O crescimento do Sporting como clube depende, sabemo-lo, directamente da sua prestação no futebol. Não exclusivamente, mas quase. Um bom ano para o nosso emblema é um ano em que se somem conquistas importantes neste desporto em particular. É verdade que nas últimas épocas isso não aconteceu e o clube continua a aumentar receitas, número de modalidades, infraestruturas, atletas e sócios. Tal deve-se à subida de rendimento médio da equipa de futebol e a uma chegada estável ao estatuto de candidato, o que mantém durante longos períodos da época a massa associativa bastante aderente e a fazer despontar mais leões por arrasto. Mas o que tornou esta recuperação possível, foi antes de mais nada, uma boa gestão e voltaremos a esta concepção mais tarde no texto.

Apesar de não termos qualquer titulo de campeão nas últimas épocas, o Sporting aproximou-se muito dos seus rivais e é essa evolução que nos tem espelhado o clube que imaginamos ser. Mas, como em tudo na vida, é extremamente difícil crescer, alimentando-nos apenas de aspirações. Esta necessidade é há muito uma urgência, um enorme foco de ansiedade que gera impaciência. E a impaciência gera inevitavelmente más decisões. Dependemos então de vitórias para estabilizar tanto como de estabilizar para obter as vitórias e a esta pescadinha de rabo na boca que devemos dedicar muita atenção nos próximos tempos, especialmente se voltarmos a vislumbrar nesta temporada mais um ano sem conquistas.

A cada desaire da equipa de futebol, questiona-se tudo e todos, exige-se a saída de meio mundo para entrar outro. Esta reação é normal, faz parte deste desporto há muitas décadas e ninguém está ou deve considerar-se acima ou inatingível pela mesma. A frustração do adepto é um factor a ter sempre em conta, tanto como o seu apoio ou lealdade. Pode não ser um adepto “modelo” quem, levado pela ira, pede a cabeça de um treinador depois de uma derrota pontual ou desacredita a meio do caminho no sucesso final, mas…ainda assim, é um adepto e a sua reação, por mais desmotivada que seja, é de extrema facilidade em explicar ou entender.

Todos temos formas diferentes de encarar os desaires, todos exibimos fervores diferentes, todos temos os nossos períodos de azia, descrença, raiva ou depressão. O que não pode, de forma alguma acontecer é o cenário dos que foram mandatados pelos sócios para gerir o clube se deixarem afectar por estes estados de alma. Claro que são, antes de mais nada, também eles adeptos e sofrem com as amarguras que todos nós sofremos, mas cabe-lhes uma perspectiva diferente e sobretudo metas menos circunstanciais. Enquanto os adeptos podem ter a tentação de eleger um suicídio colectivo como a resposta a uma derrota, os dirigentes têm de ver muito para além do mero resultado desportivo e pesar todos os prós e contras em qualquer decisão. Dito de outra forma, os dirigentes do Sporting têm de olhar a dois tipos de evolução: a imediata e a de longo prazo.

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Se o Sporting não conquistar qualquer troféu esta época, deve pelo menos criar as condições para ficar melhor posicionado para fazê-lo na próxima e isso muitas vezes passa por aproveitar tudo o que está a ser bem feito na época que decorre no presente. A gestão deve ser puramente racional e nunca emocional. Também eu gostava de despedir JJ semana sim, semana não. Também eu gostava de mandar 10 jogadores para a B e contratar outros 10 de valia muito mais evidente. Também eu gostava de depois de uma derrota ou um empate como em Setúbal, entrar pelo balneário dentro, pegar nas chaves dos carros de luxo dos nossos jogadores e só as devolver quando estivéssemos 10 pontos à frente na classificação. Mas, a verdade é que nenhuma destas medidas é realista e contribuiria para resultados positivos no crescimento quer do clube, quer da equipa de futebol. A isto não se chama gerir. É reagir, sem cuidar dos dias futuros.

Épocas decisivas, na verdade são todas. Mas para um clube que já comemorou o seu centenário há mais de 10 anos, o futuro deve-nos algum respeito e sobretudo mais calma. Cenários como a continuidade de JJ, a venda ou compra de jogadores, a guerra com este ou outro emblema, a forma como a arbitragem se está a adaptar às leaks, tudo isto são dados de um algoritmo bastante complexo, onde uma acção precipitada pode deitar anos de crescimento pela janela ou hipotecar a nossa afirmação competitiva demasiado dependente da prestação financeira da nossa SAD. Sejamos todos um pouco mais honestos nas nossas avaliações, esta direcção tem feito um trabalho de muito mérito na estabilização da capacidade económica do clube, nas escolhas dos treinadores e na maior parte dos investimentos em atletas. Tem sobretudo aprendido com os erros, nomeadamente ao nível do scouting e a equipa tem melhorado continuamente, subindo patamares de época para época. Se continuado, este trabalho e este rumo darão frutos. Chama-se a isto acreditar no trajecto, no projecto, nas regras que têm sido melhoradas, mas obedecidas.

Há falhas, claro, e muitas. A forma como dialogamos com os outros emblemas deverá ser bastante mais cínica, muito mais fiel ao interesse máximo do clube e não em choque permanente com a fraqueza de carácter dos restantes dirigentes. A diplomacia é uma arte e só os mais calculistas tiram partido das vantagens da mesma. Deveremos também adaptar-nos a uma forma nova de comunicar, mais atenta ao que os adeptos são e retorno do que investimos. Vender um cachecol não é receber uma dezena de euros em troca de um bocado de tecido impresso, é fazer um adepto feliz, é ativar um laço de identificação e pertença. A visão comercial deve ser congregadora.

Temos de jogar com mais players na comunicação, a desempenharem papéis diferentes nos media. Precisamos de polícias maus, bons, bonzinhos, durões badass, mas todos com algum sentido de elegância (não precisamos de sebo tóxico como Guerras e Janelas).

Devemos, isto é muito importante, valorizar mais e com muito melhor marketing o nosso melhor produto – os jogos em Alvalade têm de ser um happening de excelência, algo que os adeptos têm de sentir que é muito mais do que apenas presenciar mais um jogo, muito mais do que trazer mais 3 pontos no final. O horário das nossas partidas tem de ser um cavalo de batalha para a nossa direção, por mais que as tvs tenham a faca e o queijo nas mãos. Nada disto é fácil e apesar de serem falhas a corrigir, nunca direi que são de fácil implementação. Nenhuma dificuldade o é por acaso.

No final, acredito no Sporting. Acredito em “nós”. No que fazemos agora e no que vamos construir no futuro. Acredito na evolução e crescimento do clube, na maturidade da gestão dos nossos dirigentes e na capacidade dos adeptos, que passando as azias (que devem ser respeitadas), encontrarão sempre o caminho de volta a Alvalade ou qualquer outro estádio para apoiar a nossa equipa. A União de Aço depende de Raças que Nunca se Vergarão.

Acredito num trajecto e num projecto.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca