Não tive espaço na passada crónica, devido aos muitos acontecimentos dos nossos escalões de formação, de destacar as chamadas às selecções nacionais, que desta vez merecem real destaque.

Rafael Barbosa, Pedro Delgado, Ivanildo e Rafael Leão mereceram a confiança de Rui Jorge, que os chamou para os confrontos frente a Roménia e Suíça. E se no caso dos três primeiros a sua convocatória é encarada como algo natural (de assinalar especialmente a evolução de Ivanildo e Rafael Barbosa nesta edição da Segunda Liga) Rafael Leão, com apenas 18 anos, é a grande surpresa.

No Sporting desde 2009, onde chegou com apenas 10 anos, Rafael tem sido destacado pela positiva nos últimos meses, fruto do enorme crescimento que tem vindo a registar nesta espécie de limbo de passagem para o futebol profissional.

Tem 10 golos marcados este ano, distribuídos por equipa B, juniores e até equipa principal. Marcou em todas as competições em que participou, mesmo ao serviço de Portugal sub19, e é o próximo “ai Jesus” dos corações leoninos, que acaba por ser a expressão perfeita neste contexto.

O problema das referências atacantes continua a ser uma pedra no sapato do futebol de formação em Portugal. Rui Jorge foi o primeiro seleccionador a encarar esta ausência de soluções de forma séria. Adaptou o seu sistema, testou todos os jogadores que era possível testar, foi encontrando cada vez mais um modelo que nos permitisse ser goleadores sem um nove puro e soube encontrar forma de integrar um avançado de referência quando os descobriu. A forma de jogar hoje da nossa selecção A, o modelo que se foi espalhando por todos os escalões e o sucesso desportivo apresentado pela FPF tem muito, mesmo muito, da criatividade, do rigor e do pragmatismo de Rui Jorge.

Rafael Leão é apenas mais um “menino” a quem o nosso ex-jogador vai dar uma oportunidade. Porque sabe que no seu modelo encaixará de forma perfeita na frente de ataque, porque Rafael Leão é um camaleão que nos permite vê-lo a desequilibrar numa ala ou a ser uma verdadeira referência, porque tem velocidade, técnica e golo. E tudo isto apresentando uma altura de quase 1,90 m combinada com agilidade, algo raro no jogador português.

Leão continua a ter os seus problemas enquanto futebolista, até porque está longe de ter a sua formação verdadeiramente acabada. Ainda falta acerto em mais decisões, ainda tem muita vontade de entrar e resolver, com aquela energia própria de quem dá os primeiros passos, ainda lhe faltam muitos testes de fogo, principalmente do ponto de vista emocional. Mas para já deixa-nos a sensação de que já merecia ser aproveitado num contexto de maior exigência.

Há uns tempos, o dono do tasco referiu-se a um dos jogadores que mais aprecio na actualidade, Mbappé, dizendo que ao ver a sua evolução fantástica dava a sensação de que tal acontecimento seria impossível com Pedro Marques ou Rafael Leão. Hoje a sensação mantém-se. Existem jogadores que precisam de tempo, precisam de rodar, outros que saltam logo, outros que passam uns tempos pela equipa B. Depois existem os que com 18 anos gritam por mais e melhores desafios na sua precoce carreira. Aqueles que parecem continuar a formar-se enquanto atletas mesmo que no topo do futebol europeu. Pedro Marques pedia isso a temporada passada, Leão pede isso este ano. E tendo em conta que no mercado nos faltou uma peça ofensiva, a sua presença entre os maiores parece cada vez mais uma solução viável.

Para já, mereceu a atenção e a oportunidade junto a Rui Jorge. A seguir tem a palavra Jorge Jesus.

 

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa