Reza a Bíblia que os três reis magos trouxeram presentes para adorar, com a cerimónia prestada a um rei, o nascimento de Jesus. O nosso Jesus, não terá três monarcas sábios, nem tanta adoração a ser feita, mas nas palavras do próprio, gostaria de ter ainda assim, as tais três ofertas em forma de jogadores e em substância de reforços para o plantel.

Apesar dos rumores e das capas de jornal, a verdade é que ainda estaremos de longe de saber quantos e quais serão estes presentes. Sabemos sim, que há uma intenção firme de corrigir algumas lacunas, particularmente na extensão de soluções do plantel, na capacidade das segundas linhas poupar titulares ou mesmo disputar com as primeiras a titularidade. Outro dado que conhecemos é a probabilidade de em muitas aturas durante o mês de Fevereiro, Março e (oxalá) Abril…o calendário de jogos vir a obrigar a bastante rotação.

Jesus, o treinador, presta particular atenção ao desgaste do seu 11 mais usado e todos podemos ver como foi exigente para estes o acumular de jogos no início da época. Entalado entre a afirmação de um núcleo duro bem oleado e a perda de fulgor físico e mental, o “mister” optou pela primeira e foi um risco que compensou, mas ainda assim com mazelas para alguns atletas e aqui ou ali uma exibição muito mais desinspirada do que seria expectável. Penso que seja com base nesse momento particular da época que JJ se apoia na convicção de que precisa mesmo de mais carne para canhão, mais escolha ou porventura novos enamoramentos que já não consegue descobrir nas “old cows” deste lote.

Olhando o plantel e o tempo de jogo de cada atleta, é bastante fácil identificar quem está numa primeira linha e quem está na segunda. Patrício, Piccini, Coentrão, Coates, Matthieu, William, Battaglia, B.Fernandes, Gelson, Acuna e Dost são os “donos” naturais das suas posições. Salin, Ristovsky, A.Pinto, Tobias, Petrovic, B.Cesar, A.Ruiz, Iuri, Doumbia e Podence são alternativas. De todos estes, apenas B.Cesar, Ristovsky, Doumbia e Podence foram opção para render uma titularidade sem que lesões ou castigos estivessem em causa. É pouco. Noto especialmente a pouca confiança nas segundas escolhas no sector médio. Petrovic, Palhinha, Mattheus Oliveira e agora B.Ruiz estão bem longe do valor dos titulares, tal como A.Ruiz está a milhas de B.Fernandes e Iuri de Gélson.

Não tenho muitas dúvidas que para JJ o “ouro, incenso e mirra” têm a forma de um médio capaz de entrar no triângulo de rotação com William e Battaglia. O aroma de um extremo com talento (e garra) para ser o vértice de apoio do descanso de Gélson e sobretudo Acuña. A textura de um avançado que permita à equipa continuar a encontrar um avançado referência posicional na área, coisa que Doumbia não parece ser talhado para ser. É certo que os media noticiam grandes certezas na chegada de Marcelo, central brasileiro do Rio Ave. Sem querer fazer comentários ao valor do atleta, é para mim muito estranho que, tendo A.Pinto e outros jogadores na B (e já dou de barato que Tobias tenha um caminho mais largo a trilhar), se “gaste” uma das três “prendas” num central. Mas…a ver vamos.

Outra estranheza minha é a fezada que depositamos na posição de lateral esquerdo. É verdade que Coentrão tem conseguido passar incólume nas últimas partidas e também é verdade que Jonathan parece (é um feeling…) que vai conseguindo passar do desastre absoluto a defender a…meio desastre e isso já é uma evolução. Ainda assim, quer um, quer outro são um risco elevadíssimo e, na minha modesta opinião, não podemos confiar tanto na sorte. Confesso que sempre que há sequer a possibilidade (ou a obrigatoriedade) de adaptar B.Cesar ou outro coitado qualquer ao lugar, começo a destilar suores frios e a recalcar traumas de avenidas imensas com livre trânsito para os alas adversários. E quanto à adaptação de Acuña ao lugar, apesar de “parecer” até tentador, convém que alguém veja os jogos que o moço fez pela Argentina nessa posição (ainda por mais num esquema de 3 centrais). É que “el huevo” mostrou tudo menos conforto na posição, passando tostado pelas “brasas” da crítica, algo que não deve estar ansioso por repetir.

Seja como for, termino o texto com uma pequena reflexão sobre a eterna polémica “JJ e a formação”. Aos que tanto criticam o treinador por não fazer de Geraldes, Dala, Palhinha, Iuri e outros as verdadeiras estrelas deste mercado de inverno, peço-vos que tentem ver com mais atenção e os pés bem assentes na terra qual o valor completo dos jogadores em causa no comportamento e principalmente na dinâmica de movimentos que esta equipa está a desenhar há 3 anos. Em teoria, todos eles têm o talento necessário (alguns mais do que isso) para virem a ser grandes vedetas de leão ao peito, mas o futebol jogado ao mais alto nível não vive de valores hipotéticos, vive de acções concretas e não desejando que nenhum jovem leão passe ao lado de nenhuma oportunidade, sei que uma equipa de futebol como o Sporting não pode ser um viveiro de talentos, tem de ser um viveiro de vitórias.

E antes que me caiam em cima pelo último parágrafo, deixem-me só dizer que prefiro muito mais um Geraldes a crescer e a adquirir estatuto no Rio Ave, do que a ler livros no banco de suplentes ou nas bancadas. Aquele tipo de jogadores tem de jogar, o mais possível, sempre que possível. É bom demais para ficar no nosso banco, talvez ainda não tão bom que destrone B.Fernandes (por exemplo). O caminho para já (para ele e outros) será mesmo a valorização e crescimento a jogar e não podemos “achar” que temos o direito de amputar o espaço de afirmação de um jogador como o nosso Xico só porque é giro ter um “wonderkid” na caderneta de cromos.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca