Este é daqueles jogos que marcam. Ou que podem marcar. Ou que nos deixam tão de mal com a vida que dá vontade de mandar tudo e todos procurar a mãe num bordel. Este é um daqueles jogos onde não se podia perder pontos e onde o Sporting fez questão de perdê-los por erros não só patéticos como recorrentes

brunofodido

Podemos olhar para este 1-1 como um resultado da má sorte. Afinal, o Sporting sofre o golo no único remate enquadrado do adversário e que, ainda assim, teve que ser feito de penalty, sem esquecer que esse penalty nasce de um biqueiro para a frente que apanha as costas da defesa leonina. E Rui Patrício não fez uma única defesa.

Juntamos-lhe mais ingredientes: o Sporting teve oportunidades de sobra para sentenciar a partida, nomeadamente a partir da altura em que Couceiro resolveu arriscar e deixou de defender com tantos homens. Coates, de cabeça, atirou a menos de um palmo do poste; Bas Dost trocou um remate à baliza por uma tentativa de gentileza para Bruno Fernandes; Acuña ia inventando o golo do campeonato com uma chapelada a uns bons 40 metros; Gelson Martins, um dos melhores, correu meio-campo e meteu em Ruben Ribeiro, que desperdiçou; Bruno Fernandes teve lance de génio dentro da área, mas viu Cristiano desviar o esférico para o poste e para canto. E tudo isto na segunda parte, que na primeira pouco mais houve para contar além do golo de Bruno Fernandes, concluindo um belo movimento de Gelson, batia o relógio na meia hora de jogo.

Mas pode resumir-se este miserável empate, frente a uma das mais paupérrimas equipas da nossa liga, a uma questão de ineficácia e de um azar desgraçado a que alguns preferirão chamar “karma”? Poderá a culpa ser, apenas, dos jogadores? Não. De todo.

Escudado no chavão do pragmatismo, o Sporting tem acumulado exibições pobres, sem chama, sem rasgo, vivendo à custa da capacidade goleadora de um avançado e da estabilidade que um guarda redes e mais quatro homens dão lá atrás. Vão-se batendo recordes de invencibilidade, sofrem-se poucos golos, o holandês marca muitos. Mas o futebol, esse, aparece pouco e são várias as partidas onde fica a sensação de que o Leão “anda demasiado à chuva”. Recordem-se os jogos da Taça, frente a equipas menores, onde até foi preciso chamar o 8 e o 28. Recorde-se a partida da ronda anterior, em casa, com o Aves, onde não sofremos golos na primeira parte porque não calhou. E recorde-se o dérbi, onde alguns viram no empate um bom resultado na manutenção da distância para quem vinha atrás e eu continuo a ver uma oportunidade perdida para dar o golpe final num dos rivais.

E nessa noite, tal como na de hoje, Jorge Jesus fica mal na fotografia, pela péssima leitura do jogo a partir do banco. Reservar a primeira substituição para os 85 minutos, quando Piccini tinha ameaçado rasgar ainda na primeira parte, quando Gelson se agarra à virilha a cada dois piques ou quando Acuña joga claramente em esforço é de uma teimosia incrível e deixa-nos sem perceber porque raio quer o homem tanto jogador se parecem contar sempre os mesmos. Depois, não ser capaz de passar a mensagem lá para dentro que o jogo acabou e que a defesa já não precisa de estar quase no meio-campo, é um erro.

De erro em erro, do mister ou dos craques, o resultado foi este: a perda da liderança e um empate que é um muito mau início para o ciclo diabólico que nos espera. Quarta-feira há mais, num jogo a eliminar, e a grande dúvida que se coloca é se este resultado nos toldará a confiança ou se, pelo contrário, resultará numa raiva, bem expressa por Fábio Coentrão, que saberemos capitalizar a nossa favor?

Sem saber a resposta, eu prefiro acreditar na segunda hipótese. Prefiro acreditar que, sim, saberemos responder e, dentro de uma semana, estaremos a festejar a primeira conquista da época. Afinal, grande parte desta paixão verde e branca alimenta-se da fé. E essa, tal como a esperança, é a última a morrer!

Everybody’s bleeding’cause the times are tough
Well it’s hard to be strong, When there’s no one to dream on
[…] Now you know is not too late… don’t let your love turn to hate
Right now we got to Keep the faith, Keep the faith, Keep the faith…