Muito contra vontade cruzo-me com frequência com adeptos das putas antes e depois dos seus jogos em Carnide. Tanto o Sporting como o benfica são clubes de índole popular, com massas adeptas algo idênticas em termos de classe social e de distribuição de idades. No entanto, a maneira como os adeptos dos dois clubes vivem o jogo antes e depois do apito final não podia ser mais diferente. Nós vamos nervosos, tensos, expectantes em relação ao que virá “ao dobrar da esquina”. Em cada recanto há um senhor de meia-idade nervoso e de cigarro na mão. Eles vão leves e soltos. As mães vão sorridentes com os maridos e os filhos pela mão. Os casais de pré-adolescentes tiram e partilham fotos. As namoradas que nem gostam de futebol vão disfrutar da festa. Pelo meio lá se encontra um velho tenso e desdentado, que se cospe todo de cada vez que tenta dizer (L)SLB.

Acho esta diferença interessante e merecedora de reflexão mas arrisco-me a dar uns palpites:
– ELES já viram o Pizzi jogar a bola com a mão sem ir para a rua. Já viram Renato tentar partir a perna ao Bryan sem penalização. Já viram os centrais do Braga e do Belém a trocar a bola em slow motion com o guarda-redes. Já viram defesas do Moreirense desviarem-se do Jonas. Já viram guarda-redes terem crises de ciática no momento de se lançarem à bola.
– NÓS já vimos apagar-se a luz em Chaves quando estávamos perto do golo. Já vimos um gajo marcar com a mão em Alvalade. Já tivemos um árbitro em Alvalade a querer ir à tromba do nosso preparador físico. Já vimos um árbitro marcar-nos um golo num jogo da equipa B. Já nos roubaram um campeonato em Alvalade com um golo em carga ao guarda-redes aos oitenta e tal minutos.

Nós vemos fantasmas em cada ataque e em cada defesa. Já vimos coisas inacreditáveis “que só a nós nos acontecem” nos primeiros 10 minutos, nos últimos 5 minutos, no início da segunda parte ou no tempo de desconto. Isto tem impacto sobre a forma como apoiamos a equipa no estádio, sobre como digerimos as vitórias e, principalmente, sobre como digerimos os empates e as derrotas.

Este jogo em Setúbal tinha todos os condimentos para mexer com a cabeça dos adeptos. Um adversário difícil. Um adversário que vive da esmola das putas. Um adversário treinado por um sportinguista suave. Um adversário onde joga o Edinho, que no ano passado cavou e converteu um penalty que nos tirou da taça Lucílio. Um jogo que se arrastou para lá dos 90 minutos com vantagem mínima para o Sporting. Um jogo em que o Edinho entra aos 85 minutos e cava e converte, novamente, um penalty que nos penaliza muito.

O jogo acabou e toda a gente perdeu a cabeça. Eu incluído. Atirei o leitor de mp3 ao ar e dei cabo dos headphones enquanto dizia caralhada. Liguei o PC e fui ao twitter ler as reacções do pessoal. Li coisas que em primeiro lugar me irritaram e em segundo lugar me puseram a pensar. Em baixo um resumo das coisas que li acompanhadas do meu mais sincero, simpático e honesto comentário:
– “pusemo-nos a jeito” – a jeito o caralho! Nem sempre se consegue marcar 5 golos. O Edinho tropeçou nas próprias pernas e o Veríssimo vinha com a missa bem ensaiada (lembrem-se do cabeçamento do Coates na primeira parte, no qual foi assinalada falta…fez lembrar aquele golo do Slimani anulado pelo Manuel Mota não foi?).
– “Jesus devia ter mexido mais cedo” – e quem era o gajo com golo que ia entrar e espetar três nos gajos? O Vietto? Oh wait…
– “o Sporting oferece-nos mais desgosto que festa” – o benfica oferece mais vouchers, mais malas, compra mais direitos de opção que nunca exerce e empresta mais jogadores. O porto oferece mais fruta, tem mais observadores de árbitros e mais gajos de claques atrás de árbitros de futebol. Numa indústria destas o que é que o Sporting nos podia oferecer? Queijadas?
– “#jáfomos” – oh caralho, e eu a pensar que estávamos a 1 ponto da liderança e potencialmente a 4. Se calhar vamo-nos todos enrolar a chorar numa manta, não?
– “benfica e porto não vão perder pontos” – o Porto está todo roto. O Benfica está a queimar todos os cartuxos no jogo da mala. Isso dura até não durar mais. Não sei se os adversários das putas vão continuar a preferir abrir as pernas ao Jonas ou ir à PJ ser interrogadores com o método “Pereira Cristóvão“.
– “a culpa é dos posts do BdC no Facebook” – ou do facto de eu ter colocado pimenta-branca em vez de pimenta-preta nos bifes ao jantar. Oh meu Deus, o que eu fui fazer ao Sporting.

Dito isto, queria apelar a todos os sportinguistas que ainda estão de cabeça perdida que é hora de limpar o ranho do nariz e de abrir os olhos. O mundo do futebol está mesmo contra nós e se nós não defendermos o Sporting ninguém o fará por nós. Não somos calimeros. Há e houve, durante mais de 30 anos, uma conspiração orquestrada para não nos deixar vencer o campeonato. Estamos na Liga Voucher, na Liga dos Padres, na Liga Frankc Vargas e na Liga das Putas. O Ricardo foi carregado pelo Luisão. O Bryan Ruiz não é responsável pela perda do título. O golo do Alan Ruiz na Madeira no ano passado era legal e o fiscal-de-linha sabia-o. A culpa não é do JJ, do Bruno ou do Saraiva.

Somos do Sporting e somos o Sporting. É esta realidade que temos de enfrentar e de ultrapassar. Por isso cada um de nós TEM de fazer a si próprio esta pergunta:
Am I brave enough?
Am I strong enough?
To follow the desire
That burns from within
To push away my fear
To stand where I’m afraid
I am through with this
‘Cause I am more than this
I promise to myself
Alone and no one else
My flame is rising higher

Eu sou. E vocês?

ESTE POST É DA AUTORIA DE… Shark
*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]

Esta semana, em virtude de uma quarta-feira com meias da Taça da Liga, os pratos começam a ser servidos mais cedo