Geraldes, vive no futuro! Poucos são os jogadores que já viram o jogo que estão a jogar e Chico pertence a um restrito lote de magos que imagina tudo segundos antes de a bola lhe chegar aos pés. Faz lembrar o professor da mediática série “Casa de Papel” tem tudo pensado na sua cabeça, conhece o jogo até ao mais ínfimo pormenor. Com pequenos toques, com pequenas coreografias, desvia adversários e contorna adversidades.

Por pensar á frente de todos os que estão a jogar o mesmo jogo, por vezes perde o que nos parece ser o que lhe falta para poder dar o salto e fixar-se no topo! Concentração e consistência.

Geraldes tem uma quantidade enorme de perdas de bola por jogo. Perto da baliza adversária onde saca coelhos da cartola onde pode expor todos os seus recursos e o maior risco compensa, pois é aí que vê o que mais ninguém vê, as perdas são quase sempre garantidas pela equipa, pelo espaço e distancia para a sua baliza, mas são imensas.

Mais grave é onde e quando não as pode perder! Na zona de construção, na zona onde toda a equipa espera que ninguém perca a posse, onde Chico devia ser um segurança e não um mágico que acaba ter não encontrar o coelho na cartola. A quantidade de perdas em zonas proibidas e que expõe a equipa ao risco, podem ser com toda a certeza algumas das poucas razões que fazem de Chico um jogador pouco apetecível para Jorge Jesus e para qualquer equipa grande.

Toda a equipa tem de estar alerta e pronta a fazer piscinas, pois há uma enorme probabilidade de isso acontecer, a perda. Muitos lances maravilhosos de Geraldes são em zona de construção, arranja espaço onde nenhum outro o conseguiria de forma mais brilhante, mas esse arrojo, essa diferença que o potencia para o altar dos artistas, não pode ser tantas e tantas vezes feita de forma a expor a equipa. É agradável, e quando corre bem levanta o adepto da cadeira, mas quando corre mal… compensará o risco?

A forma como quer jogar o jogo, fazem de Geraldes um abre latas de equipa grande, o jogador que sai do banco para num passe de magia ou num toque de arte resolver um jogo! O risco de o ter em campo mais de umas dezenas de minutos numa equipa grande, onde o assumir o jogo e ter bola implica uma equipa exposta e aberta que tem de reagir rápido ás perdas que se esperam pouco frequentes, colocam Chico fora das opções de qualquer dos quatro maiores em Portugal, e alguém que no próprio Rio Ave não consegue ser incisivo o suficiente para jogar a “full time”.

Se Geraldes conseguir dosear o artístico com o prático, num futebol que ser quer atractivo, mas que neste momento é rendimento, poderá ainda ir a tempo, se não o conseguir não passará de um magnifico jogador de momentos e o eterno incompreendido. O potencial está todo lá, mas o número de acções positivas por jogo tem de crescer bastante. A diferença de performance entre Francisco e Rúben Ribeiro, enquanto coabitaram juntos serviu para perceber a longa distância que vai do rendimento ao potencial.

texto escrito no site Lateral Esquerdo