Jogar pouco ou nada. Falhar todas as oportunidades de golo com a baliza aberta. Sentir a vertigem da eliminação às mãos de uns mancos, que jogam quase sempre de pontapé para a frente num relvado miserável. Celebrar o golo do gajo que mais o mereceu e a passagem aos quartos de final da Liga Europa

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Assistir aos jogos do Sporting é um verdadeiro acto de coragem. Um gajo termina a partida mais cansado do que o Dominguez, depois de fazer dez piões em volta de si mesmo antes de regressar para trás sem centrar, e mais dorido do que se estivesse a ser marcado, homem a homem, pelo Valtinho. No final, damos por nós a sorrir como se fossemos um Afonso Martins, no único momento de glória que um Afonso Martins teve ao longo de toda a carreira (e se não te recordas foi porque não te esbardalhaste a correr degraus abaixo, rumo à rede, no velhinho Alvalade).

Tudo isto para dizer-vos que o Sporting fez um jogo miserável. Pior, a fazer um jogo miserável, foi capaz de falhar dois golos de baliza ABERTA e um penalti aos 91 minutos! Pior, um penalti que não existiu, mas, diga-se em abono da verdade, dois minutos antes há um penalti claríssimo sobre Bas Dost que, para não variar, escapou à visão daquele árbitro que passa o tempo em posição de defecar junto à linha de fundo. Ah, e o primeiro golo dos checos (sim, levámos mais do que um golo destes mancos) nasce de um fora de jogo que teria sido visto pelo VAR.

Mas não há VAR e também não havia quem quer que fosse a marcar um tal de Bakos, veterano ponta de lança que surgiu no lugar do muito falado Krmencik, um gigante que só se fez notar quando atropelou Mathieu e deixou o francês com uma pata de pitons tatuada no abdominal. Sexy! Mas só isso, que tudo o resto foi feio. Muito feito. Não acreditas?

O relvado era uma merda. O ambiente parecia saído de um filme militar dos anos 80. O Petrovic (sim, o PE-TRO-VIC) estava em campo, talvez por ter pinta de militar, mas o que o JJ continua sem perceber é que este é daqueles militares que, na recruta, está sempre a encher flexões porque não consegue completar os exercícios e não há quem perceba porque raio é que o Palhinha, também ele com cabelo à escovinha e sempre à frente do seu pelotão, fica no banco a ler o guião. O André Pinto contorcia-se com guinadas de uma lesão que parece tudo menos tratada. O Battaglia era obrigado a jogar a defesa direito. O Coentrão só acordaria perto dos 90 minutos. O Bruno Fernandes mostrava ao mundo que não está habituado a descansar um jogo e regressava em modo não consigo fazer um passe a cinco metros.

Vou parar, pois acho que já deu para perceberes. E, recordo-te: levámos um golo aos 6 minutos e os mancos acreditaram que era possível fazer história. Mas esta história tem outro lado: mesmo jogando mal, mal, mal (ou pouquinho, se quisermos ser simpáticos), chegamos ao minuto 39′ e vemos o Bryan Ruiz sozinho, na marca de penalti, com a bola a saltitar à sua frente e a dizer-lhe “é agora, Bryan, faz-me um golo!”. E o Bryan quis fazer-lhe a vontade, mas foi com tanta sede ao pote que lhe deu à bruta e coitada saiu disparada sem uma rede que a amparasse.

Mas bola que é bola, não desiste. Foi ter com o Bruno Fernandes, rapazinho que até as trata bem, e ele tentou fazê-la feliz de fora da área. O Ales Hruska defendeu-a para a frente e aparece o Acuña, so-zi-nho, pronto a resolver as coisas à macho latino: pimba, remate ao poste, e recarga, a um metro da felicidade, a passar por cima da baliza. E digo-te mais: esta história de rejeição de que a bola foi vítima ainda incluiu o Bas Dost, aos 91 minutos, a falhar um penalti marcado sem convicção e com extremo cansaço e, pobre bola, um segundo golo dos mancos checos que aproveitaram uma bucarada na nossa defesa maior do que as buracadas do relvado para empatar o raio da eliminatória.

E era esta a nossa vida, entre as memórias de um Miguel Garcia e o receio de ser eliminado por uns gajos que até podem ser pentelho-estratosférico campeões da Checoslováquia, mas que ficariam felizes em jogar para o meio da tabela no nosso campeonato. Nos entretanto, o Bryan volta a falhar um golo feito, agora de cabeça e, abram bem esses tímpanos, a maior dose de energia vinha do Montero e do Rúben Ribeiro (chupem, haters!). Mas nenhum capaz de correr mais do que o Battaglia, porque se isto é para brincar aos filmes militares dos anos 80 o argentino tem toda a pinta para ser protagonista. No meio de tanta coisa feia, ele foi lá acima, nos 30 minutos de tempo extra dados só para permitir ao Sporting marcar novamente nos descontos, e deu com a cabecinha na ansiosa menina bola, carimbando uma passagem que Rui Patrício confirmaria com uma defesa digna de fotografia.

Moral da história? Hoje estaremos no sorteio dos quartos da Liga Europa, depois dos adeptos leoninos terem perdido mais uma mão cheia de anos de vida em 120 minutos. Voltámos a jogar pouco ou nada e a ganhar. E, domingo, voltaremos a apoiar estes gajos com aquele optimismo que só um Sportinguista consegue ter quando anda, há meses, a atravessar jogos onde parece que estamos sempre perto de deitar tudo a perder e onde sentimos a constant fear that something’s always near…