Hoje celebra-se o Dia Internacional da Mulher e pelo mundo recordam-se as grandes heroínas que lutaram pela liberdade, igualdade e valorização do papel da mulher na nossa sociedade. Muitos foram os rostos e os nomes que deram força a uma luta que está longe de estar concluída, mas cujo suor e esforço permitiram que alguém como eu possa estar aqui, a escrever-vos todas as semanas. Permitiram que a minha voz seja ouvida em eleições livres, que escolha a minha carreira, que possa viajar, que ganhe o meu próprio dinheiro e que faça as minhas próprias escolhas em relação ao meu corpo.

Adorava dizer-vos que a luta ficou por aqui, que está acabada. Mas a realidade é que à mulher ainda é atribuído um papel secundário, num país em ainda ganham menos 18% que os homens (o equivalente a 79 dias sem receber), que mais de 90% das vítimas de crimes sexuais são mulheres, que 81% dos casos de abuso a menores são mulheres. Num país onde 2 a cada 6 mulheres são importunadas sexualmente e onde o ano passado morreram 26 mulheres, vítimas de violência doméstica. Dados que hoje, mais que nunca, nos devem fazer pensar que pequenas acções poderemos fazer para melhoras a vida das nossas parceiras, das nossas filhas, das nossas mães e das netas que virão.

Como o que nos une aqui é o desporto e o quanto nos dedicamos a um símbolo (independentemente do género, sexualidade ou escalão social) decidi hoje trazer-vos a história de algumas das mais marcantes mulheres, que mudaram o futuro de tantas outras, pelo que conseguiram nesta realidade profundamente desigual a que chamamos alta competição.

A título de exemplo, Cristiano Ronaldo ganhou em 2017, 83 milhões de euros. Alex Morgan, a futebolista mais bem paga do mundo, 2,8 milhões. Roger Federer acumulou 64 milhões de euros, Serena Williams 27 milhões (e no ténis a maioria dos prémios de vitória são iguais para todos, mas na publicidade muito diferentes). Por fim, LeBron James ganhou 29 milhões de euros e Diana Taurasi 1,4 milhões. Factos que demonstram bem o longo caminho a percorrer.

Nesse espírito de igualdade, conheçam alguns nomes que mudaram a história:

– Stamati Revithi: em 1986 organizaram-se os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna. Nenhuma mulher podia participar, mas a grega Stamati Revithi teve a melhor forma de protesto possível. Correu ao lado dos atletas que participavam na maratona e concluiu a mesma em 4h30. Acabou à frente de muitos homens, mas nunca foi reconhecida como participante.

– Charlotte Cooper: Em 1900 as mulheres tiveram permissão para participar em dois desportos nos Jogos Olímpicos, o ténis e o golfe. Cooper fez história ao ser a primeira mulher tenista a vencer o ouro na prova.

– Alice Melliat: Cansada do papel secundário das mulheres no desporto, a francesa fundou a FEFI, que regulava o desporto feminino. Organizou os Jogos Olímpicos Femininos nos anos de 1922, 1926, 1930 e 1934 até que, nos Jogos de Berlim de 1936, as mulheres foram consideradas atletas olímpicas.

– Maria Lenk: com apenas 17 anos, a brasileira foi a primeira sul-americana a participar numa Olímpiada, em 1932.

– Nadia Comaneci: Em Montreal, 1976, a atleta de apenas 14 anos foi a primeira ginasta da história a conseguir uma nota 10 nos Jogos Olímpicos.

– Steffi Graff: A tenista alemã conseguiu 22 títulos em Grand Slams, entre os anos de 1987 e 1999. Para muitos, é a melhor tenista da história e o seu recorde permanece intacto: 377 semanas em primeiro lugar do ranking.

– Danica Patrick: A maior referência do automobilismo para o sexo feminino teve o culminar da sua carreira em 2008, quando se tornou na primeira mulher a vencer uma corrida pela IndyCar.

– Jeanine Longo: A ciclista francesa conquistou 13 vezes o título mundial e quebrou 38 recordes em toda a sua carreira.

– Katie Ledercky: Com apenas 19 anos conseguiu 4 medalhas de outo e 1 de prata, tornando-se na mulher mais titulada dos jogos. Mas a verdadeira notícia é que Katie, que muitas vezes treina com homens e os destrói, é uma das mais completas nadadoras da história e vai continuar no pódio por muito tempo.

– Marta: Para muitos uma das melhores futebolistas da história, venceu cinco vezes consecutivas o prémio de “Melhor do Mundo” e é também a melhor marcadora da história do Mundial.

– Rosa Mota: Em 1988, em Seoul, Rosa Mota tornava-se na primeira mulher portuguesa a vencer a mais mítica prova do mundo: a maratona dos Jogos Olímpicos.

– Cláudia Neto: Possivelmente uma das melhores futebolistas nascidas neste país, foi a primeira capitã a levar a sua equipa ao Europeu de futebol feminino.

– Simone Biles: Deixei para o final de forma propositada. Infelizmente, uma das ginastas mais promissoras do mundo (que no Rio arrancou 5 medalhas) foi uma das vítimas de Larry Nassar, médico da seleção que durante anos molestou ginastas americanas. O caso demonstra tudo aquilo temos de combater: o fim do silêncio de mulheres que são violentadas na sua vida privada. Que Simone tenha a carreira que todos projectam para si!

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa