Tal como em Paços de Ferreira, o Sporting tinha que ganhar e ganhou. Asfixiante nos primeiros 20 minutos, expectante no resto de uma partida onde Patrício não fez uma defesa a sério, onde os adeptos se enervaram e onde a turma de Alvalade mostrou que por mais que o cataloguem como clube de queques este é, mesmo, o clube mais punk do país

basbelem

Olha, o Battaglia está no banco e o Podence joga de início! Este é o primeiro sinal de que estamos plenamente conscientes do que há a fazer: ganhar e ficar à espera do que aconteça no clássico que se joga a seguir. O segundo sinal é ver esse pendor ofensivo passar à prática, frente a um Belenenses que entra com um pequeno Fredy lá na frente e os supostos extremos e médios mais ofensivos encavalitados na dupla de carros de choque, Bouba e Yebda.

Mas isto de nada vale à equipa do rapazinho que, em Alvalade, nunca tem vontade de jogar o jogo pelo jogo. É como se o Sporting comunicasse com a linguagem gestual que aprendeu durante O Mundo Sabe Que e os pastéis fossem incapazes de acertar uma no quem é quem onde só William tem bigode e todos os outros usam os nomes em braille nas camisolas.

Dost ameaça aos dois minutos, a passe de Podence, na primeira combinação dos gémeos que tantas vezes já deixou o Sporting de barriga inchada de golos. E passados dez minutos em que o Belém se limitava a correr atrás da bola e a tentar que os seus jogadores não chocassem uns nos outros de tão apertadinhos que estavam, o golo: penalti tão claro quanto estúpido sobre Podence, classe de Dost na execução. Golo 50 do holandês, verdadeira máquina letal que abriria os braços para celebrar em equipa o resultado lógico de uma entrada onde Gelson parecia ser capaz de estar em todo o lado, Acuña derivava bem para dentro, os laterais subiam a bom subir e as trocas de posição entre Dost e Daniel faziam o resto. Sem esquecer Bruno Fernandes, claro, maestro da orquestra quem tem aquela bola fantástica, da direita para a esquerda, a pedir a bomba de Acuña que a entrar daria um dos golos do ano.

Antes, André Sousa rematou o remate (pareço o Nuno Luz) mais perigoso dos da Cruz de Cristo em todo o jogo (e é um auto de fé ver esta gente jogar): pontapé forte e colocado, na marcação de um livre, a passar perto de um Patrício que, a julgar pela ausência de trabalho numa noite fria, bem pode ter agradecido ao Paulinho ter-lhe colocado uma termotebe no cacifo. E, mesmo assim, a forma que encontrou de sentir o sangue correr-lhe nas veias foi fazer uma reposição de bola, rasteirinha, à queima, mesmo a pedir que o pastel a interceptasse e nos estragasse a noite (o Rui depois defendia na mancha, era o que ele queria, no fundo).

Ó Cherba, mas isso já foi nos dez minutos finais! É verdade, têm razão. Ainda íamos nos 23 ou 24 minutos da primeira parte. Faltavam 20 para o intervalo e, confesso-vos, se fosse verão e estivesse calorzinho eu era gajo para arriscar fechar os olhinhos no meu lugarzinho e só voltar a abri-los quando o Sebastiãozão mostrou raciocinar mais depressa do que o Alanzinho quando se apanha apertado por quatro ou cinco adversários. Um passe de trivela para o Dost, seguido de uma revienga de calcanhar e um cruzamento remate que se apanhasse alguém pela cabeça dava início à lista de ocorrências que a PSP e a GNR mostrarão ao mundo no final da “operação filhó”.

Foi chato, no fundo. A gestão era bem feita a bola era nossa (65% de posse ao intervalo, não foi?), mas, porra, nós somos o Sporting e o Belenenses não é propriamente o Barcelona (ah, espera…), apesar de Domingos achar que, como é que é mesmo? Ah, que deu um cheirete ao Sporting na segunda parte. Eu percebo que meter o Maurides, o tal que é irmão do Maicon, mas que apesar de ser avançado marca menos golos do que o outro que é central é coisa para não cheirar bem, mas não quereres ver que podias ter levado um do Bruno Fernandes, um do William, um do Bryan Ruiz (corte incrível do defesa) e um do Dost (já vos disse que o Dost é do caralho? Que jogador, pessoal, que jogador!)…

No meio de tudo isto, vários, muitos, fartaram-se de ver o Sporting trocar a bola, gerir o resultado, até porque devem ter-se lembrado que, sendo nós o Sporting, isto é meio caminho andado para dar merda e podermos levar um golo às três pancadas. E assobiaram, assobiaram alto, coisa da qual eu nunca vou gostar, mas que pelo menos serviu para me acordar e para a minha filha usar o raio do apito que as gaiteiras de serviço me fizeram comprar (mas não me espetaram o autocolante na peitaça, toma!). Aliás, o reboliço era tal, que o pessoal da curva sul começou a cantar cenas em islandês! Spor e, depois, Ting! E o resto do estádio não foi de modas e fez o mesmo. 47 mil almas a cantar numa língua esquisita, uns a assobiar, outros a barafustar, outros a aplaudir, outros a sair mais cedo que a tradição é para manter e o Bruno César ainda vai entraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrr (cala-te, Botas, já não posso ouvir-te!).

No final, estamos em primeiro e só dependemos de nós para de lá não mais sair. Mas a forma como o faremos promete ser a mesma de sempre: a sofrer, em ânsias que nos tiram anos de vida, a mandar vir uns com os outros, agora também em islandês ou à laia de assobio. Será sempre assim. Por esta estrada, por este caminho… à noite, de sempre! De queda em queda, de passo a passo, an-dan-do p’rá freeeeente! […] E as forças que me empurram… e os murros que me esmurram, só me farão lutar… À minha maneeeeeeeeeeeeeeeira, à nossa maneira!