Existe uma tendência em Portugal, e a mesma não se restringe apenas aos adeptos leoninos, de considerar que existe uma espécie de propriedade mágica na forma como os clubes comunicam ou nos seus departamentos de comunicação. São raras as vezes que entro em tais discussões, mesmo sendo profissional da área, ainda que consiga reconhecer que um estruturado e coerente departamento de comunicação e assessoria de imprensa são essenciais em clubes da dimensão do Sporting. Escolho não me juntar às vozes que tantas vezes se insurgem contra esta estrutura por dois motivos simples: é algo que me desvia daquilo que me aproxima do Sporting (o desporto) e tenho plena confiança que em Maio isso terá pouca influência nos resultados conseguidos. Confio mais na competência técnica de jogadores e treinadores, num departamento de scouting organizado e numa excelente capacidade negocial, que nos permita fechar os alvos identificados atempadamente.

E não pensem que este é um problema exclusivo do Sporting. Uma simples pesquisa por blogs rivais e verão que são muitas as vozes que criticam a forma de comunicar do seu clube e que até entre os gigantes da Europa essa é uma realidade. Porque hoje consumimos informação como nunca, a uma velocidade nunca antes vista, e poucas são as organizações capazes de acompanhar as necessidades de quem as segue. Ainda mais quando os dados que têm a tratar representam péssimos momentos desportivos.

Hoje, e apesar de tudo aquilo que já referi, sinto-me forçada a tocar neste tema, porque a péssima gestão do mesmo tem consequências desportivas reais.

A partida frente à Juventus deixou bem patente aquilo que todos reforçamos ano após ano, mas que tantas vezes nos esquecemos. Todos os jogadores que compõem um plantel são importantes para as conquistas futuras e para as duras batalhas que todas as semanas teremos de superar. Sabemos da dureza do nosso campeonato, do valor dos nossos rivais e que a posição europeia em que nos colocámos nunca seria sinónimo de facilidade.

Portanto imaginem o meu espanto quando, em Outubro e apenas dois meses depois de fechado o mercado, me deparo com capa atrás de capa, informação atrás de informação sobre possíveis vendas (já contei André Pinto, Iuri, Jonathan e Alan Ruiz) e entradas (o tal médio, o tal central, o tal lateral esquerdo). Certamente terei de me questionar se seremos o único clube do mundo para o qual o mercado nunca tem fim. E se eu o faço, imaginemos todo um plantel.

É nestes momentos que exijo um departamento de comunicação mais eficaz e determinado em proteger o futuro desportivo do Sporting. Se é verdade, jamais pode ser revelado na imprensa nem encarado com tanta leveza, com o risco de estragarmos um planeamento desportivo que se mostrou capaz este Verão. Se é mentira tem de ser tratado perante os adeptos como isso mesmo, uma mentira sem qualquer fundamento.

Crescemos o suficiente nos últimos anos para entender que um balneário motivado, unido, blindado e em que todos os elementos se sintam valorizados é meio caminho andado para conseguirmos chegar ao objectivo final. Sabemos que todos os jogadores têm reações diferentes perante situações diferentes, mas continuamos sem verdadeiramente proteger o grupo de atletas escolhidos por toda uma estrutura para levar a cabo a tarefa. Insistimos que acreditamos na formação, mas permitimos que se alimentem novelas fictícias com jogadores que ainda têm de se impor na nossa equipa principal. Dizemos acreditar nos nossos, mas assobiamos para o lado ao vermos publicado que estes já não servem.

E pior que tudo isto, é visível que existe um efeito nocivo entre a massa adepta na forma como (des)considera os seus jogadores depois destes acontecimentos e que o treinador não é nunca (nem tem de ser) a voz que vai acalmar tais rumores. Posso não acreditar na poção mágica da “comunicação”, mas peço pelo menos que protejam sempre os nossos.

 

Captura de ecrã 2017-11-01, às 21.53.30

 

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa