Quantas vezes, desde o ano de 2004, te lembraste da Nave? Aquela Nave onde viajaste tu, o teu pai, quem sabe os teus filhos. Aquela Nave que viu o Kickboxing arrecadar um título de Campeão do Mundo, que viu o Hóquei em Patins vencer uma Taça das Taças, um Campeonato Nacional e uma Taça de Portugal, que viu o Voleibol celebrar três Campeonatos Nacionais, três Taças de Portugal e outras tantas Supertaças, que viu o Andebol conquistar um Campeonato Nacional, 6 Taças de Portugal e duas Supertaças, que serviu de palco ao domínio do Futsal com sete Campeonatos Nacionais e uma Supertaça. Aquela Nave que esgotou, em Janeiro de 2004, para o último jogo aí disputado, numa honra conferida ao futsal.

A verdade é que, para mim e para milhares e milhares, a Nave fechou portas, mas nem quando a bancada nova foi demolida e o velhinho Alvalade cedeu acreditámos que ela havia desaparecido. Quem nela havia viajado, quem nela havia aprendido tanto do que é ser do Sporting, sentia a sua presença, aos poucos tornada saudade e em memórias de tom meio sépia que nos recusamos deixar desaparecer. A Nave… algures perdida num universo tão rico, aos poucos votado a um quase abandono onde as modalidades iam sendo postas de lado, menorizadas, extintas, com a inacreditável complacência da maioria. Um estádio novo e a Nave por parte incerta, mantida a funcionar por quem não aceitou ceder na sua paixão e, jogando onde calhava, acreditou que aquele recanto de tantos sonhos e tantos festejos voltaria. Por quem acreditou que o Sporting, o eclético, o Clube de Portugal e não o clube de futebol, voltaria.

Quis o destino, que esse regresso se fizesse, precisamente, com a modalidade escolhida para nos despedirmos da Nave no dia em que se anunciou a sua última missão. No sábado, dia de dérbi de futsal, sentiu-se. Numa nova Nave, baptizada com o nome do comandante que criou a primeira e com capacidade para o dobro dos tripulantes, sentiu-se. E voltou a sentir-se um dia depois, com o voleibol. Sabes, é aquele momento em que a juba se eriça, em que o mundo lá fora não importa, em que esta paixão irracional te consome. E em que, no meio de tudo isto, tu olhas em volta e com o espaço que as lágrimas nos olhos te permitem, vês o sépia das memórias ganhar cor. E sorris.

Sorris e consegues imaginar que lá bem no fundo, numa daquelas camadas da terra em que se descobrem tesouros, um dos resistentes, camisola listada comida por tanta batalha, roda a ignição da velhinha Nave mais uma vez. E, desta, ela dá sinal, buscando uma nesga de energia nas baterias tão gastas de tanto andar de um lado para o outro e a usa para acoplar. Para voltar a casa. Para nos completar. É tudo isto que vais sentir quando fechares os olhos. É tudo isto que vais transmitir quando levares pela mão outra geração. A que te levou naquelas saudosas viagens e a que tu vais convidar para as novas, a bordo de uma Nave que esteve sempre dentro de ti e que precisa de ti para esta fantástica Odisseia Leonina.