São 6000 a praticar desporto, desde o piso -1 das piscinas até ao pavilhão do 3.º. “Muita gente nem sabe da existência deste espaço, se calhar nem alguns colaboradores sabem”. Prontos para uma viagem ao mundo desconhecido de Alvalade?

Pouco imaginam que no interior do Estádio de Alvalade há uma carreira de tiro de modalidade olímpica, salas para ginástica de trampolins ou um dos melhores gabinetes de fisioterapia do país. “Muita gente nem sabe da existência deste espaço, se calhar nem alguns colaboradores sabem“. As palavras de Bruno Rebelo, responsável pelo Multidesportivo do Sporting, reforçam a ideia com que se fica após umas horas de visita guiada à zona mais agitada do Estádio de Alvalade: quem vê de fora não imagina a dimensão, nem a qualidade, de umas instalações que permitem ao clube fazer um trabalho único.

Na ala norte do estádio dos leões, distribuídas por quatro pisos, estão as mais diversas estruturas das 54 modalidades que o Sporting tem em atividade. Desde as piscinas, no piso -1, a um pavilhão para andebol e futsal, no piso 3, são dezenas de salas, com espaço para modalidades tão díspares como tiro, ténis de mesa, as várias vertentes da ginástica, kickboxing ou judo, para além de locais para os sectores administrativos de outros desportos, como o atletismo, ou um gabinete de fisioterapia onde trabalha, por exemplo, Naide Gomes. “Temos muito boas condições. O clube concebeu o Multidesportivo com o intuito de lhe dar mais-valias do ponto de vista tecnológico, portanto temos todos os recursos de que necessitamos“, garante Luís Ribeiro, fisioterapeuta que falou a O JOGO enquanto trabalhava com Anri Egutidze, judoca do projeto olímpico.

Com a preocupação de ter também condições para o desporto adaptado, são cerca de 6000 as pessoas que utilizam o Multidesportivo, que abriu em 2004 e na época 2015/16 já teve obras de remodelação. “Estamos só a falar daqueles que frequentam este complexo, porque muitas modalidades recorrem a outros espaços, por não termos capacidade de resposta. Mesmo sendo isto uma coisa enorme“, diz Rebelo, dando uma ideia da pujança do Sporting. “Os nadadores olímpicos, por exemplo, raramente treinam aqui. Eles trabalham nas piscinas de 50 metros do estádio nacional ou universitário“, continuou Bruno Rebelo. “Este espaço é muito grande. Mesmo eu não fixei onde estão aqui todas as modalidades do clube e muita gente não sabe a existência de algumas delas“, disse também Nuno Félix, atleta, diretor e treinador de tiro com arco.

Curiosidades
Espaço do judo é como um santuário
A sala onde treina o judo é talvez a mais “reservada” de todo o Multidesportivo. “São os atletas que limpam e arrumam tudo, faz parte da disciplina imposta pelo treinador Pedro Soares”, explica Bruno Rebelo.

Ténis de mesa com várias dimensões
O ténis de mesa tem uma sala própria, onde os atletas treinam e jogam, com capacidade para 78 espectadores. No entanto, na Liga dos Campeões, o Sporting já jogou no pavilhão onde treinam o andebol e o futsal (terceiro piso, com 150 espectadores) e, na estreia em casa, até já utilizou o João Rocha.

Carreira de tiro só não tem bancadas
A carreira de tiro a dez metros talvez seja o espaço mais inusitado do Multidesportivo. “Tem a luz, a acústica e a temperatura adequadas, sendo o chão do espaço dos referidos dez metros ocupado com pedras. “É assim porque ajuda a manter a temperatura ideal”, diz Rebelo.

Quando o básquete treina… kickboxing
No dia em que O JOGO fez esta viagem pelo Multidesportivo de Alvalade, a equipa feminina de sub-16 de basquetebol estava a treinar… kickboxing. “Isto acontece muitas vezes, as diversas modalidades interagirem umas com as outras”, conta Fernando Fernandes, treinador e grande figura daquela modalidade de combate.

Tiro com arco quase duplicou praticantes
No espaço dedicado ao tiro com arco, há quem comece a treinar às seis da manhã, dependendo dos horários de trabalho de cada um. Possui a curiosidade de ser um dos poucos locais incompatíveis com outras modalidades, por questões de segurança, sendo uma secção que praticamente duplicou o número de praticantes. “Quando esta Direção entrou, em 2014, tínhamos 17 atletas federados. Agora são 32”, revela Nuno Félix, diretor, treinador e atleta de tiro com arco.

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“A força do nosso público é brutal”
Rui Caeiro, responsável pelas modalidades do Sporting afirma que o clube tem condições e espaços de trabalho únicos no país e até no mundo, especialmente se pensarmos que muitos fazem parte de um estádio.

O pavilhão João Rocha foi decisivo para as modalidades do Sporting estarem todas na liderança?
-O Sporting tem o objetivo de ganhar sempre, independentemente do sítio onde compete. Quem está neste clube não pode pensar de outra maneira. Estivemos muito tempo “de casa às costas”, mas a exigência era a mesma e não foi por isso que deixámos de erguer inúmeros troféus. Agora, não podemos negar que não tem nada a ver. Era inadmissível e inacreditável o Sporting não ter uma casa para as modalidades. Esta Direção prometeu-a e cumpriu. É claro que ajuda, e muito. Trata-se do melhor e maior pavilhão ao nível de clubes em Portugal. As condições são ímpares e, acima de tudo, sentimo-nos em casa, que é onde uma família gosta de estar. A força do nosso público é brutal, são os melhores adeptos do mundo e todas as modalidades sabem que, quando eles estão em força, são mais um dentro de campo.

A possibilidade de o basquetebol sénior masculino aparecer já na próxima temporada existe?
-Para já, estamos a apostar na formação, que também faz parte do nosso ADN. Não nos vamos apressar. Todos os projetos são pensados e estruturados ao pormenor.

A criação do Multidesportivo e as várias modalidades que ali se praticam fizeram aumentar o número de sócios do Sporting?
-O constante crescimento do número de praticantes das nossas modalidades é um dos fatores que têm contribuído para o aumento do número de sócios. Não existe qualquer obrigatoriedade para que os utilizadores do Multidesportivo sejam sócios; no entanto, parte deles faz questão de sê-lo. E isso é muito bom e um motivo de grande satisfação e orgulho para esta Direção. É um claro sinal de que aqui encontram não só excelentes condições para a prática das mais diversas modalidades, mas também um acolhimento que vai ao encontro dos valores do clube. As pessoas sentem-se bem e querem fazer parte desta família. Paralelamente, encontram no Sporting um nível de qualidade técnica e competência que é ímpar no desporto nacional.

Há mais algum exemplo do género em Portugal?
-Sinceramente, com este nível de ecletismo, não conheço. Uma infraestrutura como esta, dentro de um estádio de futebol, que atualmente conta cerca de seis mil praticantes nas mais diversas modalidades, arrisco dizer que é caso único. Quem não conhece não tem noção da envergadura destas instalações. O Sporting é o clube português que coloca mais pessoas a praticar desporto. O nosso principal foco é obviamente o aspeto competitivo, mas não descuramos outras vertentes, como o lazer, a preparação física ou a reabilitação. Temos um leque de oferta enorme. Em Portugal, repito, com este nível de ecletismo, quem quiser praticar desporto, seja com que objetivo for, só pode pensar no Sporting como primeira opção. Julgo que é caso único no país e um dos poucos a nível mundial.

Como se consegue cobrir as despesas que uma infraestrutura destas acarreta?
-Hoje em dia, fruto de uma restruturação financeira de sucesso, os orçamentos destinados às modalidades são provenientes em grande parte da quotização dos sócios e dos inscritos nas modalidades. Por isso, esta Direção tem vindo a defender que é importante sermos cada vez mais associados, uma vez que proporcionalmente teremos cada vez melhores condições e plantéis. Depois, existem também os nossos parceiros – felizmente, há um número crescente a querer associar-se às nossas modalidades. O Sporting é um símbolo mundial do ecletismo e ser parte integrante desta referência é algo apelativo e entusiasmante para qualquer marca. Estamos gratos pelo importante apoio que nos têm dado, nomeadamente ao nível dos equipamentos, que permitem melhorar as condições de treino dos nossos atletas.

reportagem publicada no jornal O Jogo