Conhecido desde sempre pelo seu fantástico ecleticismo, o Sporting e os seus adeptos cresceram e foram-se formando a acompanhar as variadas formas de desporto, os vários atletas e as múltiplas conquistas que todos nos foram proporcinando. Não é coincidência que essa matriz tão presente no nosso ADN tenha sido responsável por dezenas de troféus europeus, apenas comparáveis com um par de clubes no Velho Continente, e faça do Sporting o clube mais bem sucedido na história do desporto em Portugal nas chamadas “modalidades amadoras”.

São muitos os leões que connosco vão partilhando o que se sentia na velha Nave, como viveram conquistas de homens como Joaquim Agostinho ou Carlos Lopes, o que sentiram quando o nosso hóquei limpava tudo, quando o nosso futsal se começou a erguer, como há 24 anos se celebrou a conquista do volei, repetida finalmente no passado dia 1 de Maio. E se o futebol dos últimos 30 anos se resume a uma dezena de boas histórias, as modalidades foram enchendo um museu faminto e alegrando brevemente os milhões que vibram com a verde e branca.

Todos sabemos do que se abdicou para alimentar uma SAD e uma equipa de futebol profissional que pouco conquistava. Ao longo dos tempos, pouco a pouco, as modalidades foram caindo, a Nave desapareceu e o velho Sporting que tanto tinha feito pelo desporto em Portugal estava reduzido a pouco, muito pouco. Aqui todos tivemos parte da culpa, porque consentimos, calámos, permitimos e fomos capazes de nos dividir mais por um treinador de futebol do que pela importância que as modalidades têm na realidade leonina.

Este Sporting tem um sonho, que sentimos desde a temporada passada que pode tornar-se realidade. Este Sporting quer ser campeão em todas as modalidades de pavilhão, no atletismo e no futebol (feminino e masculino) e quer fazê-lo tudo no mesmo ano, para assim escrever uma das páginas mais douradas do desporto português.

É inegável que, para sentirmos que esse sonho possa ser possível, o Clube teve de abrir os cordões à bolsa e artilhar as suas equipas dos melhores atletas, dos melhores profissionais e das melhores condições. Porque afinal, de que serviria o nosso maravilhoso pavilhão se não para ver vitórias? A Direcção pôs-se em marcha, deu o que podia dar e esperou que quem elegeu fosse capaz de nos levar às vitórias. Mais que isso, seria muito difícil de cumprir.

Hoje, o Sporting é campeão de Volei, está perto de conseguir o bicampeonato de Andebol, lidera a classificação do Hóquei em patins e Futsal, bem como o futebol feminino (que este ano pareceu passeio). O clube bate recordes de pontos, golos, atrai mais olhares e adeptos, para além de melhores profissionais. E, perante os factos, o que hoje se discute na ressaca de conquistas é o megalómano esforço que está a ser feito, os milhões ou milhares que foram gastos em vão, a diferença abismal (e mentirosa) de orçamentos que dizem existir e os mercenários (palavra usada na BTV) que foram contratados a peso de ouro.

Perdoem-me que vos chame hipócritas!

O Sporting investiu porque quer vencer tudo. O Sporting investiu porque quer lutar taco a taco com os dois brutais orçamentos que já existiam em Portugal. O Sporting tem o dever e a responsabilidade de lutar por troféus, trazer os melhores jogadores possíveis e os treinadores mais talentosos. O Sporting não vai falir para ser campeão em todas as modalidades de pavilhão, viver nessa realidade não é mais que um triste consolo encontrado por alguns para justificar a falta de antecipação de outros.

O Sporting tem um sonho, que infelizmente exige que outros percam o deles. Mas quer fazê-lo por si, para recordar os heróis da Nave, o sentimento de fins de semana preenchidos, o espírito que se foi perdendo neste mundo em que Clubes querem cada vez mais ser empresas e deixam pelo caminho tudo aquilo que não trouxer retorno imediato. O Sporting quer conquistas e como entidade desportiva tem toda a legitimidade para o tentar.

Sabemos quer era mais alegre quando se entregava o futsal e tudo o resto estava ali à mão se semear. Que a luta sem luta era mais divertida, motivava mais orgulho. Mas o Sporting reergueu-se, trabalhou e trouxe a festa do ecleticismo que regresso a um pavilhão só seu. Hoje, se nos quiserem vencer, têm de ser pelo menos tão competentes quanto nós. E isso vai muito
além do dinheiro.

O sonho está mais vivo que nunca. E a vossa hipocrisia vai fazer-me sorris cada vez mais em todas as conquistas que se avizinham!

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa