um livre directo.

Pouco depois do recomeço, Jorge Jesus chama Battaglia, tira Ruiz e Bruno Fernandes pode voltar a ocupar terrenos mais próximos de Bas Dost. Aplaude-se Cristiano Ronaldo (percebeste que vai ser mais fixe voltar aqui do ires para os States terminar a carreira, ó Cris?) e aplaude-se Iuri e Gelson, na segunda substituição. As peças estão cada vez mais no seu lugar e pouco tarda a que Bruno Fernandes saque mais uma bomba do meio da rua que resulta no 2-0. Está feito.

Mas o melhor, pelo menos para mim, estava para vir. Com Acuña a ser uma espécie de maestro que decidia os tempos da equipa nos esticanços pela esquerda, William parecia aquele puto que nos apareceu há quatro anos a querer engolir o meio campo em slow motion, desejando ter que enfrentar três e quatro e cinco adversário de cada vez. Bruno Fernandes pressionava alto como se estivéssemos a perder, Bas Dost seguia-lhe o exemplo em modo girafa, Gelson enervava Jesus ao querer fazer cuecas (e que cueca fez Acuña do outro lado!) e, lá atrás, Coates parecia estar em todo o lado!

É, no entanto, quase injusto estar a destacar uns e não destacar outros, quando olhas para o relvado e, com mais ou com menos brilho, sentes compromisso. Quando sentes união. Quando isso passa para as bancadas e até a birra da curva sul termina com ensaios de novos ritmos inspirados em músicas plagiadas pelo Tony ou por hits manhosos das pistas de dança dos anos 90 como aquele que deu sucesso aos 2 unlimited. Quando tu, observando tudo isto, acabas a noite a sorrir e a cantarolar para ti mesmo All for one, one for all If we all join hands, we’ll make a wall.