Parece impossível mas é mesmo verdade. Em pleno momento de preparação da equipa nacional para a competição mais importante do mundo desportivo, a nossa praça pública (que deveria estar a discutir o bigode do Mário Rui ou a falta de forma assustadora do Adrien) viu-se forçada a escolher lados da barricada em torno da compra de… Rodrigo Battaglia.

O truque não é novo e muito menos surpreende. Nem sequer chega a incomodar o facto de todos os jornais desportivos terem tido conhecimento no mesmo dia sobre uma situação que envolvia dois clubes que se defrontam no fim-de-semana. Nem estranhamos que o culminar da campanha levada a cabo pelo jornal O Jogo tenha sido o de apontar dívidas leoninas, sabendo todos nós a grave situação financeira que ultrapassa o clube afecto ao dito jornal, e que este ano já chegou ao ridículo de afirmar que o “milagre da Champions” teria salvo o Porto.

O que surpreende em toda esta história, que jamais poderia ter sido alimentada pela direção leonina como foi, é que não envolve históricos rivais, nem clubes com um passado propriamente mau no que toca a negociações, mas sim clubes com objetivos manifestamente diferentes que não sairão das suas posições aconteça o que acontecer no sábado.

O que motiva António Salvador a comprar uma guerra com um dos emblemas que estrategicamente mais poderá alimentar os cofres minhotos, só ele poderá responder. O que motiva o Braga a reclamar uma dívida aparentemente antiga numa semana como esta, achando que conseguirá minar um plantel espalhado pelos quatro cantos do mundo e que está mais interessado nos cozinhados de Battaglia do que no seu valor há 7 meses, é a pura ingenuidade e inocência de considerar que também eles devem fazer parte da agenda mediática, pelos piores motivos.

Nos últimos anos (e neste ano em particular) o SC Braga tem aumentado os seus índices competitivos muito graças a jogadores sem espaço nos apelidados “três grandes”, que ali encontram condições de lutar pela titularidade. Apenas esta temporada, Abel recebeu Jefferson, Esgaio, André Horta e João Carlos Teixeira. Nos seus quadros estão atletas como Wilson Eduardo e Fábio Martins, também eles resgatados por não encontrarem minutos nos maiores emblemas. Existem poucos motivos que me façam compreender qual o raciocínio que levaria um clube a abdicar de boas relações que existem, estando até a negociar um jogador neste preciso momento.
Se é a esperança de chegar ao terceiro lugar, deixando o Sporting num humilhante quarto posto, não só é algo infundada como pouco provável de se concretizar. Se é o desespero por afastar definitivamente os leões da luta, em plena Pedreira, revela mais uma vez a fraca identidade de um clube que até já celebrou golos rivais no seu estádio. Se era o desespero pelo dinheiro, certamente que organismos como a UEFA ou a FIFA terão muito mais poder sobre o devedor do que os jornais O Jogo, Record ou a Bola.

As motivações que levaram o Braga a uma campanha mediática de nível tão baixo, só o próprio clube poderá saber. Da minha parte, espero sempre que o Sporting cumpra os compromissos que acordou, a tempo e horas e sem qualquer espécie de barulho. Se não o fez merece obviamente ser punido, mas poucos são os emblemas portugueses sem atrasos nas contas e ainda menos são os que merecem este tipo de atenção negativa. Portugal acordou esta semana para a gravidade de não pagar dívidas, facto louvável que espero agora ver replicado por todos os clubes da Primeira Liga, para todas as áreas da nossa sociedade e para todas as contas. Mesmo aquelas que são 600 vezes superiores a esta.

Da nossa parte, é fazer aquilo que nos compete dentro das quatro linhas. Vencer um equipa inferior à nossa, mostrar qualidade e trazer os três pontos com um golo de Battaglia.

Este ano já fomos muito felizes em Braga, conquistando o primeiro troféu da temporada desportiva. Tanaka, Ricky, Slimani e Bas Dost já nos fizeram gritar de alegria nos últimos minutos. É transformar esta energia tão positiva em muitos, muitos golos.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa