Foi um dérbi intenso, com oportunidades de golo para ambos os lados, com casos que teriam sido mesmo casos se não existisse o VAR e do qual saem os dois rivais com lamentos: o Sporting por ter visto a vitória escapar-lhe, o benfica por ter estado mais vezes perto de marcar. Os adeptos encarnados festejam efusivamente, os verde e brancos queriam mais vontade de fazer o segundo do que de defender a vantagem de um golo. No final, só os Leões continuam a depender de si mesmos para chegar ao título

Sporting's forward Gelson Martins celebrates a goal during the Portuguese league football match SL Benfica vs Sporting CP at the Luz stadium in Lisbon on January 3, 2018. / AFP PHOTO / PATRICIA DE MELO MOREIRA        (Photo credit should read PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP/Getty Images)

Sporting’s forward Gelson Martins celebrates a goal during the Portuguese league football match SL Benfica vs Sporting CP at the Luz stadium in Lisbon on January 3, 2018. / AFP PHOTO / PATRICIA DE MELO MOREIRA (Photo credit should read PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP/Getty Images)

O benfica estava sobre brasas e via neste dérbi, em casa, uma oportunidade, talvez a última, de dar sinais de vida e não ficar ainda mais longe da única competição onde está envolvido. O Sporting, mais confiante, sabia que ganhar no terreno do rival era feri-lo de morte e ganhar uma embalagem motivacional que poderia ter efeitos fantásticos.

E depois de dez, quinze minutos em que as equipas encaixaram e pareceu que dali não sairiam, Coentrão, Acuña e Bruno Fernandes inventaram uma troca de bola na ala esquerda, foram entrando na área e Coentrão dispara a bola que embate no pé de um defesa, sobre caprichosamente e todos ficam a ver Gelson saltar mais alto e mais rápido para o fundo da baliza. O Sporting não podia pedir melhor: aos 19 minutos ficava na frente do marcador, dava um soco no adversário e ficava com a possibilidade de aproveitar o contra ataque.

Mas seria o benfica o primeiro a reagir ao golo que todos os nós desatou. Quatro minutos após o tento leonino, Salvio encontrou uma auto estrada pela direita, foi até à linha de fundo e viu Mathieu prensar-lhe o cruzamento; a bola volta a ganhar um efeito esquisito e desta vez é Jardel a reagir e a cabecear mais rápido. Só que, ao contrário do que havia acontecido com Gelson, havia um tal de Piccini, um dos melhores Leões em campo, a tirar a bola em cima da linha.

Depois, Acuña, ensaiando um pontapé de fora da área para defesa apertada de Varela. E resposta na área leonina, com Jonas a rematar à queima roupa contra a cara de Coentrão e, na recarga, Krovinovic a fazer tremer a barra. Alarido, o do costume, com os de vermelho a berrarem penalti!, mas o árbitro bem a deixar seguir a jogada até final e a consultar o VAR que confirmou a não existência de corte com a mão. Logo a seguir, Patrício defende pessimamente uma bola para o interior da área e o mesmo Krovinovic desperdiça. Era a melhor fase do benfica e a pior do Sporting que, ainda assim, a três minutos do intervalo, podia ter sentenciado o jogo: enorme contra ataque, com Dost (uma vénia ao jogo monstruoso que fez, sozinho, ganhando praticamente todas as bolas e colocando-as jogáveis nos poucos companheiros que ia tendo) e Bruno Fernandes a trabalharem para meter Gelson na cara do guarda-redes, mas o extremo, apertado, atirar um pouco por cima do travessão.

Estava tudo em aberto para a segunda parte, que começo como a primeira: morna. Mais quinze minutos com as duas equipas sem arriscar, com o Sporting a gerir e o benfica sem conseguir criar perigo. Aos 60′, uma bufa de Jonas quase leva Coates a fazer autogolo (alguém leve o homem a um curandeiro) e do canto, nova carambola resulta num remate que embate nas costelas de Piccini e dá ideia de ter ido ao braço. Mais gritaria, mais uma decisão que foi acertada porque existe o VAR, esse bicho que muito já veio mudar e que voltaria a actuar, e bem, depois nova gritaria por uma suposta mão de William.

Por esta altura, Jimenez já estava no lugar de Pizzi e Rafa estava a entrar para o lugar de Fedja, rapazinho que escapou a um amarelo por puxão e a um vermelho por pisão propositado a Bruno Fernandes, tudo isto na segunda parte. Rui Vitória apostava tudo no ataque, ficando com o meio-campo apenas entregue a Krovinovic e os adeptos leoninos desesperavam por ver Jesus mexer num onze com as linhas cada vez mais recuadas e com o meio-campo cada vez mais colado aos centrais. No fundo, o treinador do benfica tinha aceitado o convite a lançar-se à maluca na busca do empate (perdido por um, perdido por mil) e o Sporting tinha via aberta para poder matar o jogo em contra ataque. Pedia-se Podence, pedia-se tanto Podence (Bruno Fernandes estava nas lonas, Acuña já não fazia piscinas e vão pró caralho os que ainda criticam Gelson depois de ver o puto fazer linhas atrás de linhas, recuperando e esticando, esticando e recuperando) que até já se via o puto a galgar os metros desprotegidos e a meter a bola em Bas Dost para a festa final.

Mas, não. Jesus preferiu acreditar que era possível conservar o golo de vantagem, mesmo com Coates a ameaçar novamente um autogolo, e meteu Bruno César. Depois meteu Alan Ruiz. E acabaria por sofrer o empate quando o benfica até já perdia gás, num penalti por mão claríssima de Battaglia. Castigo pelo conservadorismo e por uma segunda parte totalmente inexistente em termos atacantes? Prémio para quem acreditou que pelo menos conseguiria chegar ao empate?

Contas feitas, o Sporting fica a dois pontos do primeiro lugar depois de jogar num dos campos mais complicados e continua a depender de si para ganhar todas as competições em que está envolvido. E pese a irritação, justificada, dos adeptos pela total ausência de ousadia do seu treinador, este que foi o new year’s day do futebol nacional terá continuidade daqui por quatro dias, altura em que a turba verde e branca, tanto no estádio como nos pavilhões, entoará um I want to be with you Be with you night and day, Nothing changes on New Year’s Day On New Year’s Day… I will be with you again… I will be with you again