É por demais evidente o que Luis Filipe Vieira queria dizer com a fanfarrona tirada “estamos 10 anos à frente da concorrência”. Se olharmos a cada indício, a cada e-mail, a cada “menino querido” posicionado dentro dos centros de decisão desportivo e judicial, ao envolvimento político e à malha de alimento quer de clubes terceiros, quer de agentes que os possam influenciar, se olharmos a todo este “polvo” de aliciamento e compadrio, entendemos que serão precisos provavelmente 10 anos para entender a extensão e o enraizamento destes comportamentos e o mesmo intervalo de tempo para o incriminar e punir.

A frase, apesar da sua hipócrita noção de mérito próprio, é infelizmente…verdadeira. Mas à parte do que não podemos (nem devemos querer) controlar, somos e de que maneira, parte interessada na resolução deste imenso escândalo, porque competimos pelos mesmos objectivos e devemos exigir fazê-lo em igualdade de circunstâncias. Esta exigência parece um dado adquirido, mas não é. Apesar de nos ser transmitido por inúmeros sábios da coisa que a FPF, Liga, IPDJ, Secretaria de Estado do Deporto e entidades afins, espero uma decisão nas instâncias cíveis para fazerem actuar a justiça desportiva, não ouvi nem li as próprias a manifestarem esta ou qualquer posição sobre o problema. Esta atitude de silêncio e passividade total, mais do que alarme, causa-me nojo.

Primeiro porque é estrondosamente evidente que há matéria de causa para colocar muitas áreas de funcionamento da Liga e FPF sobre suspeita e quiça até ação disciplinar. Segundo, porque todos os implicados e hiperbolicamente suspeitos de infringir regras de equidade, continuam a manter os cargos, o poder e a influencia que detinham. Numa analogia simples, é como detectar uma fuga de gás lá em casa e continuar a ligar todos os aparelhos na esperança e inconsciência que nada aconteça até que chegue a equipa de reparação. Não é um método eficaz e a calma revelada pode muito bem ser completamente artificial. Porque ninguém age? Porque ninguém comunica que não age e as razões que levam a essa opção? Qual é o medo de tornar transparente o que pensam a FPF e Liga sobre tudo isto?

Outra treta que já ouvi é, nada acontecer publicamente para não perturbar o desenrolar das competições. WTF? Então, mas não seria conseguido o efeito precisamente contrário? Não daria mais confiança a todos os competidores, entender que estão a ser aplicados e cumpridos todos os expedientes para estancar e aniquilar todos os esquemas anti-desportivos, mais que não seja, dentro das próprias instituições que devem proteger o futebol português? Isto não é muito mais razoável que o tabu que se instalou? Desde quando a verdade deve ser omitida para que não “afecte” a verdade desportiva? Isto é absurdo, visto por qualquer dos ângulos que se queira ver. É apenas, na minha opinião, incapacidade e falta de vontade. Total.

O Sporting e todos os outros clubes podem então estar confiantes do quê? Podem e devem esperar o quê exactamente na defesa e proteção dos seus legítimos direitos à igualdade de tratamento na disciplina, arbitragem, justiça e controlo de dopping no futebol? Devemos esperar e até quando, com que raio de transparência no decorrer destes processos? Até que ponto estamos a ser respeitadores das instituições ou a ser demasiado ingénuos neste pacto de silêncios?

Acabo este texto com a lembrança que tenho de um filme, onde uma personagem interroga uma outra sobre o que sente ao ser completamente destruído pela exposição da sua vida privada num caso de tribunal. A vítima responde-lhe da seguinte forma: “…com o tribunal posso eu bem, seja qual for a pena. O que me arrasa é a condenação pública, pois essa não espera por resposta nem haverá alguma vez forma de a impedir.” Olho para a nossa imprensa e para as (não) posições de Liga e FPF e vejo exactamente o que tentam evitar. Fariam o mesmo caso o fosse o Sporting? E chegámos a isto, onde os direitos dos agressores prevalecem sobre os direitos das vítimas?

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca