Começam a ficar mais definidas as posições no futebol português. É por esta altura óbvia a guerra Liga Vs FPF e a prontidão com que a Federação empurra continuamente a sua influência em direcção ao esvaziamento do poder (cada vez menor) da entidade dirigida por Pedro Proença. É claro que ninguém nos irá esclarecer porque raio quer a Federação fazer a aniquilação da estrutura que dirige os clubes profissionais, mas é claro como a água que o actual presidente da FPF (e convém lembrar que também é ex-presidente da própria Liga de Clubes) definiu esse rumo e essa intenção.

Não será preciso nenhum génio para colocar no centro do problema e da contenda o controlo total, sobretudo da arbitragem, mas também da justiça e disciplina. Foram e serão sempre as “jóias da coroa” de quem quer ser o rei do sistema. Mas será a FPF um pretendente? Duvido. Acredito que está em marcha há muito tempo uma verdadeira instrumentalização da Federação. Como os mails provam à descarada, há dentro da Liga e da FPF muitos “infiltrados”, que sendo eleitos ou contratados, dedicam-se mais a fazer por ser “meninos bonitos” de Paulos Gonçalves e Vieiras do que verdadeiramente a cuidar da saúde do nosso futebol.

Na Liga de Clubes está hoje uma direcção que foi eleita à revelia do Benfica, o que por exclusão de partes podemos considerar como um eixo à margem do poder (pelo menos totalitário) do tal Polvo encarnado. Este é um verdadeiro enclave que sobrevive da pouca margem de manobra que Sporting e Porto ainda retêm, mas que está hoje em dia verdadeiramente exposto e manietado, talvez tentando resistir à ofensiva que por dentro o vai minando. Não fosse ela própria uma associação dos clubes profissionais, é reflexo da vontade dos clubes e o Benfica tem feito o suficiente para arregimentar votos e influências suficientes para manobrar as AG´s, impondo medidas e rumos impossíveis para uma Direcção encontrar formas de resolver os verdadeiros problemas das Ligas Profissionais. Mesmo assim, deteriorada, a Liga é uma pedra no sapato de Vieira. Um conjunto de votos poderosos (penso que 25% do total) que interfere bastante nas decisões da própria Federação.

No meio deste mapa, a APAF e o Conselho de Arbitragem tiveram de escolher um lado. Perante as últimas posições, nomeadamente a tal greve, podemos concluir que escolheram seguir o rumo da FPF, ou seja, o regaço de Vieira. Como explicar de outra forma o boicote, especificamente, à Taça da Liga? Fora do centro e bastante mais à margem do que o ideal, o Governo finge uma equidistância absurda. Imagine-se o ridículo de ver um polícia a assistir a um assalto e perante a indignação da vítima, responder-lhe que não quer tomar partido. De facto, está a tomar partido e ao nada fazer, está a esquecer a sua obrigação primeira: impor o cumprimento das leis. O Estado é o superior hierárquico da FPF, que através da atribuição do estatuto de entidade pública desportiva, rege sobre a mesma. Ao retirar esse estatuto, o Estado pode acabar por dissolver o poder de uma direcção e essa é uma arma que pode ser usada como influência. Mas não é e a FPF tem vivido sobretudo do equilíbrio de poderes entre os clubes, ou seja, tem vivido aos empurrões entre erros sucessivos e uma profunda falta de visão, planeamento e modernização.

Costuma-se dizer que a classe política teme o poder de controlo da opinião pública que os clubes grandes detêm. Isso é um facto e variadas vezes assistimos aos nossos governantes a lavarem publicamente as mãos dos problemas do nosso futebol, cinicamente manifestando um apoio puramente verbal sem qualquer tipo de vontade de apoiar os caminhos certos, punindo ou ajudando a punir os errados. Os reis dos vários sistemas têm contado com esta cobardia e bonomia, tanto quanto um criminoso conta com a passividade de uma autoridade corrupta. Não nos enganemos, o Governo e as entidades de serviço público estão ao lado de quem manda, mande bem ou mal, seja mais corrupto ou menos corrupto.

E o que sobra deste mapa “político”. Simples. A guerra total entre os 3 grandes, entre a FPF e a Liga, com todos os reguladores a escolherem lados em vez de assegurarem os regulamentos. O Governo tarda em entender o quadro e a palhaçada da audição de Fernando Gomes em sede da Assembleia da República é só mais um acting rasca que serve quer para a FPF se afirmar isenta quando não é, quer para o Estado se afirmar como atento e interventivo, quando é tudo menos isso. Como será natural, o cenário caminha para um descalabro total, para a incapacidade de haver consenso algum sobre seja o que for e…pior do que isso…o descontrolo absoluto em termos sociais. Estamos já em contagem decrescente para uma tragédia qualquer, para um super-facto horrendo, um marco épico na irresponsabilidade de quem prefere acusar os outros em vez de fazer o seu trabalho.

E chegados aí, com a pressão da opinião pública a exigir ação imediata, assistiremos à grande hipocrisia de culpar os justos e os culpados como se fossem a mesma coisa, deixando passar o Polvo pelos dedos da Justiça, julgando pregar na cruz os “culpados” pelo “clima” e assim encenar um acto de justiça maior. Esquecendo que a justiça implica separar, isolar e castigar os “criminosos”, tenham a força ou a influência que tiverem. O pior que pode acontecer a um ser humano não é perder o respeito dos outros, mas o seu próprio e em muitos sentidos, o futebol português está cravejado de gente que não se respeita, desculpando-se por tantas e tantas vezes vergarem a espinha ao poder, mesmo tendo a certeza que estão a dobrar-se ao lado errado, ao lado que prejudica o futebol em beneficio próprio.

Estejam atentos.

gomes vieira

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca