O Xandão tinha levantado o estádio de Alvalade na semana anterior num misto de euforia desmedida, choque completo, surpresa total e raiva contida. Um dos piores anos da nossa história estará sempre ligado aquele momento em que o brasileiro (Xandeus para os amigos) se virou de costas para Joe Hart e fez rebentar um estádio à pinha, num dos melhores ambientes que me lembro. O mais complicado estava feito, mas na semana seguinte sabíamos que iríamos enfrentar o clube favorito à conquista da Premier League, no seu estádio, mais avisados daquilo que conseguíamos fazer. Na nossa cabeça ecoavam as palavras de Ribeiro Cristovão “só peço que o Sporting não envergonhe o futebol português”. Depois as de Dzeko “não conheço nenhum jogador do plantel”. E os nossos bravos rapazes, comandados pelo enorme sportinguista, pareciam já ter feito o impossível numa eliminatória que já estava perdida desde o sorteio.

30 minutos em Manchester. Falta mesmo ao jeito de Matigol. Na televisão só se ouviam os milhares de sportinguistas que pintavam as bancadas de um estádio desprovido de emoção, de calor e de música. Matias avança:

Poucos minutos depois, Izma encontra um buraco para desmarcar Ricky Van Wolkswinkel. 2-0 e completo choque nas bancadas do Ethiad. A equipa rival acordou, quase que a tempo de nos arrancar o sonho.

Primeiro foi Aguero, por volta dos 60 minutos. E em Portugal um suor frio, por sabermos o potencial ofensivo daquela equipa. Depois foi Balotelli, de penalty, depois de uma falta de um recém entrado Renato Neto. Aos 82’ Aguero marcou outra vez. Só lhes faltava um golo e tinham todo o armamento em campo. Pereirinha arrastava um braço partido, Carriço era uma espécie de lateral direito. Tivemos de perder tempo, de estar pelo chão, de defender com tudo o que tínhamos, com uma dupla de centrais composta por Polga e Xandão (assustador).

Depois o momento da noite, mesmo a acabar. Rui Patrício defende um cabeceamento de Joe Hart, que daria golo. O Sporting tinha passado.

Foi épico. Foi impossível. Foi lindo. Porque os jogos europeus têm essa componente de conquista algo mais do que medalhas, de um orgulho que devemos mostrar ao mundo, de uma emoção de saber que todos os golos são essenciais, que todos querem deitar tudo e não existem jogos fáceis. O nervoso miudinho de saber que não existem outras oportunidades, nem contas possíveis, nem o esperar que alguém escorregue.

Jogos europeus como aquele, elevam jogadores banais a craques, adeptos calmos à loucura e símbolos pequenos ao reconhecimento. E por isso é que Alvalade se veste sempre de gala para estes momentos, por isso é que o ambiente é especial e a euforia mais descontrolada. Por termos vividos momentos destes, por sabermos que o impossível é possível, pela esperança que de um dia levantemos um destes troféus.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa