Sou habitualmente uma adepta de futebol aborrecidamente tradicional. Os meus jogadores favoritos são aqueles que marcam golos, que dão assistências, que arrancam as jogadas de tirar o fôlego e que puxam o lado mais espectacular do jogo. E por isso será sempre estranho que surja um médio ou defesa na galeria dos meus ídolos de sempre ou quando aparecem estão sempre disfarçados entre calmeirões marcadores de golos ou tecnicistas que mudaram clubes. E ainda assim reconheço com toda a naturalidade a genialidade de Patrick Vieira, de Iniesta e Xavi, de Frank Lampard, Pirlo entre muitos outros.

No Sporting actual e com a braçadeira de capitão está um dos melhores médios da história do futebol português e do clube, que roubou o coração dos adeptos desde muito cedo pelo seu sportinguismo e pelo facto de estar há mais de uma década de verde e branco. E depois das traumáticas saídas de dois dos seus companheiros mais adorados por avolumadas somas de dinheiro, William Carvalho viu-se privado dos seus habituais parceiros e os sportinguistas sem algumas das suas maiores referências na recuperação desportiva do clube.

Mas nos grandes clubes os grandes jogadores devem merecer substituto à altura e foi assim que sem grande alarido, sem negociações nos jornais e de forma mais ou menos inesperada chegou a Lisboa o Bruno Fernandes.

É verdade que desde cedo nos conquistou, com a sua visão de jogo, com a sua técnica, a sua apetência para as bolas paradas e para os golos fora de série. Mas também pela sua atitude de guerreiro e pela forma como se dá ao jogo. É fácil gostar de Bruno Fernandes quando, como eu, os jogadores que mais facilmente se admira são os que mais influenciam o resultado.

Hoje, a equipa do Sporting sofre de um previsível cansaço acumulado, enfrenta uma onda de lesões preocupante, está privada de alguns dos seus maiores craques e lida ainda com as consequências de não os ter rodado devidamente (promovendo um autêntico eclipse dos seus habituais substitutos). Mas esta é igualmente a fase em que mais teremos de admirar Bruno Fernandes. A forma como transita de posição em posição a cada jogo, como mantém a sua noção táctica impecavelmente ligada (mesmo tendo em conta o cansaço) como se dá a cada partida e como parece estar em todo o lado, ao mesmo tempo, e com tantas funções em campo.

Bruno Fernandes prova nesta fase menos inspirada do Sporting que tem tudo para vingar em qualquer grande clube, porque a sua performance não está nunca ligada ao momento colectivo da equipa, porque não depende de outros para cumprir as suas funções, porque não deixa qualquer detalhe ao acaso mesmo tendo em conta o apagão geral.

Se dúvidas existiam há uns meses sobre a sua presença na Rússia, muito graças à competente concorrência que existe no nosso país para a zona intermédia do terreno, Bruno conquistou claramente um lugar nos eleitos de Fernando Santos, muito graças ao facto de conseguir actuar na posição 8, 10, na ala direita e como segundo avançado. Para além disso, será muito interessante perceber até que ponto se conseguirá trabalhar uma linha composta por Bruno Fernandes, João Mário e Bernardo Silva, três tecnicistas que (na minha opinião) se conseguiriam complementar muito bem.

Em suma, tem sido um prazer assistir ao crescimento do nosso camisola 8 de verde e branco. Não tenho dúvidas que a sua qualidade e ambição são compatíveis com a grandeza do clube, que tudo fará para nos ver a todos felizes em Maio e que cedo se tornará um ídolo da bancada. A genialidade do mágico está na sua subtileza.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa