Quando chegou ao Sporting, ainda nos primeiros dias de mercado e sem grande barulho à sua volta, Cristiano Piccini foi rapidamente colocado na caixa de contratação falhada, não só pelos adeptos como pela própria imprensa. O Sporting vinha de um ano de terror nas faixas laterais (um dos problemas mais significativos da temporada passada) e a expectativa geral era de que o clube iria apostar forte no mercado para reforçar essas duas posições.

Piccini foi então a primeira contratação na era pós-Schelotto e isso tinha tudo para ser uma vantagem para ele, nem que fosse pela comparação ao seu antecessor. Uma pré-temporada dura, com jogos desafiantes e muito seguidos fez aumentar ainda mais a desconfiança em torno do lateral direito, a quem nem a comparação com Schelotto fazia desligar os alarmes dos cépticos adeptos de Alvalade.

Hoje, é consensual que Piccini é um dos responsáveis pelo melhor registo defensivo apresentado e que ajudou na melhoria do jogo colectivo do Sporting. Apresenta uma segurança enorme a defender, altos níveis de concentração e uma enorme entrega durante qualquer partida. Pode e deve melhorar no momento de auxiliar Gelson na frente, aliás é nesse capítulo que mais tem evoluído, mas cumpre exemplarmente a função para que foi contratado: ser defesa. E nem um par de excelentes jogos de Ristovski (que me parece ter sido também um achado) faz com que Jorge Jesus abdique do seu fiel e confiável lateral direito.

Piccini é, por si só, um enorme elogio ao futebol português e aos autênticos milagres de que é capaz. Chegou como flop no Bétis (o que nunca é um bom cartão de visita) e os adeptos do clube sevilhano até celebraram a sua venda por 3 milhões de euros. Vinha de uma sequência de lesões complicadas, procurava encontrar o seu espaço e surge a oportunidade de representar um grande clube que está inserido num país onde o dinheiro (mesmo para o futebol) não abunda. E assim um flop do Bétis, com histórico físico problemático, vira titular absoluto de um dos grande em Portugal e torna-se um dos excelentes destaques da equipa e do campeonato.

São inúmeros exemplos os que podemos dar em relação à valorização constante de activos em Portugal, onde aliás o Sporting ou os grandes não estão sozinhos. Clubes de todas as zonas da tabela encontram verdadeiras pérolas por lapidar por todo o mundo e conseguem projectá-los para os grandes campeonatos europeus ou para ligas mais apetecíveis financeiramente. Ainda ontem Ismailly, lateral que passou pelo Olhanense e SC Braga foi titular na vitória da sua equipa frente ao Manchester City. E do outro lado Otamendi, Mangala, Bernardo Silva ou Fernando.

Os treinadores, equipas de scouting e clubes continuam a conseguir catapultar o seu futebol com poucos recursos, conseguindo valorizações absolutamente milagrosas, o que não invalida que por vezes se falhe ou que o jogador não resulte. O Sporting, neste caso, conseguiu reconstruir duas posições e duas alternativas com um custo inferior a 10 milhões de euros, melhorando efectivamente o seu nível de jogo e a sua segurança defensiva.

Piccini é mais um dos grandes elogios que o futebol português recebe. Hoje é mais jogador do que alguma vez foi na sua carreira, é mais importante no Sporting do que em qualquer outra equipa por onde passou e até se encontra às portas da selecção nacional italiana. Tudo isto, porque teve a sorte de passar no futebol português.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa