Foi tão natural como tinha que ser, até com aquele assomo de irreverência do Vilaverdense a abrir a partida. Depois, com o passar do tempo, o marcador foi-se avolumando, Doumbia fez um dos hat-trick mais fáceis de sempre e quando Jesus foi ao banco buscar duas jovens feras ficou bem vincada a diferença entre as duas equipas

gelsondoumbia

Percebia-se que o Vilaverdense não encarava este jogo como mais um simples episódio da “festa da Taça”. Dos posts nas redes sociais aos vídeos motivacionais, onde os habitantes de Vila Verde eram protagonistas, nada faltou para deixar o recado bem expresso pela voz do treinador: se houvesse 1% de hipótese de seguirem em frente, seria a esse 1% que se agarrariam (com o extra de cada jogador do Vilaverdense receber 435 euros se vencesse o Sporting).

Tudo isso, mais a apatia inicial dos Leões, resultou num arranque de partida onde o David fez peito ao Golias e tentou ir por ali fora enquanto as pernas estavam frescas. Um remate à figura de Salin foi o melhor que conseguiram antes de recuar linhas e convidarem o Sporting a subir. Acontece que o Sporting também estava num ritmo de “deixa andar que isto mais cedo ou mais tarde resolve-se” e apenas quando a bola chegava aos pés de Iuri Medeiros o ritmo acelerava. Seria, aliás, o médio ofensivo a cortar da direita para dentro e a ensaiar um pontapé em arco que quase deu um daqueles golos que ficam na memória.

Antes disso, Doumbia tinha ameaçado ao cabecear, isolado, à figura do redes, e depois disso o mesmo Doumbia usaria o braço para meter dentro da baliza a bola que tinha embatido na barra, após cabeceamento de Petrovic. Depois seria Alan Ruiz a querer fuzilar o desamparado “portero” e a rematar para o topo sul e Tobias Figueiredo faria a bola beijar o travessão, até que Alan cruzou da direita, Bryan desviou para defesa de Pedro Freitas e, na recarga, Doumbia só teve que ajeitar lá para dentro. 1-0 em cima do intervalo.

Pelo início da segunda parte percebia-se que o golpe tinha sido demasiado duro para os jogadores do Vilaverdense, mas Jorge Jesus não foi de modas: meteu Gelson e Podence no lugar dos dois Ruiz e a equipa do norte passou de convidada a bombo da festa.

Os dois “putos” virariam do avesso a defesa adversária, oferecendo o 2-0 a Doumbia (diz o tal de Nené passou o caminho de volta a espreitar por baixo dos bancos da camioneta, à procura da bola) e, depois, Gelson continuaria a dar espectáculo com um passe belíssimo para Ristovsky cruzar e Doumbia voltar a encostar.

Com tanta prenda, o costa marfinense sentiu-se no dever de retribuir, mais não seja porque é Natal, e decidiu lançar uma correria do desconcertante Gelson; o extremo colocou a bola entre Nené e Rafael Vieira e convidou-os a assistir de camarote a um golo de classe que carimbou a passagem do Sporting aos quartos de final da Taça de Portugal, numa noite onde a festa do futebol português teve um forte perfume africano.