Foste campeão no Porto?
Sempre. Aquilo era cá uma corrupção.

Hein?
Já se sabia quem era o árbitro e era campeão nacional antes dos jogos. Os árbitros diziam-me mesmo ‘olhas, atiras-te para o chão e é penálti’. Já entrávamos a ganhar, até na moeda ao ar.

Ai eras o capitão?
Fui capitão até aos juniores.

Mas ainda não havia Dragão Caixa, pois não?
Nãããão, fui fazer a inauguração do Dragão Caixa pelo Benfica. Chegámos ao balneário a 90 minutos do início do jogo e estávamos preparados para aquecer quando um segurança disse-nos ‘olhe, é melhor vocês não irem aquecer, que isto hoje é o dia da inauguração e está cheio; se vocês vão para ali de sapatilhas, começam-vos a cuspir e ainda não está aqui a polícia’.

Uyyyyy.
Ficámos 90 minutos dentro do balneário a olhar para ontem. Sabes o que aconteceu? Não estava nada cheio. O pavilhão só abriu as portas a dez minutos do início do jogo. Entrámos em campo e nem tirámos os patins do chão. Apanhámos 5-0. G’anda pavilhão.

E como é que era aqui em Lisboa?
Olha, Paço d’Arcos.

Então?
Entrávamos no pavilhão J Pimenta, ao lado da praia, e lia-se ‘Paço d’Arcos, o Inferno dos Tripeiros’. Os anos 90 foram pródigos em vandalismo. Era o tempo em que o Porto superiorizava-se ao Benfica em tudo. Futebol, hóquei, basquetebol, andebol, caricas. Tudo. O Porto ganhava tudo e comprava tudo. Havia coisas no futebol. O Zé Carlos era um defesa central que pisava toda a gente. E o Fernando Couto aprendeu com ele.

Carlitos, ex-jogador de hóquei em patins, capitão do Porto, joga no Benfica e acaba a carreira com a conquista da Taça CERS pelo Sporting, em entrevista ao Observador