Em Paços, era obrigatório ganhar e o Sporting… ganhou. Soube cerrar os dentes e os punhos e partir à procura dos três pontos que o voltam a deixar apenas dependente de si mesmo para alcançar o tão desejado título. E num jogo para Leões de juba rija, não admira que o destaque vá para homens como Mathieu ou Battaglia, operários de uma vitória abrilhantada pelo fantástico golo de Gelson Martins

redepaços

«Se não ganhássemos hoje, o empate do Porto não servia de nada». No final da partida, Jorge Jesus não dizia algo que já não soubéssemos desde a noite de sábado, mas a questão era mesmo essa: quantas e quantas vezes já vimos o Sporting desperdiçar estas oportunidades? Ainda para mais, frente a uma equipa treinada por um gajo que parece uma malapata e que nos tem roubado demasiados pontos.

Tal como Thom Yorke, um dos mais geniais artistas de sempre, líder de uma das melhores bandas de sempre, os Radiohead, o Sporting tinha, uma vez mais, que enfrentar os seus fantasmas e as coisas nem começaram da melhor forma: Acuña leva uma cotovelada intencional de Mateus e o árbitro transforma o possível vermelho num pedagógico amarelo para os dois; pouco depois, Mabil obriga Rui Patrício a mostrar que continuava com os níveis de concentração no máximo. Tudo isto em seis minutos.

Acordou o Sporting, com Gelson a aproveitar um mau alívio da defesa e a apanhar-se virado para a baliza. Pena que o remate de pé esquerdo tenha saído à malha lateral. Bem redondinha da canhota, desta vez de Coentrão, veio a bola para Bas Dost; o holandês faz tudo bem, tira o defesa da frente, mas quando já se gritava golo permite a defesa ao guarda-redes. Mas o golo acabaria mesmo por chegar, por intermédio de uma das figuras da partida: Battaglia. Se foi enorme enquanto esteve em campo (sairia depois de uma disputa de bola), correndo como se não houvesse amanhã e percebendo que isto era noite para muita luta, mais preponderante se torna por ter apontado o primeiro golo, na sequência de um canto, num daqueles momentos em que todos ficaram em suspenso à espera da decisão do VAR (que decidiria de forma certa, pois não há fora de jogo de Dost).

Era preciosa a vantagem ao intervalo, até porque se sentia que o Sporting não tinha agarrado no jogo definitivamente. Nem chegaria a fazê-lo, apesar da equipa do Paços estar controlada. Só que já todos sabemos como funcionam estas coisas dos fantasmas e voltámos a pensar neles quando Bruno Fernandes, uma sombra de si mesmo, claramente desgastado pela partida na Champions, apareceu para um grande remate que só parou no poste. Do outro lado, a barra. Toda a gente a facilitar num canto e o Paços quase a empatar por um gajo que não marca golos a quem quer que seja (perceberam como isto funciona?).

«Ai é? Estamos numa de exorcismos? Então tomem lá o Bryan Ruiz». A 20 minutos do final o costa riquenho regressava, colocava-se ao lado de William (Battaglia out) e pouco depois festejaria a obra de arte de Gelson Martins que dava o 2-0, na sequência de uma belíssima troca de bola entre Coentrão e Bruno César.

Os adeptos respiraram de alívio (quer dizer, não sei se eles chegaram a respirar, pois cantaram, cantaram, cantaram ao longo de 90 minutos, naquele topo pequenino onde parecia estar o dobro das pessoas permitido), Mathieu continuava a limpar tudo lá atrás e a liderar o quarteto defensivo e até deu para vermos o tal do Bryan a jogar a 6, entregando a William a tarefa de pressionar mais alto. Mas porque isto não tem graça sem sofrimento, toma lá um golo do Paços aos 89′, na sequência de mais um adormecimento colectivo na resposta a um canto.

E, pronto, agora que já sofreste vai lá descansar com a felicidade de teres voltado a depender de ti mesmo e até poderes terminar a próxima jornada como líder do campeonato.

We’ve been trying to reach you, Thom. So lighten up, squirt
Today is the first day of the rest of your days
Empty all your pockets, Because it’s time to come home