Na minha adolescência, num “belo” subúrbio da Grande Lisboa, havia demasiados problemas para que existir também o fosse e como a cidade era muitas vezes incompatível com as “regras” que os nossos pais nos ensinavam, aprendia-se bem cedo as leis da rua, pois era lá que se vivia, muito antes das MTV´s e Playstations remeterem as diversões para dentro de quatro portas. Muitos destes códigos não eram passíveis de “passar no crivo” desta apoteose de protocolos politicamente correctos, mas valiam e eram úteis. Devo dizer que ainda hoje vivo respeitando muitas destas “leis” e aprendendo a separar as boas das ultrapassadas, vivo bem com a minha consciência e com a certeza que havendo quem me critique, na minha cara será difícil de defender as razões para que o tenha feito. Difícil, mas não impossível. Ninguém é à prova de erro.

Uma das regras mais estruturantes da “minha rua” sempre foi a que defendia que ninguém se devia “meter” com alguém abaixo ou acima do seu “calibre”. A primeira seria cobardia, a segunda um desrespeito pela hierarquia. Ambas eram punidas por todos. Estas regras não eram imutáveis, tal qual o estatuto de cada um também não o era. Mas havia equilíbrio e sobretudo respeito dentro de cada um num grupo e entre vários grupos. Valia.

É com isto na cabeça que olho para a postura do presidente do Braga, António Salvador, no aftermath da partida de Domingo e não posso deixar de vos confessar o meu nojo pelas atitudes (infelizmente não são as primeiras) que insiste adotar em relação ao Sporting. Salvador consegue ser cobarde e fanfarrão simultaneamente, o que seria trágico “na minha rua”. Fanfarrão, porque se monta em cima de um jogo que nos correu particularmente mal e cobarde porque, apesar de ser repetidamente espezinhado pelos nossos rivais, é connosco que “gosta” de fazer peito, nem que seja só para que na rua dele, vejam que, pelo menos em Alvalade, não baixa as calças. 

Tenho pena que o Braga seja presidido por este tipo de “coragens selectivas” e tenho ainda mais pena que o Sporting não possa responder-lhe na medida da cobardia que revela. Aliás Salvador só diz o que diz e faz o que faz, usando o nosso nome ou dos nossos dirigentes, porque sabe que vai ter as “costas protegidas” por uma imprensa que assina por baixo qualquer coisa contra o bom nome do nosso clube. Mas, tal como no passado, o presidente do Braga aposta num agradozinho especial aos nossos rivais, quiça firmando bandeiras em Alvalade consiga voltar ao regaço do seu “sócio” LFV ou piscar o olho ao seu grande ídolo de sempre Pinto da Costa. Uma coisa, tenho mesmo a certeza: conseguiu colocar um sorriso no seu patrão, esse vulto tão “amante” de leões decrépitos chamado Jorge Mendes. Queixar-se da arbitragem em Alvalade era algo que entendia se tivesse feito o mesmo aquando os confrontos com os nossos rivais, ocasiões onde foi bem mais prejudicado e onde curiosamente não foi rápido nem hábil a encontrar a sala de imprensa para se queixar. 

Mais. É verdade que o Braga, quer por agrado aos nossos rivais, quer por auto-estimas internas mal resolvidas, aprecia particularmente montar o cavalo de “grande” e querer substituir o Sporting nesse papel. O que Salvador e quem o acompanha se esquece é que há muito caminho a percorrer antes de poder contestar a hierarquia do nosso desporto. Antes, tem de fazer crescer a sua massa associativa 10 vezes, tem de conquistar 10 vezes mais troféus do que tem feito e sobretudo aumentar 10 vezes o número de modalidades que o Braga pratica. Se o fizer, então sim, estará apto a contestar a nossa posição. Até lá devia respeitar-nos na medida que o faz com outros, devia baixar e levantar as calças na mesma altura e muito importante, devia cuidar para que o seu mandato não venha a ser interrompido por investigações a ligações complicadas entre o mundo da construção civil e os dinheiro ganhos pelos “investidores” no futebol. 

De resto, acho que, usando o “código da minha rua”, o Sporting deverá olhar a este catarro súbito como olha a outras tosses de tantas outras formigas, respeitando o “calibre” menor do clube em questão, sobretudo a menoridade do carácter do seu presidente.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca