Épico, incrível, histórico. E sofrido, claro, como todas as vitórias do Sporting parecem ter que ser. 23 anos depois de Santana Lopes, então presidente do Sporting, ter colocado um ponto final no voleibol, e 24 anos depois do último campeonato conquistado pelos Leões nesta modalidade, a nação leonina reuniu-se no João Rocha para o jogo do tudo ou nada.

Com a final empatada a dois, o Sporting arrancou bem e controlou o primeiro set desde o início (apesar da desvantagem de um ponto no primeiro tempo técnico), acabando por vencer por 25-19 fruto de uma maior consistência no serviço e na defesa baixa. Mas se os adeptos leoninos acreditaram que estava dado o mote para uma caminhada tranquila rumo ao tão desejado título, enganaram-se: péssima entrada no segundo set e o Benfica a conseguir uma vantagem que jamais deixaria fugir ((3-8 no primeiro tempo técnico, 8-16 no segundo) e fechando o set com um parcial de 19-25 sem que os Leões conseguissem resolver os problemas na zona central.

Tudo em aberto para o terceiro set, com a grande interrogação de saber qual seria a equipa que ganharia uma importante vantagem. Ambas as equipas perceberam a importância deste set, como demonstra o 22-25 favorável aos encarnados que mostraram maior solidez e maior entrosamento, fruto de vários anos de trabalho em conjunto, aproveitando da melhor forma todos e quaisquer erros do Sporting para ficar com a final na mão. Mas, pese a importância da vitória neste set, a aposta de Hugo Silva em João Simões viria a revelar-se fundamental (até porque Agamez mal jogou por estar em inferioridade física). Não só trouxe uma nova dinâmica que os “nomes mais pesados” não estavam a conseguir imprimir, como foi uma das figuras de um quarto set avassalador por parte dos verde e brancos: os 5-1 do arranque levaram a equipa e o público para um sentimento de comunhão que fez o João Rocha levitar como uma velhinha Nave. A vantagem chegou várias vezes a ser de dez pontos (20-10, por exemplo, para um 25-17 final), com grandes momentos de ataque e com os benfiquistas sem saber o que fazer para responder, ao ponto do técnico José Jardim preferir poupar todos os elementos do seis inicial para a “negra” que decidiria o Campeonato.

Já eram poucos os que conseguiam estar sentados no João Rocha. Bruno de Carvalho descia da tribuna para junto da quadra, Frankis roía as unhas enquanto pensava no dérbi de domingo, Mathieu dava um banho de Sportinguismo a um puto que, a julgar pelas parecenças, deve ser seu filho. Jogava-se uma época em 15 pontos. E foi de loucos, ou não estivesse o Sporting a jogar.

Toma lá dá cá, com o Sporting a ganhar vantagem até aos 8-5 com o aproveitamento dos ataques benfiquistas que conduziam os remates para fora. Veio a estupidez da moeda que acertou na cabeça de Tiago Violas e que ninguém percebeu de onde veio e essa longa pausa quebrou o ímpeto leonino e o Benfica, melhorando o bloco, foi buscar o placard. Estava 13-13, João Simões lesionou-se, o Benfica passou para a frente e teve o título na mão, mas Dennis quebrou-lhes o match point, empatou a 14 e decidiu que o campeão seria a equipa que mais depressa chegasse à vantagem de dois pontos.

Já havia quem, exausto, se sentasse, já havia quem tivesse trocado o lugar pelas escadas, já havia quem não olhasse e a julgar pelos olhos esbugalhados já havia quem não respirasse quando Muagututia avançou para o serviço. O americano bate a bola bate na rede e cai para o outro lado, no momento estrelinha da final. Faltava um ponto, bola para cá, bola para lá, bola novamente para cá recuperada em esforço, bola para lá recuperada em esforço e tem que ser agora quando ela chega ao Dennis e ele lhe dá a sapatada que provoca a explosão de alegria, que faz o Presidente invadir a quadra e agarrar-se ao Maia e que faz os antigos pilotos da saudosa Nave abraçarem as centenas de young Jedi que vivem este clube como aquilo que ele é: um clube eclético, onde todas as modalidades merecem deixar-nos de sorriso rasgado e de lágrimas nos olhos!