Não tenho por hábito ver as flash interview após os jogos e ontem era um dia de demasiada alegria para perder tempo (mais uma vez) com uma torneira de clichés futebolísticos a serem despejados por quatro intervenientes cansados.

Perdi Mathieu a sorrir e a dizer que estava no melhor clube em Portugal, mas ganhei a vida depois dele marcar o golo. E perdi também um momento infeliz do nosso treinador que, na sua sede momentânea de brilhar, avisou a nação sportinguista de que o seu mais recente reforço não era mais que uma tentativa falhada de encontrar uma alternativa a Fábio Coentrão, porque os “mais ou menos” já não eram para o nosso bolso.

Sei que Jorge Jesus tem sérias dificuldades em ser politicamente correcto, a manter um discurso institucional e sei que a sua forma de ser tão genuína o faz dizer as maiores barbaridades sem pensar nas consequências. Mas a sua intervenção sobre Lumor teve um toque de crueldade e insensibilidade indesculpáveis, ainda mais tendo me conta que aquelas eram as primeiras horas de um jovem jogador ao serviço de um clube da dimensão do Sporting. Lumor pode não ser o que Jorge Jesus ambicionava, mas a política correcta nunca poderá ser a de desistir de o fazer valer como alternativa antes do primeiro treino. E por estes motivos e porque abomino a injustiça, o meu texto de hoje é uma simples análise ao atleta que chegou ao Sporting e uma tentativa de que quem a leia consiga ignorar as palavras do nosso treinador.

Primeiro que tudo, há uma certa simpatia por saber que assim que chegou uma proposta do Sporting, Lumor ignorou qualquer outro compromisso para jogar de verde e branco. Na Holanda, mais precisamente em Eindhoven, uma equipa e membros da direcção do PSV aguardavam no aeroporto pelo lateral esquerdo com quem tinham tudo acordado e por quem iriam pagar 5 milhões de euros por 80% do passe. Lumor tinha acordo para assinar e cumprir os habituais exames médicos mas chegada a proposta leonina veio directamente para Lisboa e optou por ficar em Portugal. Cocu, treinador do PSV, revelou a sua cólera pelo negócio falhado e a frustração de que outro emblema se tenha intrometido no negócio. Não sei o que pensam, mas só por isto já gosto um bocadinho mais dele.

Em termos desportivos, Lumor está longe de ser um produto acabado e pronto para ser um titular indiscutível ao serviço do Sporting. Tem velocidade, resistência e passada larga, características que encontramos em muitos futebolistas africanos, mas o que apresenta em qualidades técnicas é infinitamente maior ao que apresenta em atributos tácticos. Será sempre um lateral que compensa mais as suas falhas de posicionamento ao invés de as evitar. Jonathan parecia ser um jogador com mais “nome”, mais pronto a assumir-se num grande e talvez por isso nunca demonstrou muito conhecimento das suas próprias limitações. Ao contrário do nosso argentino, Lumor parece compreender melhor que não é o Jordi Alba, que tem arestas a limar e esse é um sinal de inteligência interessante.

Terminou a sua formação ao serviço do FC Porto (onde venceu o nacional de juniores) e esta foi a sua primeira experiência fora do Gana. Seguiu depois para Portimão onde fez 38 jogos na sua primeira temporada e 22 em metade da segunda. Em Janeiro foi emprestado ao TSV 1860 Munique e regressou depois a Portugal para actuar na Primeira Liga. Este ano já cumpriu 21 partidas e era, até ao momento, um dos imprescindíveis de Vítor Oliveira.

No fundo, o ganês está longe de ser uma certeza e longe de ser um risco desmedido. Com 21 anos e com muitos clubes interessados no seu trajecto (para além do PSV existiram mais propostas) é um jogador que parece ter muito potencial, até pela facilidade com que se incorpora no ataque, e que trabalhado poderá oferecer características físicas que Coentrão não consegue. Tem conhecimento da Liga, o que é uma vantagem e para mim quase essencial no mercado de Janeiro, mas as suas verdadeiras qualidades só agora serão testadas.

A última vez que jogou em Alvalade, foi assim (clica).

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa