Muitos de nós, meros consumidores de informação e logo de meios noticiosos, somos leigos na capacidade de interpretar o que é a comunicação como mercado, como ciência e como prática profissional. Eu desde já me confesso apenas um curioso na matéria e embora comunique todos os dias e produza opinião, sei que sou apenas um amador quer na prática quer na teoria deste universo que está a atravessar uma das suas maiores mutações de sempre.

Mas há um dado que tem de ser entendido por todos nós espectadores e sendo sportinguistas acentua-se a importância dessa compreensão. Falo-vos dessa coisa chamada “trend”. O vocábulo traduz-se na nossa língua como “moda” ou “tendência”, mas a sua importância no que é hoje a comunicação social vai muito para além do que o significado dessas palavras implica.

As redações dos órgãos de comunicação social de hoje em dia, e em Portugal este quadro é particularmente grave, são na sua esmagadora maioria compostas por poucos jornalistas experientes, muitos freelancers, profissionais a meio tempo e demasiados estagiários com vínculos completamente precários. Produz-se muito pouco conteúdo próprio e quase tudo advém do uso e abuso dos feeds das agências noticiosas ou da clonagem em massa do que é considerado “relevante” em cada dia, hora ou minuto.

Quem mede a relevância? Neste momento arrisco a dizer que são as redes sociais, pois detêm ferramentas de interação ao segundo, que permitem avaliar o que as pessoas estão a consumir mais intensamente em tempo real. Se o tema tem procura, então os meios vão dar a oferta. É isto uma trend noticiosa. Dar ao consumidor as notícias que todos os outros estão a consumir, presumindo que somos todos iguais, presumindo que queremos ler o que todos os outros acham interessante. Não preciso de vos explicar a distorção que isto produz na essência da função jornalística, nem de vos ilustrar as consequências a longo prazo desta lógica de consumo da verdade. Basta olhar para fenómenos como a eleição de Trump ou o referendo do Brexit, para que todos compreendamos o canal estreito e torto para onde nos estamos a enfiar como estruturas pensantes, críticas e suportes de democracias.

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O que isto tem de relação com o Sporting ou com o desporto? Tudo. Mesmo tudo. A parábola do mercado composto na sua maioria por benfiquistas, o nosso voyeurismo por tudo o que seja polémico ou controverso, a verdade que é mais castigada do que a mentira, a era do spin, da desinformação, das verdades alternativas, os factos à medida, a ténue independência do jornalismo, a notícia espetáculo ou notícia entretenimento, o controlo do mercado da mídia por parte de grandes grupos financeiros, tudo isto cria um “sopa” de problemas a quem não conseguir criar uma estratégia para diminuir obstáculos e maximizar as vantagens. O Sporting não conseguiu. Tem de conseguir. Como?

Mais uma vez, aviso que não sendo (nem de longe, nem de perto) expert na matéria, ainda assim arrisco dizer que a nossa predisposição em “bater com a cabeça” até à exaustão na crítica (justa diga-se) aos órgãos de comunicação tem feito zero de diferença na melhoria do espaço (e qualidade do mesmo) que temos nos jornais, rádios e tv. Retratam-nos mal, com especial foco sobre os nossos problemas, asneiras e dificuldades, apresentam demasiadas vezes uma caricatura nossa como real e o pouco tempo de antena que garantimos, desperdiçamo-lo no preenchimento ou tentativa de negar a própria caricatura.

Não sabendo como saltar ou contornar o muro, temos preferido furá-lo ou esperar que o muro ganhe consciência e saia da frente. Nenhuma das situações irá acontecer. E aqui, ou aceitamos que não podemos mudar a forma como o mundo funciona, sozinhos e de uma vez, jogando com as regras existentes ou iremos para sempre ser retratados como aquele parente demente, incómodo e problemático mais pelo inusitado e inapropriado do que pela sagacidade e espírito inovador.

O Sporting tem de definitivamente entender a “máquina” e querer ser “trend” pela positiva, melhorando a forma como apresenta as suas contestações e “guerras”, especialmente encontrando o tom, o volume, a voz e o timing apropriados para cada ocasião. Se o fizer, tenderemos a dificultar as cartilhas, a reunir mais simpatia à nossa volta, a limpar o ruído das polémicas que pairam sobre nós como nuvens e a expor verdadeiramente os Farinhas desta vida como os verdadeiros incendiários do futebol. Como em tudo na vida, a coragem e a razão não nos garantem nada se não tivermos a habilidade e o calculismo de a saber usar.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca