Sinceramente, gostaria de vos escrever sobre a melhoria do desempenho desportivo da equipa de futebol este ano, dos bons desempenhos individuais, das vedetas que emergem, das modalidades onde seguimos em primeiro, do aumento estável e progressivo do número de sócios, todas estas coisas positivas que nos alegram os dias. Mas, tendo a entender este estado de optimismo como frugal, especialmente quando olho para o que vale tudo isto agora e como poderá ser afectado com as ocorrências marginais oriundas do submundo do nosso universo desportivo.

Todos conseguimos imaginar (e sim…é uma mania de perseguição) que mais dia, menos dia, teremos uma série de “acasos” perturbadores, aqueles “azares” provocados por terceiros que nos farão perder a calma e nos farão voltar, primeiro às cabeçadas com as instâncias de poder e depois a uma contestação interna irresistível…onde treinadores, jogadores, dirigentes valerão pouco mais do que lixo. À excepção da 1ª época de JJ e da temporada de Jardim (por razões distintas que todos conhecem) tem sido essa a nossa sina. Roubados primeiro e hecatombe interna logo de seguida. É como se no Sporting a melhor solução para um terramoto, seja ir a correr para a costa de encontro ao maremoto.

Tenho por garantido que esta reação autofágica se deve a um profundo estado de ansiedade. Ao mínimo sinal ou promessa de insucesso, grande parte dos adeptos leoninos não redobra o apoio e cerra fileiras…redobra a desconfiança e cerra os dentes para dentro do clube. Não vale a pena nos ausentarmos deste quadro, não vale a pena afirmar que somos alheios a este comportamento – nós somos mesmo assim. Aquando o empate com o Moreirense ou o Braga já não faltou quem não começasse a raspar as cabeças dos fósforo em tudo o que era promissor de atrito suficiente. Aconteceu mesmo. Várias semanas depois estamos em 1º lugar, novamente.

Há sempre lugar para aprender e sobretudo apreender que no desporto os problemas não se resolvem dando coices em tudo o que mexe e rebolar no chão em lágrimas. Não se resolve nada querendo que todos saiam ou não sei quantos entrem. Isso não é resolver…é apenas começar de novo. Vão se as ideias, vão se as convicções e as certezas. Vai-se a confiança e gera-se um estado de psicose grave onde se é tão bom e merecedor do clube como o último resultado da equipa de futebol. Isto não leva a crescimento e a evolução alguma, em lado algum do planeta, seja em que área de actividade for. Projectos? Programas? Gestão? Tudo pela janela…

É claro que não defendo que sejam dados cheques em branco a qualquer dirigente, treinador ou atleta. Defendo sim, que não devemos fazer avaliações sumárias assentes em ocorrências pontuais, nem desenraizadas do contexto competitivo. Confesso que sempre que vem a público mais uma bronca do caso dos emails, fico com a nítida sensação que o Sporting não andou/anda a concorrer com as mesmas armas dos seus rivais. E não deve ser por acaso que não existiu ainda nenhum apito verde, não há emails verdes, nem padres verdes. Não há porque, acima de tudo, firmámos a nossa frontal oposição ao sistema e nos isentámos de injectar dinheiro ou favores junto dos “vendíveis” ou “vendáveis” da nossa praça.

apoiotupper

Digam o que disserem, a única mancha da nossa reputação ficou saldada com a denúncia, condenação e expulsão de sócio de PPC (e nem sequer estamos a falar de uma tentativa de desvirtuar um resultado desportivo, mas sim um acto falhado de difamação).

Tudo o que está a acontecer no futebol português (e isto estende-se bastante mais longe do que isso) deve merecer-nos uma grande reflexão. Como adeptos e sendo um clube um conjunto de adeptos, temos de tomar algumas decisões e sobretudo adoptar alguns comportamentos como consequência das mesmas. Estaremos a lutar num plano de igualdade pelos títulos? Estará o Sporting, continuadamente e hoje mesmo, a ser secundarizado num qualquer jogo de influências? Irá a próxima equipa de arbitragem apitar-nos de forma isenta, sem “missas encomendadas”? O Presidente da Liga ou da FPF merece a nossa confiança ou lealdade institucional? Podemos confiar num Governo que se isenta, a cada passo, de acabar com esta pouca-vergonha?

Convictamente digo-vos que não. A resposta só pode ser não. Nada nem ninguém nos pode dar algum tipo de segurança. É literalmente impossível passar por uma década de Apito Dourado sem consequências e agora, depois de tomar conhecimento que estamos em pleno Apito Abençoado, continuar a confiar que o que vemos nos campos e nas secretarias não está completamente afectado por interesses e jogos de influências. É por essa razão e é de enorme importância, que todos os sportinguistas devem estar atentos e ser justos no apoio às várias equipas que vestem a nossa camisola. Não podemos, mesmo, cair na eterna armadilha do terramoto e maremoto que vos falei no início.

Ah…e antes que me esqueça…malta dos assobios à equipa em Alvalade (é que nem ganhando…) por favor tomem qualquer coisa fixe antes de irem para o jogo. Já não se suporta. A sério que não.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca