Da revolta por mais uma arbitragem repleta de erros graves à felicidade de uma vitória justíssima, passando pelo desespero de ver desperdiçar uma mão cheia de golos feitos, pela estreia de mais um jovem formado na Academia e pela confirmação da classe de um guarda-redes, muito há para contar sobre o jogo que manteve o Sporting bem vivo na luta pelo título

willrafa

Quando olhas para o onze escolhido, ficas com a certeza que é uma equipa totalmente de ataque. Até a colocação de Bruno César no lugar do castigado Coentrão, é um sinal daquilo que tem que ser feito desde o primeiro minuto: procurar a vitória.

E a equipa não espera, envolvendo o Feirense num carrossel onde as posições não são tão fixas assim, com Bruno Fernandes a ter liberdade para deambular por todo o campo, com Gelson a trocar várias vezes de ala com Bryan Ruiz, com Montero a recordar-nos que a inteligência é um dos seus fortes e a criar diversos lances de perigo através da fora como desmarcava os companheiros. Bastaram sete minutos para o golo rondar a baliza Feirense, com um livre de Mathieu a oferecer a Secco a sua primeira defesa da noite, a que se seguiu outra em resposta à recarga de Bruno César.

Cinco minutos volvidos, Doumbia tem o seu primeiro grande falhanço da noite: lançado em velocidade, tira o guarda-redes da frente e em vez de atirar para a baliza tenta meter para o meio da área, em Montero, num momento de altruísmo que nem Bas Dost teria. E, logo a seguir, Bryan Ruiz olha uma, olha duas, não vê linha de passe e decide-se por um remate em folha seca ao poste mais distante, proporcionando uma grande defesa.

Tantas vezes a bola lá foi que acabou por entrar. Belíssimo passe de Montero para a corrida de Doumbia e o costa marfinense a ter momento de classe tirando o defesa da frente e metendo a bola redondinha lá dentro. Jesus ensaiava um “aleluia” no banco, Doumbia festejava sacudindo o mau olhado, mas nenhum deles contava com a vergonhosa indicação do VAR de uma falta de Bruno Fernandes. Não está em causa a falta, mas sim uma grave falha técnica, tanto do VAR como do árbitro, na análise: depois disso, o Feirense ficou com a bola, jogou a bola e voltou a perdê-la de forma limpa; e é esta recuperação de Bryan Ruiz que conta como início da jogada de um golo limpo e roubado à descarada.

O Sporting continuou a carregar e Montero vê a sua cabeçada embater numa qualquer zona do corpo do redes como se fosse um jogo de andebol. Já que o registo era esse, Tiago Silva corta ostensivamente a bola com o braço dentro da área, num lance que toda a trupe de arbitragem deixa passar em claro. E o arroz não se queimou definitivamente porque, na sequência desse penalti claro por marcar, Rui Patrício tem uma fantástica estirada a evitar o golo em contra-ataque.

Tudo em brasa em Alvalade e de mãos na cabeça quando Montero desmarca William e este mete a bola a percorrer toda a frente de baliza, onde Doumbia não consegue desviar em cima da linha. Mathieu voltava a tentar de livre directo e Montero partia para um remate que dava penalti, mas que não deu em nada. Decisão acertada dos homens do apito, pois a bola bateu na cara e não na mão do defesa. E se o desespero era grande, tomou proporções épicas quando Bryan Ruiz, à entrada da pequena área e após cruzamento de Gelson, cabeceia por cima quando só tinha que escolher para onde meter a bola (imaginem, agora, se na jogada seguinte, mesmo antes do apito para o intervalo, a cabeçada de um tal Luís Machado tivesse dado golo aos visitantes…).

A toada manteve-se no recomeço e Secco voltou a brilhar após boa cabeçada de Doumbia. Na recarga, Montero atira para fora. Rafael Leão salta do banco para o lugar de Bryan Ruiz e logo no primeiro lance obriga o redes a defesa apertada; volta a ganhar a bola e cruza para Gelson marcar, mas o extremo estava em fora de jogo. Logo a seguir, Doumbia rouba a bola a um defesa, avança em direcção ao redes e tem um remate inacreditavelmente mau para fora (e ainda tinha Montero, Gelson e Bruno Fernandes soltos, à espera da bola). Do outro lado, Rui Patrício mostrava o porquê de ser um dos melhores do mundo, desviando para o poste um fortíssimo remate cruzado.

A partida entrava nos quinze minutos finais, Lumor estreava-se na canhota da defesa com um cruzamento prometedor e William colocava a cereja no topo de uma bela exibição ao marcar o golo que desbloqueava o jogo: na sequência de um canto, a bola bate na cara de Coates e fica a pedir que alguém lhe dê carinho; William é mais rápido que todos e atira-a para o fundo das redes!

Battaglia vem reforçar o meio-campo no lugar de Doumbia, o Sporting perde o controlo do jogo durante cinco minutos e deixa os nortenhos acercarem-se da sua área. Gelson, o homem elástico, volta a esticar a partida até à área contrária e fez questão de colocar-lhe um ponto final: primeiro, assiste Montero para o 2-0; depois assiste Bruno Fernandes para este falhar o 3-0 na cara do guarda-redes.

Falhada a goleada, o Sporting e os seus adeptos sorriem perante a conquista de mais três pontos, mas, mais do que isso, ficam com a certeza de que o campeonato entrou na fase decisiva. A diferença das actuações dos árbitros, incluindo VAR, nas partidas dos três candidatos ao titulo, sublinham isso mesmo e não deixam outro caminho aos Leões que não seja serem capazes de entrar em campo embalados por uma voz que lhes canta I will not be broken, I won’t be turned away, When it’s too cold to breathe, And too dark to pray, I will not be broken!