Depois de 6 vitorias consecutivas para a Liga, o passado fim de semana revelou-nos um Sporting que ainda não tínhamos visto este ano (mas que reconhecemos de gingeira doutras épocas). Desta vez não houve eficiência, arte, garra, ou uma destas em dose suficiente, para ultrapassar um frágil Moreirense. E esperar por mais um (justo) penalti salvador no fecho da partida era claramente imaginar que o Natal surge mais do que uma vez por ano.

Confesso que não fazendo a mínima ideia das razões que levaram à prestação dessa partida, não é preciso ser um Special One para arriscar em 3 factores prováveis: falta de foco; alguma parcimónia táctica inicial e dificuldade para furar um bloco defensivo baixo. Porventura as três sobrepuseram-se em diferentes alturas da partida, mas não deixa de ser preocupante constatar uma que seja. Principalmente porque têm sido a principal origem das dificuldades, a origem das distâncias pontuais que têm cavado o fosso entre a equipa e os títulos.

Embora seja prematuro apontar algum tipo de fraqueza crónica a esta equipa, convém reparar que o nosso campeonato é uma prova de regularidade, onde as distâncias pontuais não são relevantes se e só se, existir uma aprendizagem real com os erros cometidos e os pontos perdidos sejam matéria de uma análise profunda com vista para soluções práticas e sobretudo implementáveis. O empate com Moreirense exibiu alguns problemas e aqueles que já referi são suficientes para colocar JJ na secretária durante alguns dias, mas são solúveis até ao ponto de entender qual a origem de tão baixa efectividade na manobra ofensiva da equipa e na quebra de rendimento de peças fundamentais como Bas Dost ou Gelson, o apagão de Iuri (continuo a achar que está a 30% da sua capacidade) ou a nulidade de A.Ruiz na titularidade.

Ainda assim, metade da preocupação gerada pelo resultado e exibição do último jogo é claramente oriunda no início eufórico do nosso rival portista na Liga. Não era claramente expectável este arranque da equipa de Sérgio Conceição, que parecia (dizia-se à boca cheia) votado ao 3º lugar olhando sobretudo para o plantel à sua disposição. O problema é que metade da nossa prova maior interna é mesmo uma “competição” onde a atitude e a concentração são 50% e o resto é o talento para encontrar os caminhos da baliza em número superior ao adversário. Caem por terra (e de que maneira!) as teorias todas que aprendemos sobre as pré-épocas exigentes (atentem no número de jogos e grau de dificuldade dos adversários escolhidos pelos dragões no defeso). Caem por terra as teorias que para ganhar é preciso investir milhões em plantéis vastos e repletos de soluções complementares. Caem sobretudo por terra as leis que defendem que um treinador “na garra” não pode vencer títulos.

Estou com isto a assumir que já perdemos para o Porto a Liga? Não, mas digo com toda a certeza que convém reflectir muito sobre todas as leis que têm governado à atribuição do estatuto de “favorito”. Se o Sporting (ou o Benfica) quiser de facto ter uma palavra a dizer neste ano, terão de entender claramente a subvalorização que votaram ao seu rival nortenho e até que ponto existem fragilidades que para já ainda permanecem bem disfarçadas. As forças estão à vista: uma equipa mentalmente sólida, solta e alegre, com aproveitamento surpreendente em todos os sectores e jogadores, que não abanou com a derrota na LC e parece conseguir impor o seu futebol com naturalidade, aproveitando com distinção as características dos seus atletas, mais do que fiel a um sistema tático desenhado a regra e esquadro.

Muito se vai claramente decidir no próximo clássico. Se o Sporting vencer, passará para a frente da classificação e tirará alicerces fundamentais de confiança ao seu rival azul e branco. A distância para os encarnados, no mínimo, manter-se-á. Se existir um empate, ambos permitirão a provável reaproximação da equipa de Rui Vitória, com desvantagem clara para nós, pois em 2 semanas permitiremos (a existir vitória forasteira no Funchal) a recuperação quase total da distância para os nossos rivais de Carnide. Se o cenário for o mais negativo e perdermos o clássico, muito provavelmente ficaremos a par com o Benfica à distância de 5 pontos para o Porto, adensando em números a confirmação do perigo que se escondeu por detrás de uma derrocada financeira e da escolha de um treinador tantas vezes menorizado face aos “mestres da táctica” e aos gentlemans.

É claro que confio que o meu Sporting saiba trazer ao cimo todos os seus atributos e coloque em campo uma garra e vontade de vencer superior ao seu adversário. Não digo que devemos tentar vencer o Porto nas suas próprias vantagens, mas sim nas nossas, roubando ao adversário a supremacia de controlar o jogo, numa batalha de força e velocidade. Não. É como equipa, na táctica e matreira que podemos obrigar os portistas a sair fora dos planos de jogo “à Sérgio Conceição”. Como vimos contra o Besiktas, é na manobra coletiva e retirando o comando de jogo que os agora líderes da Liga podem ser ganhos e Jardim provou ontem não ter sabido ler essas qualidades e sobretudo coragem dos comandados por Sérgio Conceição. E se há equipa habituada a preencher 90 minutos com posse de bola e comando do jogo, essa é a nossa. 

Passei por cima do jogo de hoje à noite, apenas por uma razão: qualquer que seja o resultado do confronto com o Barcelona, é o desfecho do jogo seguinte que ditará a saúde da equipa nos tempos próximos. Da equipa e talvez até mais a dos adeptos. As seis vitórias e o apuramento para a Champions trouxe uma grande motivação à nação leonina, é da máxima importância que continue. Mas isso também depende do que os atletas entregam no relvado, estamos todos um pouco saturados de sermos os melhores adeptos do mundo, mas a comemorar tantos títulos como os piores.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca